Atualizada em 28/04/2016 às 8h
Morre em Bunzlau em 28 de abril de 1813 o príncipe Mikhail Illarionovich Golenishchev-Kutuzov, marechal-de-campo russo, popularmente reconhecido pelo seu importante papel como comandante-em-chefe das tropas que derrotaram Napoleão Bonaparte.
Kutuzov nasceu em São Petersburgo em 16 de setembro de 1745. Alistou-se no exército russo em 1760, prestando serviço na Polônia entre 1764 e 1769. Lutou contra os turcos de 1770 a 1774, perdendo um olho numa das batalhas.
Em 1784 assume o posto de major-general e em 1787, governador-geral da Crimeia. Sob as ordens do general Suvorov, de quem foi discípulo, ganhou notável distinção na Guerra Russo-Turca de 1787-1792, na tomada de Ochakov, Odessa, Tiguina e Ismail, assim como nas batalhas de Rimnik e Mashin.
Em 1791 ascende ao posto de tenente-general, ocupando, sucessivamente, os cargos de embaixador em Constantinopla, governador-geral da Finlândia, comandante do corpo de cadetes de São Petersburgo, embaixador em Berlim e governador-geral de São Petersburgo.
Em 1805, comandou as tropas russas contra o avanço de Napoleão em Viena, vencendo a encarniçada batalha de Dürrenstein em 11 de novembro de 1805.
Às vésperas da Batalha de Austerlitz, Kutuzov tentou prevenir os generais aliados de participar das ações militares, porém, ao ser desautorizado pelos austríacos, passou a demonstrar pouco interesse por esse tema, chegando a cochilar quando liam para ele as ordens do comando militar. Não obstante, esteve presente nessa batalha, travada em 2 de dezembro de 1805, quando foi ferido.
De 1806 a 1811, Kutuzov foi governador-geral da Lituânia e de Kiev. Foi designado comandante do exército russo no conflito contra a Turquia. Compreendendo, no entanto, que as suas tropas viriam a ser mais necessárias na inevitável guerra contra os franceses, rapidamente diligenciou para que fosse assinado o Tratado de Bucarest que estipulava a incorporação da Bessarábia ao Império Russo. Graças a tal providência foi promovido a príncipe.
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Em ilustração, Mikhail Kutuzov comanda tropas: ele foi também governador da Crimeia
Quando Napoleão Bonaparte, a frente de seu ‘Grande Armée’ invadiu a Rússia em 1812, Mikhail Bogdanovich, então ministro da Guerra, decidiu seguir o princípio bélico da “terra arrasada”, procedendo à retirada em vez de correr o risco de enfrentar diretamente o inimigo, supostamente muito mais poderoso. Sua estratégia valeu-lhe a inimizade de vários oficiais, em especial do talentoso general Piotr Bagration. A fim de desanuviar o clima, Kutuzov foi nomeado em 17 de agosto comandante-em-chefe, decisão saudada com grande satisfação pela oficialidade.
O período de 1807 a 1812 marcou a época da prosperidade do império francês. Em 1810, Napoleão se encontrava no auge do poder. Suas ininterruptas vitórias militares o haviam convertido em dono da Europa. Todavia, o tsar Alexandre I se negava abertamente a seguir os ditames do imperador. Diante da resistência à hegemonia francesa, Napoleão declarou às vésperas da invasão: “Dentro de 5 anos serei o senhor do mundo. Só me resta a Rússia, mas eu a esmagarei.”
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Ante o avanço das tropas francesas, Kutuzov decide enfrentar o inimigo nas proximidades de Moscou. Os dois grandes exércitos se defrontam perto do povoado de Borodino em 26 de agosto de 1812, no que viria a ser descrito como a maior batalha da história da humanidade até à altura, ao envolver cerca de 250 mil soldados. O resultado da batalha foi inconclusivo, com um quarto dos franceses e metade dos russos mortos ou gravemente feridos.
Depois da famosa conferência do Conselho Militar na aldeia de Fili, em 1º de setembro, Kutuzov, para salvar a vida dos soldados russos, deu a ordem de retirada e de entrega de Moscou ao inimigo, sem combate. “Com a perda de Moscou não está perdida toda a Rússia, porém com a derrota do exército perderemos os dois – Moscou e a Rússia”. Com essas palavras Kutuzov determinaria o curso da guerra.
A população moscovita foi evacuada. Kutuzov retirou-se para a estrada de Kaluga e, tendo reabastecido o seu exército, forçou a retirada de Napoleão na Batalha de Maloyaroslavets. Estas decisões estratégicas deram origem a muitas críticas, mas graças a elas a ‘Grande Armée’ foi sendo hostilizada e se desgastando.
Surge então um movimento guerrilheiro. A princípio espontâneo, com ataques de destacamentos guerrilheiros pequenos e separados, aos poucos abarcou regiões inteiras e se tornou uma força temível. Foram então criados destacamentos grandes e surgiram milhares de herois populares.
Sobre os destroços de uma cidade em ruínas, sem ter recebido a capitulação russa, e com uma nova manobra russa forçando-o a sair de Moscou, Napoleão ordenou retroceder. A cidade incendiada era taticamente inútil, alem do que a chegada do inverno tornava insustentável manter cerca de 100 mil soldados subsistindo duramente em meio aos escombros. Em 7 de outubro, depois de somente 6 semanas de ocupação, sem nenhum sinal claro de vitória à vista, Napoleão começou sua desastrosa Grande Retirada de Moscou.
Monumentos em memória a Kutuzov estão erigidos em Poklonnaya Hill, Moscou e diante da catedral de Kazan, São Petersburgo, onde foi sepultado.
O poeta Alexandre Pushkin escreveu sobre o seu túmulo uma famosa elegia. Entrou, no entanto, no imaginário popular graças ao fato de se ter tornado um dos personagens centrais da obra-prima Guerra e Paz de Leon Tolstói, em que é caracterizado como um sábio líder popular.
Durante a Grande Guerra Patriótica (1941-1945), Stalin criou a Ordem de Kutuzov para condecorar os herois militares. Essa ordem foi mantida mesmo após a dissolução da União Soviética, permanecendo como um dos mais importantes galardões militares da Federação Russa.