A União Europeia confirmou nesta quinta-feira (01/02) que vai manter os repasses financeiros à Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (Unrwa), que demitiu funcionários suspeitos de ligação com a ofensiva promovid pelo Hamas em Israel em 07 de outubro.
Segundo o alto representante da UE para política externa, Josep Borrell, os palestinos “não podem ser punidos coletivamente”, e garantir a continuidade do trabalho da Unrwa é a única forma de “manter vivos os habitantes de Gaza”. “As investigações devem prosseguir naturalmente, mas os financiamentos à Unrwa não podem ser interrompidos. A UE e a Comissão Europeia decidiram não interrompê-los”, declarou ele antes da cúpula de líderes da UE em Bruxelas.
Após as acusações de Israel, diversos países anunciaram a suspensão dos repasses à Unrwa, incluindo os Estados Unidos e membros da União Europeia, como Alemanha, Áustria, Finlândia, Holanda e Itália.
Os bloqueios aumentaram os temores de um agravamento da crise na Faixa de Gaza, uma vez que, segundo a ONU, a agência para refugiados palestinos é a “espinha dorsal” do sistema de ajuda humanitária no enclave.
“Faço um apelo aos Estados-membros para que garantam a continuidade do trabalho da Unrwa”, disse o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, na última quarta (31/01).
Entenda o caso
Apenas um dia após a Corte Internacional de Justiça (CIJ) ter ordenado a Israel que suspendesse a matança de civis em Gaza – decidindo que o país pode estar violando a Convenção do Genocídio – os países ocidentais, liderados pelos Estados Unidos, suspenderam o financiamento para UNRWA.
Mais de 2 milhões de pessoas dependem da agência para a sobrevivência básica. A UNRWA administra abrigos, fornecendo alimentos e cuidados de saúde primários aos palestinos deslocados.
Cerca de 3 mil funcionários, a maioria deles refugiados palestinos, continuam trabalhando em Gaza sob bombardeios israelenses. Pelo menos 156 trabalhadores da UNRWA foram mortos por Israel nos últimos três meses, e Israel também bombardeou abrigos e escolas da agência, matando milhares de civis.
A suspensão da ajuda surpreendeu os responsáveis da ONU. “À medida que a guerra continua, as necessidades aumentam e a fome se aproxima”, disse o diretor-geral da UNRWA, Philippe Lazzarini.
Israel matou até agora mais 26 mil palestinos em Gaza, incluindo mais de 13 mil crianças. Centenas de palestinos foram assassinados desde a decisão da CIJ na semana passada.
A história da UNRWA
A UNRWA foi fundada depois da Nakba de 1948 – a expulsão em massa de 750 mil palestinos que acompanhou a fundação de Israel. Gaza suportou o impacto do deslocamento, com 250 mil dos refugiados se alocando na Faixa de Gaza. O restante instalou-se na Cisjordânia e nos países vizinhos como Líbano, Síria e Jordânia.
Oito campos de refugiados foram criados em Gaza após a Nakba. A crise foi tão profunda que, em 01 de dezembro de 1948, a ONU criou uma agência especial para ajudar os refugiados palestinos, a UNRWA. 10 dias depois, em 11 de dezembro, a Assembleia Geral da ONU aprovou a Resolução 194, que apelava a um acordo definitivo para garantir o direito dos refugiados palestinos de voltarem às suas casas.
A UNRWA ainda aceita doações.
(*) Com ANSA