O programa 20 MINUTOS desta terça-feira (18/07) voltou a abordar as controvérsias a respeito da inteligência artificial.
O convidado deste programa foi o sociólogo e professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Deivison Faustino, que também é integrante do Instituto Amma Psique e Negritude e pesquisador do Núcleo Reflexos de Palmares, além de autor de alguns livros, incluindo o mais recente, “Colonialismo digital”, lançado pela editora Boitempo.
Em conversa com o apresentador Haroldo Ceravolo Sereza, Faustino disse que, para ele, “a inteligência artificial não é um bicho papão. É um conjunto de técnicas de processamento de dados que utilizam de métodos estatísticos, que permite o processamento em alta velocidade e abrangência de dados, que permitem a transformação desses dados em novos dados”.
“A ideia do bicho papão é problemática porque esconde o fato de que toda técnica é produto do trabalho humano. O que pode parecer ter autonomia e ser um ser dotado de autoconsciência, na verdade incorpora e objetifica determinados cálculos produzidos por seres humanos que produzem isso por interesses, relações sociais e poder”, acrescenta o sociólogo.
Divulgação
Sociólogo Deivison Faustino considera que introdução de tecnologia no capitalismo sempre teve papel de ampliação do desemprego
Sobre a questão da politização da inteligência artificial, o acadêmico considera que “a IA é política porque não existe técnica sem sociedade. Há algo que a distancia das outras técnicas, porque de fato ela traz grandes transformações para a sociedade, como o carvão, a eletricidade, e a computação também trouxeram. A IA traz novas possibilidades de transformações da vida e do mundo concreto. Isso coloca muita coisa para repensarmos: a política, a economia, a ideologia. Abre novas possibilidades de exploração do trabalho”.
“A introdução de novas tecnologias no capitalismo sempre teve um papel de ampliação do desemprego. Essa automação permite que a máquina produza num ritmo próprio e com a IA essa automação aumenta em um nível jamais visto. Há expectativa de que em poucos anos, amplie muito o desemprego, e isso traz ameaças para a sociedade”, ressalta Faustino.
O sociólogo também afirma que “no efeito, a IA traz implicações evidentes na política, mas na causa também. O próprio desing tecnológico já nasce influenciado pelos interesses do capitalismo uma vez que sua aplicação é sempre voltada ao lucro”.