Alfred de Musset, escritor e poeta francês, cuja obra dramática pode ser considerada como a contribuição mais original e a mais bem sucedida ao teatro romântico, morreu em Paris em 2 de junho de 1857.
Nascido em 11 de dezembro de 1810, no seio de uma família rica e culta, o jovem Musset levou uma vida dissoluta de dândi. Realizou estudos de direito e de medicina, não tenho concluído, e frequentou a partir de 1828, o Cenáculo Romântico nas casas de Victor Hugo e Charles Nodier.
Precoce, brilhante, publicou sua primeira coletânea de versos 'Contos de Espanha e de Itália' (1829), conquistando um imediato sucesso. Malgrado esta glória precoce, conheceu um contratempo relativo com suas peças de teatro, como ‘Quittance du diable’, que não pôde ser representada e a ‘Nuit vénitienne’ (1830) que foi um rotundo fracasso.
Autor dotado e seguro de seu talento, foi ferido e escaldado pelo fracasso de ‘Nuit vénitienne’. Decidiu então que, doravante, as peças que escrevesse não mais seriam destinadas à representação – fato original na literatura francesa – e sim exclusivamente à leitura.
As comédias de costume românticas que publicou entre 1832 e 1834 ‘À quoi rêvent les jeunes filles’, ‘La Coupe et les Lèvres’ e ‘Namouna’ foram agrupadas sob o título ‘ Un spectacle dans un fauteuil’. ‘Les Caprices de Marianne’ (1833), ‘Fantasio’ (1834)e ‘On ne badine pas avec l’amour’ saíram em forma de folhetim.
Em 1833, Musset encontra aquela que seria o grande amor de sua vida, a romancista George Sand, 7 anos mais velha. Tempestuosa, sua relação se interrompe momentaneamente em 1834. No ano seguinte, após diversas rupturas violentas, a relação termina definitivamente, deixando no poeta a dor de um fracasso sentimental, amargo, mas que conferiu a sua obra uma profundidade que faltava.
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Escritor romântico encabeçou recursos inéditos na literatura francesa
No final de 1834, enriqueceu sua dramaturgia com uma obra-prima, o drama histórico ‘Lorenzaccio’ e no ano seguinte ‘Le Chandelier’.
Dramaturgo incompreendido, obteve em compensação um imenso sucesso, em 1833, com seu poema romântico ‘Rolla: le cycle des Nuits’, baseado em sua experiência sentimental, que consolidou sua reputação de grande poeta.
Esta obra alegórica publicada de 1835 a 1837, em que o poeta dialoga com sua musa, comporta algumas de suas melhores páginas. Recusando a missão social de escritor preconizada pelo novo espírito romântico, privilegiou a emoção, a variedade e complexidade dos sentimentos que acompanham a paixão amorosa.
Sua obra narrativa principal ‘Confession d’un enfant du siècle’ (1836) é uma autobiografia romanceada que, com alguma ênfase e certa complacência, analisa a alma atormentada do poeta.
Doente e precocemente esgotado, prosseguiu em sua carreira de autor dramático com novas peças, de menor sucesso que as anteriores, como ‘Il ne faut jurer de rien’ (1836), ‘Il faut qu’une porte soit ouverte ou fermée’ (1845), ‘On ne saurait penser à tort’ (1849).
Em 1838, foi nomeado conservador de uma biblioteca ministerial, o que lhe permitiu levar uma vida decente. A perda do emprego em 1848, sem leva-lo à miséria, o conduziu a escrever obras sob encomenda. Em 1852 foi eleito para a Academia Francesa.
O desprezo da nova geração literária é revelador do mal-entendido reinante sobre sua obra. Ora, a imagem amiúde admitida de um poeta sentimental, piegas ou lacrimoso não deve iludir. Se efetivamente curvou-se a uma brandura natural que o fazia preferir os prazeres fáceis e imediatos, é certo que Musset sentia uma sincera e profunda paixão pela arte.
Tinha plena consciência de suas debilidades, sem nunca conseguir superá-las. Seu teatro e sua poesia foram o alimento pra enfrentar as tormentas que surgiam do embate entre compromisso e pureza, facilidade e trabalho, e suas obras mais exitosas tiveram o reconhecimento da posteridade.
A originalidade do autor reside precisamente na ironia, desesperada porém mordaz que equilibra permanentemente a expressão romântica do “querer morrer” ou a angústia de seus personagens.
O desespero e o sentimento do trágico em Musset provêm sobretudo de um sentimento do vazio da existência e da vertigem diante da falsidade da vida, a impotência da linguagem a comunicar, a dizer a verdade, a compreender o mundo.
Tanto quanto lírica, sua inspiração é a de um moralista lúcido que escruta as contradições, insuperáveis e destrutivas, do ser humano.
Durante muito tempo desconhecido, seu drama em 5 atos e em prosa Lorenzaccio – que só foi representado em 1896 – é uma das obras-primas do teatro romântico, tanto pela complexidade de sua estrutura quanto pelo caráter excepcional do personagem principal.
Inspirado na história de Florença dos tempos dos Medicis – e provavelmente de crônicas florentinas autênticas – a intriga põe em cena o personagem de Lorenzo, jovem primo do duque reinante, Alexandre de Medicis.
Lorenzaccio é sem dúvida uma das figuras mais marcantes do teatro francês e universal.