Uma matéria, publicada pelo jornal norte-americano The New York Times neste domingo (25/02), revelou que a Agência Central de Inteligência (CIA) dos Estados Unidos tem sido responsável pelo financiamento de 12 bases militares secretas das forças armadas da Ucrânia, localizadas ao longo da fronteira russa. Estas que, por sua vez, são capazes de rastrear satélites espiões e monitorar conversas entre os mais altos comandantes do exército de Moscou.
A CIA e outras agências de inteligência norte-americanas auxiliam as autoridades ucranianas no conflito contra a Rússia, fornecendo informações para possíveis ataques de mísseis russos, captando movimentos das tropas inimigas e apoiando as redes de espionagem geridas por Kiev.
A reportagem classificou a Ucrânia como sendo “um dos mais importantes parceiros de inteligência de Washington contra o Kremlin hoje”, em uma cooperação internacional criada há oito anos.
Ainda de acordo com o jornal, a relação entre os aparatos de inteligência norte-americano e ucraniano existe desde antes da eclosão da guerra atual. Em 2014, Kiev realizou interceptações que teria ajudado na conclusão sobre o envolvimento da Rússia na derrubada de um avião comercial, o voo 17 da Malaysia Airlines. Além disso, eles também teriam colaborado com os norte-americanos na perseguição contra os agentes russos por suposta interferência nas eleições presidenciais do país, em 2016.
No mesmo ano de 2016, a CIA teria começado a treinar uma força de comando de elite ucraniana, na captura de drones russos e equipamentos de comunicação para “quebrar os sistemas de criptografia de Moscou”. Além disso, a agência norte-americana também teria investido em uma nova geração de espiões ucranianos na Rússia, na Europa e em Cuba, onde os “russos têm uma grande presença”.
O jornal revelou que, durante a guerra, oficiais da CIA chegaram a informar locais onde a Rússia estava planejando os ataques e até que tipos de armas usariam. De acordo com Ivan Bakanov, então chefe da agência interna da Ucrânia, sem a tecnologia norte-americana, “não haveria como resistir aos russos ou vencê-los”.
Relação entre EUA e Ucrânia
Em 2014, John O. Brennan, então diretor da CIA, manifestou interesse a Valentyn Nalyvaichenko, chefe do Serviço de Segurança ucraniano, em desenvolver uma parceria com a Ucrânia.
Após a dissolução da União Soviética em 1991, a Ucrânia conquistou a independência e depois oscilou entre forças políticas concorrentes: as que queriam manter uma relação amistosa com Moscou e as que queriam buscar uma aliança com o Ocidente. Em seu primeiro período como chefe da espionagem, Nalyvaichenko chegou a iniciar uma parceria semelhante com a CIA, mas que acabou se dissolvendo quando o governo da época voltou a ser aliado da Rússia.
Segundo a reportagem, a condição apresentada por Brennan para a nova parceria com a Ucrânia demandava provas de que, de fato, o país teria a capacidade de fornecer informações relevantes aos Estados Unidos.
Em 2015, o então presidente da Ucrânia, Petro Poroshenko, reformulou o serviço doméstico e instalou um aliado para substituir Nalyvaichenko, o parceiro de confiança da CIA.
Na remodelação, o general Kondratiuk foi nomeado chefe da agência de inteligência militar do país (HUR).
Twitter/Reuters
Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, e presidente dos EUA, Joe Biden, durante encontro em Washington
Tentando construir credibilidade, à CIA, o general Kondratiuk reuniu e entregou documentos secretos relacionados à Marinha Russa. Em Langley, analistas comprovaram a autenticidade dos arquivos e, dessa forma, conquistou a confiança da agência norte-americana.
“Para um russo, permitir-se ser recrutado por um norte-americano é cometer o máximo de traição”, disse o general Kondratiuk, segundo a reportagem. “Mas para um russo ser recrutado por um ucraniano, são apenas amigos conversando enquanto tomam uma cerveja.”
Bases militares secretas
Com dinheiro e equipamento fornecidos pela CIA, as bases sob o comando do general Dvoretskiy começaram a ser construídas no subsolo. Para evitar a detecção, eles só funcionavam à noite e quando os satélites espiões russos não estavam ativos.
A agência norte-americana começou efetivamente a enviar os dispositivos de espionagem em 2016, fornecendo rádios e aparelhos criptografados para interceptar comunicações secretas do inimigo.
Além da base, a CIA também supervisionou a Operação Goldfish, um programa de formação para ensinar aos agentes de inteligência ucranianos como assumir personalidades falsas e roubar segredos na Rússia. Na sequência, formados, os oficiais ucranianos foram levados para 12 bases operacionais instaladas ao longo da fronteira russa.
Guerra na Ucrânia
Depois que Putin lançou a “Operação Especial Militar na Ucrânia”, em 24 de fevereiro de 2022, a Casa Branca autorizou agências de espionagem a fornecerem apoio para operações letais contra forças russas em solo ucraniano.
Em 3 de março de 2022, a CIA deu uma visão precisa dos planos russos para as próximas duas semanas.
De acordo com a reportagem do The New York Times, os russos planejavam cercar a estratégica cidade portuária de Odessa, mas uma tempestade atrasou o ataque e os russos não conseguiram tomar o território.
Ainda segundo o jornal, os russos também tentaram assassinar altos funcionários ucranianos, incluindo o líder Volodymyr Zelensky.
Quando o ataque russo a Kiev foi paralisado, a CIA enviou vários novos oficiais para ajudar a Ucrânia.
Atualmente, o governo de Zelensky segue apelando por ajuda financeira e militar aos Estados Unidos, no contexto em que o Congresso norte-americano não oferece sinais positivos sobre o pedido da Ucrânia por estar concentrado em pautas nacionais.
A reportagem do The New York Times também aponta a preocupação e o questionamento ucraniano, dependente do auxílio da Casa Branca, em relação a um possível abandono da CIA, em meio à crise financeira e bélica na guerra contra a Rússia.