O Mercosul – bloco econômico composto por Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai – negou um pedido do presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, para discursar por meio de vídeo durante a cúpula de líderes do bloco a ser realizada nesta quinta-feira (21/07).
“Não houve consenso para poder haver essa comunicação”, declarou o vice-ministro de Relações Econômicas e Integração do Paraguai, Raúl Cano Ricciardi, em entrevista coletiva nesta quarta. Ele ressaltou as decisões do bloco são sempre tomadas por meio de consenso.
Ricciardi não revelou, no entanto, os países que apoiaram ou rejeitaram o pedido.
Desde o início da invasão da Ucrânia pela Rússia, em 24 de fevereiro, Zelenski fez vários discursos virtuais em cúpulas, Parlamentos e eventos internacionais, como em reuniões da Otan e do G7, no Congresso dos Estados Unidos e até na abertura do Festival de Cinema de Cannes.
Zelenski fez a solicitação para fazer a intervenção durante a cúpula do Mercosul em 6 de julho, durante uma conversa por telefone com o presidente do Paraguai, Mario Abdo Benítez, cujo país ocupa a presidência temporária do bloco e será o anfitrião da cúpula desta quinta.
Na coletiva de imprensa desta quarta-feira, Ricciardi afirmou que a decisão de não permitir o discurso já havia sido comunicada ao governo ucraniano. Especificamente, assinalou que o chanceler paraguaio – a quem Abdo Benítez confiou a tarefa de consultar outros países do Mercosul –, comunicou a decisão ao embaixador de Kiev creditado na Argentina e concomitante a Assunção.
Em fevereiro, após o início da guerra russa contra a Ucrânia, Abdo Benítez condenou os ataques ao povo ucraniano no Twitter e instou “os agressores a deter suas ações, apelando ao diálogo pela paz e a estabilidade mundial”.
Ukrainian Presidential Press Office/AP/dpa/picture alliance
Desde o início da invasão da Ucrânia pela Rússia, Zelenski fez vários discursos virtuais em cúpulas, Parlamentos e eventos internacionais
Críticas de Zelenski à neutralidade de Bolsonaro
Desde o início da guerra na Ucrânia, o presidente Jair Bolsonaro vem tentando manter uma posição neutra em relação ao conflito. O presidente brasileiro tem uma relação amistosa seu homólogo russo, Vladimir Putin, com quem se reuniu em Moscou poucos dias antes do início da guerra, e não chegou a condenar a invasão russa do país vizinho como os países ocidentais – mas tampouco faz críticas duras às sanções do Ocidente aplicadas contra Moscou, como a China.
Bolsonaro e o ministro das Relações Exteriores, Carlos França, disseram em junho que o Brasil quer comprar diesel da Rússia, e que um acordo estaria sendo negociado com o país para adquirir o combustível a um preço mais baixo, em dois meses. Também no mês passado, Bolsonaro afirmou ter recebido garantias de Putin de que a Rússia continuaria a fornecer fertilizantes para o Brasil.
Em entrevista à TV Globo divulgada nesta terça-feira, Zelenski criticou a “neutralidade” de Bolsonaro em relação à invasão russa e exigiu um posicionamento do governante brasileiro.
Em resposta às declarações de Zelenski, Bolsonaro afirmou estar “do lado da paz”. “Apanhei muito porque fui para a Rússia. [Dizem] 'Tem que estar do lado da Ucrânia…'. Estou do lado da paz. Se eu tivesse como resolver a guerra, já teria resolvido”, declarou o presidente brasileiro a apoiadores em frente ao Palácio da Alvorada nesta quarta.
Bolsonaro não comparecerá à cúpula do Mercosul desta quinta, a primeira presencial entre os chefes de Estado do bloco desde o início da pandemia de covid-19. O Brasil deverá ser representado pelos ministros da Economia, Paulo Guedes, e das Relações Exteriores, Carlos França.
Assim como a Argentina – cujo presidente, Alberto Fernández, se reuniu com Putin em Moscou no início de fevereiro –, o Brasil absteve-se de apoiar uma declaração da Organização dos Estados Americanos (OEA) condenando a invasão da Ucrânia pela Rússia. O governo brasileiro também não assinou um comunicado do Mercosul crítico à invasão.