O chanceler russo Sergey Lavrov disse nesta terça-feira (01/03), em mensagem de vídeo à reunião da Conferência sobre Desarmamento da ONU em Genebra, que Moscou considera inaceitável que os EUA tenham armas atômicas estacionadas em países da Europa, via Otan.
Em um discurso esvaziado – delegações de vários países saíram da sala durante a fala em protesto contra a guerra na Ucrânia – Lavrov também acusou Kiev de querer possuir armas nucleares. A delegação brasileira foi uma das poucas que permaneceu no local.
“Para nós é inaceitável que, contrariando as disposições fundamentais do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares, até hoje haja armas nucleares dos EUA no território de uma série dos países europeus. Permanece a prática perversa de 'missões nucleares conjuntas' envolvendo países não nucleares da Otan. Em seu quadro, são treinados cenários de implementação do armamento nuclear contra a Rússia. Já é hora de as armas nucleares americanas voltarem para casa e de desmantelar completamente toda a infraestrutura ligada a elas na Europa”, declarou em seu discurso na conferência sobre desarmamento.
LEIA MAIS: Quais países possuem armas atômicas?
Os EUA possuem armas atômicas estacionadas na Europa, por meio de um acordo com a Otan. Há armamentos espalhados em bases norte-americanas na Alemanha, Holanda, Turquia, Bélgica e Itália.
O chanceler pediu que países ocidentais “abdiquem a construção de instalações militares nos territórios dos países que anteriormente foram parte da União Soviética e não são membros da Otan”.
Ucrânia
Lavrov disse que a Rússia estaria tomando medidas para evitar que a Ucrânia obtenha armas nucleares. Na semana retrasada, em Munique, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky afirmou que a Ucrânia estaria disposta a rever sua posição de não possuir armamento atômico.
Reprodução/MFA Rússia
Lavrov discursou nesta terça na Conferência sobre Desarmamento na ONU
“Posso lhes assegurar: a Rússia como membro responsável da comunidade internacional, comprometida com suas obrigações de não proliferação de armas de destruição em massa, está tomando todas as medidas necessárias para impedir o surgimento de armas nucleares e tecnologias relacionadas na Ucrânia”, disse.
Vale lembrar, no entanto, que Kiev detinha armamento atômico até meados da década de 1990 – herança do fim da União Soviética – mas se desfez de todos eles após um acordo que previa, dentre outros aspectos, o respeito à inviolabilidade de suas fronteiras. As armas foram, em sua maioria, enviadas para a própria Rússia, país com maior arsenal do mundo.
Sanções
O chanceler russo também comentou as sanções econômicas impostas por EUA e Europa contra a Rússia, que provocaram uma maxidesvalorização do rublo e dificultaram de maneira significativa o acesso de Moscou às reservas em moeda estrangeira.
“Ao escolher o caminho de sanções unilaterais ilegítimas, os países da UE tentam evitar o diálogo sincero cara a cara, os contatos diretos, destinados a favorecer as resoluções políticas dos candentes problemas internacionais”, afirmou.
Na segunda (28/02), primeiro dia útil de operações após a imposição das sanções, o Banco Central russo falou em “mudanças drásticas” na situação econômica do país e mais que dobrou a taxa de juros – de 9,5% para 20% – a fim de tentar segurar a inflação e a desvalorização da moeda local.
Um dos motivos, dentre outros, que impediram que Lavrov fosse a Genebra foi o fechamento do espaço aéreo europeu para aeronaves da Rússia.
(*) Com Sputnik