A declaração conjunta dos participantes da cúpula entre os países da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) e da União Europeia (UE), emitida nesta terça-feira (18/07), tratou do conflito entre Kiev e Moscou, como solicitaram grande parte dos europeus, mas usando a expressão “guerra contra a Ucrânia” e sem mencionar ou fazer alusões críticas à Rússia, como defendeu a maioria dos países da América Latina.
Porém, um mandatário latino-americano foi exceção a essa regra. O presidente do Chile, Gabriel Boric, durante a reunião de encerramento, expôs sua insatisfação ao documento final com duras palavras contra seus homólogos que não concordaram em repudiar a postura russa.
Segundo Boric, “os países devem enfatizar o respeito irrestrito ao direito internacional, porque é uma garantia de todos, o que está acontecendo na Ucrânia é uma guerra de agressão imperial e inaceitável, mas a declaração conjunta foi bloqueada porque alguns não querem dizer isso enfaticamente”.
“Hoje é a Ucrânia, mas amanhã pode ser qualquer um de nós. Não podemos duvidar, mesmo que tenhamos alguma complacência com algum líder neste momento, ou se o outro líder nos cai bem ou mal, o que importa é o direito internacional”, acrescentou o chileno.
Boric completou sua abordagem do tema dizendo que “o direito internacional foi claramente violado, não por ambas as partes, mas por uma parte, a parte que está invadindo, que é a Rússia. É importante que digamos isso claramente para avançar nos acordos”.
Venezuela, Nicarágua e Cuba
Também em sintonia com os países europeus (e mantendo a coerência com declarações suas anteriores), Boric foi bastante crítico com os governos de Nicarágua, Venezuela e Cuba, que diz considerar como “ditaduras”.
Porém, desta vez o presidente chileno teve palavras mais amenas para com a ilha socialista, inclusive criticando os Estados Unidos pelo bloqueio e por colocar os cubanos na lista de “países apoiadores do terrorismo”.
Presidência do Chile
Gabriel Boric instou seus homólogos latino-americanos a tomar uma postura mais clara de repúdio à Rússia por seu conflito com a Ucrânia
Boric disse que se sente “no dever de denunciar situações como as que ocorrem hoje na Nicarágua ou a terrível crise que levou ao êxodo de mais de 6 milhões de venezuelanos que migraram. Grande parte, ao menos um milhão, veio para o nosso país”.
Contudo, o mandatário andino disse que “as sanções impostas unilateralmente” pelos Estados Unidos “não estão contribuindo para a solução, pelo contrário, estão agrando o problema”.
“As sanções dos Estados Unidos contra a Venezuela não contribuem para a solução do problema na Venezuela. As sanções e o bloqueio dos Estados Unidos contra Cuba não contribuem em nada para o povo de Cuba, muito menos a inaceitável declaração de Cuba como um país que apoia o terrorismo, o que não é verdade. Temos que rejeitar isso com veemência”, frisou Boric.
Neutralidade entre Estados Unidos e China
Outra postura apresentada pelo presidente do Chile foi a defesa da neutralidade de europeus e latino-americanos em meio à disputa entre Estados Unidos e China pela hegemonia global.
Para Boric, a necessidade de uma acordo entre Celac e UE surge justamente, segundo a sua visão, do desafio desses países de fugir da dependência dessas duas potências.
“A Europa e a região da América Latina e do Caribe não querem depender de ninguém, nem dos Estados Unidos, nem da China. Acredito que os valores comuns que temos nesta grande mesa redonda nos chamam a aprofundar nosso relacionamento, não só em termos econômicos, mas também em termos culturais, políticos e sociais”, ressaltou.
Em sua conclusão, Boric destacou que “é preciso que a Europa veja e entenda a América Latina e o Caribe como parceiros iguais. Acho que ainda temos um longo caminho a percorrer em termos culturais nessa direção”.
Com informações de Cooperativa e Télam.