Luis Carrero Blanco, militar e político espanhol, foi assassinado pela organização basca ETA, em 20 de dezembro de 1973, quando era presidente do Conselho de Ministros durante a etapa final do regime franquista. Sua morte repentina lhe outorgou postumamente o título de duque. Sucessor de Franco, foi morto exatamente um mês após o falecimento do ditador.
Firme partidário de uma política de neutralidade armada como maneira de evitar a participação espanhola na II Guerra Mundial, imaginou, como escritor, sob o pseudônimo de Juan de la Cosa, a hipótese de que em setembro de 1939 a Espanha estivesse sendo governada por um governo similar ao existente no inverno de 1936, ou seja, um governo de Frente Popular. Nesta suposição, não teria sido possível a neutralidade, a Espanha teria ido à guerra contra a Alemanha e provavelmente teria capitulado em junho de 1940, a exemplo do que ocorreu com a França.
Blanco argumentava sua posição em seus artigos, publicados em 1945: “Graças ao Movimento Nacional franquista, em junho de 1940, os alemães se depararam, ao chegar aos Pirineus, com um povo aguerrido, que havia recuperado o conceito de dignidade nacional, que, preferindo morrer a ser mercenário, estava disposto a enfrentar o beligerante que pisasse em seu solo, fosse quem fosse, a fim de defender os direitos de neutralidade e os sagrados interesses da Espanha, que estavam à margem da disputa que se travava com as armas”.
Para ele, o comando franquista foi necessário para conter a entrada nazista no país: “Os alemães foram contidos nos Pirineus. A neutralidade espanhola, respaldada pelo prestígio de seus soldados e de seu 'Caudillo por la Gracia de Dios', conseguiu o que não puderam conseguir as armas aliadas: colocar um dique à avalanche da Wehrmacht”, afirmava.
“Operação Ogro” era o nome em código com que a ETA denominou o magnicídio. Os membros do ETA se deslocaram até Madri e alugaram um sótão no número 104 da rua Claudio Coello. A partir dali escavaram um túnel até o centro da rua, por onde o militar passaria. Lá colocaram cerca de 100 quilos de carga explosiva que fizeram detonar exatamente na passagem do automóvel de Carrero Blanco, quinze minutos antes do início do julgamento contra 10 membros do então sindicato clandestino Comissões Operárias, conhecido como “Processo 1001”.
A explosão, que acabou com a vida de Carrero Blanco, foi tão violenta que seu carro, um Dodge 3700 GT, voou pelos ares e caiu no terraço de um edifício anexo à Igreja de São Francisco de Borja, onde havia assistido à missa momentos antes. Sua filha Ángeles, que sempre o acompanhava, não o fez nesse dia. Faleceram também outras duas pessoas: o inspetor de polícia, José Antonio Fernandez, e o condutor do veículo, José Luiz Mogena.
Carrero Blanco, apesar ter sido advertido da possibilidade de sofrer um atentado, negou-se a aumentar suas escassas medidas de segurança. O horário habitual e os itinerários eram invariáveis e o veículo em que se deslocava não era blindado.
O objetivo do atentado, segundo indicava o comunicado em que o ETA assumia a autoria, era intensificar as divisões existentes no seio do regime franquista entre os “aperturistas” e os “puristas”. Segundo declarações posteriores de um dos membros do Comando Txikia, Blanco era uma “peça fundamental” e “insubstituível” do regime e representava o “franquismo puro”.
A execução em si tinha um alcance e objetivos claríssimos. A partir de 1951, Carrero ocupara praticamente a chefia de governo do regime. Simbolizava melhor que ninguém a figura do “franquismo puro”. Por outra parte chegou a ser insubstituível por sua experiência e capacidade de manobra e porque ninguém conseguia como ele manter o equilíbrio interno do franquismo.
A complexidade do atentado e sua proximidade com a embaixada dos Estados Unidos levantou a suspeita de que outras organizações poderiam estar envolvidas, estando a CIA e seu chefe na Espanha, Gonzalez Mata, entre as mais mencionadas. A suspeita foi desmentido pelos autores do atentado.
Em 2008, era desclassificada uma nota da Embaixada dos Estados Unidos em Madri dirigida ao Departamento de Estado de Washington em que se afirmava que “o melhor resultado que poderia surgir (…) é que Carrero desaparecesse de cena, com possível substituição pelo general Diez Alegria ou Castañon.
O fato de que, durante a Guerra de Yom Kipur, em outubro de 1973, Carrero Blanco tinha impedido os Estados Unidos de usar as bases estadunidenses em território espanhol. A medida levou a agência soviética Tass a declarar que a “CIA havia assassinado um político franquista de tendência nacionalista que se nega a ingressar na OTAN e a cumprir cegamente as ordens de Washington”.
A única pessoa que supostamente viu a cara do homem conhecido como o “homem da capa branca” que entregou os horários e rotas de Carrero Blanco no hotel Mindanao de Madri, foi José Miguel Beñarán Ordeñana Argala, que morreu em 1978 pelas mãos de uma organização ultradireitista terrorista, o Batalhão Basco-Espanhol. Outrossim, um dos presuntos autores materiais do atentado foi assassinado pouco depois.
O magnicídio teve grande repercussão na Espanha, sendo bastante distintos os sentimentos que provocou e suas subsequentes consequências políticas.