Em 9 de fevereiro de 1849, Giuseppe Mazzini proclama em Roma a decadência do governo temporário do Papa e instaura a República. Esse fracasso iria deixar o caminho livre para que a monarquia piemontesa concretizasse a unidade da Itália.
Meio século antes, Napoleão e os revolucionários franceses haviam semeado na Itália os germes da democracia e do nacionalismo. Com a queda do general francês, e com a restauração da antiga ordem, os burgueses liberais, impregnados de romantismo, desenvolvem com fervor o sonho de uma Itália reunificada como a que existiu com a Roma antiga.
Mazzini era um deles. Nascido em Gênova em 1805, o jovem advogado conspira na Carbonária, uma associação secreta nascida no reino de Nápoles ao tempo da ocupação francesa. Os carbonários fomentam diversos levantes, em 1821 e em 1831, que fracassam por falta de apoio popular.
Refugia-se então em Marselha, onde cria seu próprio movimento, Giovine Italia (Jovem Itália). Seu programa resume-se em dois pontos: a unidade sob a República e Dio e Popolo (Deus e Povo). Tenta em Gênova, em 1834, um levante que não tem melhor sorte que os precedentes ainda que contasse com a coragem de Giuseppe Garibaldi. Condenado à morte por não atender a uma ordem judicial, foge para a Suíça, onde cria um novo movimento, Jovem Europa.
Em 1846, Pio IX ascende ao trono de São Pedro. O novo papa prontamente reforma os estados pontificados num sentido liberal e as esperanças dos patriotas voltam-se para ele.
O abade piemontês Vincenzo Gioberti preconiza uma federação em torno do papa. Mazzini acolhe a ideia e em 8 de setembro de 1847, de seu exílio, em Londres, convida o papa a assumir a chefia do movimento nacional italiano. O soberano pontífice, porém, não atende o apelo.
A revolução de fevereiro de 1848, em Paris, parece trazer aos patriotas a ocasião tanto esperada. Evocam a “primavera dos povos” e o sonho de uma Europa fraternal e republicana. Em Milão, a população une-se durante os “Cinco Dias”, de 18 a 23 de março de 1848, expulsando da cidade as tropas austríacas do marechal Radetsky.
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Governo duraria até julho daquele ano, quando tropas francesas vencem a resistência de Giuseppe Garibaldi
Em 15 de novembro de 1848, Pellegrino Rossi, ministro do interior e das finanças do papa é assassinado. Pio IX, temendo distúrbios, refugia-se na cidade de Gaeta, ao sul de Roma, abandonando a cidade eterna nas mãos dos democratas.
Mazzini deixa Londres e é acolhido com entusiasmo em Livorno e depois em Roma. Tendo o papa abandonado a cidade, proclama a República. Institui um ‘triunvirato’ à maneira antiga com outros dois republicanos, Aurelio Saffi e Carlo Armellini.
Garibaldi, fiel a Mazzini, toma partido da República Romana. Deixando seu exílio, o eterno rebelde reúne uma nova tropa de legionários vestindo camisa vermelha e marcha para Roma.
O vento muda de direção. O rei Carlos Alberto, que retomara imprudentemente a guerra contra a Áustria, é derrotado em Novara e é obrigado a abdicar. A situação torna-se mais e mais confusa, como a que marcou a expressão “fare unquarantotto” (fazer um 48, em outras palavras, semear a desordem).
Os exércitos regulares restabelecem por toda parte a ordem anterior. O papa envia tropas sob o comando do general Nicolas Oudinot, filho de um marechal do Império Francês. Desembarca em 25 de abril, sobre o monte Janículo e choca-se pela primeira vez contra Garibaldi e seus “Camisas Vermelhas”.
Os franceses conhecem a humilhação da fuga, obrigando Luis-Napoleão Bonaparte a enviar reforços para um cerco em regra a Roma. Ao cabo de um mês de vigorosa resistência, Garibaldi é obrigado a retroceder. Em 2 de julho de 1849, cai a República romana.
Mazzini, de novo, toma o caminho do exílio. Apenas em 1872, teria a satisfação de voltar para a Itália com uma identidade falsa e morrer em sua pátria, por fim unificada ainda que sob uma nova monarquia.
(*) A série Hoje na História foi concebida e escrita pelo advogado e jornalista Max Altman, falecido em 2016.