Desde que Israel deu início aos bombardeios na Faixa de Gaza não há um dia em que Mohamad Al Nahawi não fale com sua família. Até agora, seis primos seus foram mortos: “estamos acostumados. São 75 anos.”
“Agora que começou essa guerra mais feia lá, ligamos sempre para eles. Perdemos amigos também, um grande amigo do meu pai”, relata.
Com a filha Samira, de quatro anos, de cavalinho nos seus ombros, Mohamad conta que toda sua família é da cidade de Safad. “Minha família tem casa, terreno lá, desde antes de Israel chegar e querer criar seu Estado lá”, narra, se referindo ao ano de 1948.
Fugindo do genocídio, seus pais foram para a Síria. De lá, se refugiando de outra guerra, vieram para São Paulo, onde vivem há 10 anos. Equivale a um terço da vida de Mohamad, que ressalta: “meu sangue é palestino”.
Nesta quarta-feira (18/10), um dia depois do bombardeio do Hospital Al-Ahli Arab em Gaza, que deixou ao menos 500 mortos e causou uma onda de indignação pelo mundo, Mohamad foi com a filha a um ato de solidariedade à Palestina na Avenida Paulista. De acordo com a Defesa Civil Palestina, o ataque atribuído a Israel foi o mais mortífero das cinco guerras travadas desde 2008.
“Infelizmente a TV não mostra tudo, mas é muito triste, muito feio. Estão nos mandando os vídeos. Crianças morrendo, filhos sem pais, bairros inteiros destruídos”, descreve Nahawi.
Twitter/Fórum Latino Palestino
Manifestantes participam de ato em solidariedade ao povo palestino
Neto de palestino e com familiares que vivem na Cisjordânia, o brasileiro Abdo Carim se indigna ao dizer que uma falsa narrativa de uma guerra em curso esconde uma longa história de massacre colonial.
“As pessoas estão falando o que acontece lá como se conhecessem e todo mundo acredita. O que está acontecendo é um genocídio, é uma limpeza étnica. Quem tem contato, vê o que as pessoas lá dentro estão passando, tem certeza absoluta disso”, argumenta Carim.
Presidente do Fórum Latino-Palestino, Mohamad El-Kadri voltou do Líbano no último sábado (14/10) e, desde então, não consegue dormir. “Não só nós, não só os palestinos, mas as pessoas de forma geral estão estarrecidas”, resume.
Para El-Kadri, a cobertura midiática do conflito não tem sido boa. “É preciso dizer que estamos vendo o massacre de um povo que está lutando pela libertação de sua terra, que está sob ocupação há 75 anos”, defende.
Sobre o veto dos Estados Unidos no Conselho de Segurança da ONU que, nesta quarta-feira (18/10) barrou uma resolução proposta pelo Brasil solicitando a abertura de corredores humanitários em Gaza, El-Kadri se indigna: “foi vetada ajuda humanitária para uma cidade de dois milhões de habitantes que, diga-se de passagem, é a maior prisão a céu aberto do mundo. A forma como é desenhado e sufocado faz com que seja um campo de concentração”.
O presidente do Fórum Latino-Palestino ressalta, por outro lado, a importância das manifestações que “talvez não tenham o resultado que a gente quer”, mas que o povo refém dos ataques não vai se sentir só tendo a sua luta reconhecida.