“O eterno mistério do mundo é a possibilidade de o compreendermos… O fato de que ele seja compreensível, por si só, já é um milagre” disse Einstein em Física e Realidade (1936). O ano de 1905 foi consagrado pela comunidade científica internacional como o “Annus Mirabilis” (ano miraculoso), dedicado a Albert Einstein pelo fato do cientista ter publicado, num curto espaço de nove meses, cinco dos mais importantes artigos da física do século 20. Foram eles: sobre a quanta de luz (março); dimensões moleculares (abril – sua tese de doutorado na Universidade de Zurique); movimento browniano (maio); relatividade especial (exatamente em 26 de setembro) e E=mc² (novembro – equação que esteve na base da construção de bombas nucleares).
Em todos os sentidos, 1905 foi um ano de conquistas científicas miraculosas por parte de um burocrata em patentes – Einstein trabalhava em um escritório de patentes suíço em Berna – praticamente desconhecido e sem qualquer contato pessoal com os físicos de renome da época. O mais impressionante é que na elaboração dos cinco artigos que romperam com a física clássica e fincaram novos fundamentos para a física moderna não havia praticamente menção a nenhum dos cientistas anteriores. E seu autor tinha apenas 26 anos de idade.
Uma lenda amplamente divulgada diz que Einstein teria sido reprovado em matemática quando era estudante, inclusive reproduzida no famoso “Ripley’s believe it or not!” (Acredite se quiser!). É verdade que na escola cantonal de Aarau, na Suíça, ele não era considerado pelos professores um estudante promissor. Mas quando lhe mostraram um recorte de jornal com esta informação, Einstein riu. “Nunca fui reprovado em matemática. Antes dos quinze anos, já dominava cálculo diferencial e integral”.
Após concluir a escola primária, seu pai quis que recebesse instrução para uma carreira na engenharia. Porém, os interesses do jovem Einstein eram mais acadêmicos e teóricos. Em sua segunda tentativa passou nos exames e ingressou na rigorosa Academia Politécnica de Zurique, onde cursou física por quatro anos. Formou-se em 1900, tornou-se cidadão suíço e decidiu ser professor de física, lidando nas horas vagas com física teórica. Dizia-se naquela época que um professor de física “ganhava muito pouco para viver e demais para morrer”. Sem sucesso no magistério, empregou-se como perito no escritório de patentes.
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Implacável investigador, Einstein nunca abandonou a busca do sentido das coisas, de uma unidade inteligível do universo
Einstein tornou-se conhecido do grande público não em virtude da descoberta de 1905, mas por causa de um acontecimento dramático ocorrido 14 anos depois. Em 29 de maio de 1919, uma expedição astronômica britânica, liderada pelo famoso físico Arthur Eddington, desembarcou na Ilha Príncipe, no golfo da Guiné, África Ocidental, para fotografar um eclipse do Sol.
Para os físicos e astrônomos seria uma ocasião crucial e de grande suspense, pois oferecia uma rara oportunidade para confirmação clara e visível de um dos postulados básicos de Einstein sobre a natureza da massa e da gravitação. Se, conforme as ideias do físico, a luz era uma forma de energia e, portanto, tinha massa, a luz seria afetada, como qualquer outra massa, por um campo gravitacional. E um raio de luz seria defletido (curvado) pela influência de uma massa em seu caminho. As fotografias tiradas pela equipe de Eddington mostraram, para espanto geral, uma deflexão da luz das estrelas no campo gravitacional do sol da ordem de 1,64 segundo de arco. Eddington não se conteve: “É o momento mais grandioso de minha vida!”.
Quando Einstein leu a carta que o físico inglês lhe enviou, com a exata medida da difração da luz, respondeu excitado e com uma perspectiva caracteristicamente cósmica: “É um presente do destino”, escreveu a Max Planck, em 23 de outubro de 1919, “que me tenha sido permitido viver tudo isso”.
Implacável investigador, Einstein nunca abandonou a busca do sentido das coisas, de uma unidade inteligível do universo. Não conseguiu concluir sua investigação. Em 17 de abril de 1955, os médicos desistiram dos esforços para estancar uma hemorragia interna. Devia saber que estava à beira da morte. Ainda assim, pediu ao filho Hans algumas folhas de papel para retomar suas equações. Trabalhou nelas bons momentos. Ao finalizar, queixou-se a Hans, que estava ao lado do leito: “Ah, eu só queria saber mais matemática”.