Louise Michel, professora primária, anarquista, franco-maçom, feminista e uma das grandes figuras da Comuna de Paris, morre em 9 de janeiro de 1905, em Marselha. Na manhã de 22 de janeiro, seus funerais atraem na capital francesa milhares de pessoas. Foi a primeira a empunhar a bandeira negra, popularizando-a no seio do movimento anarquista.
Nascida em 29 de maio de 1830 em Vroncourt-la-Cotê, filha ilegítima da criada Marie-Anne Michel e de pai desconhecido, provavelmente Laurent Demahis, pessoa importante da região, Louise recebeu uma educação liberal, com leituras de Voltaire e Rousseau. Após diplomar-se como professora primária, instala-se em Paris em 1856 para exercer sua profissão. Dedica-se também à poesia e logo à política no seio do movimento blanquista.
Começou então para ela um período de intensa atividade. Durante os 15 anos que se seguiram, cumpre regularmente sua função de professora. Em 1865, abre um externato e em 1868, outro curso. Publica diversos textos sob o pseudônimo de Enjolras. Pensa viver das letras, mantém correspondência de 1850 a 1879 com Victor Hugo, uma das personalidades mais respeitadas da época.
Incorpora-se ao movimento revolucionário, encontrando-se nessa época com personalidades como Jules Valles, Eugene Varlin, Raoul Rigault e Emile Eudes. Colabora em jornais de oposição como O Grito do Povo.
Em agosto de 1870, em plena guerra franco-prussiana, manifesta-se contra a prisão dos blanquistas Eudes e Brideau. Em setembro, após a queda do Segundo Império, participa do Comitê de Vigilância dos Cidadãos e é eleita presidente. Assiste-se então a desconcertantes manifestações: mulheres, crianças e guardas federais envolvem os soldados, que se confraternizam com esta multidão alegre e pacífica.
Louise fazia parte da ala mais radical dos anarquistas e incita a prosseguir na ofensiva sobre Versalhes, com o fim de dissolver o governo de Adolphe Thiers. Mostrou-se disposta a ir só a Versalhes e lá matar Thiers. É presa no campo de Satory perto de Versalhes. Assiste às execuções de amigos, entre os quais sua antiga paixão, Theophile Ferré, a quem dedica um poema de adeus: Os Cravos Vermelhos.
Entre 1871 e 1873, passa 20 meses detida na prisão de Auberive e é condenada à deportação. A imprensa governista a chama de “Loba ávida de sangue”.
Embarcada em agosto de 1873, permanece sete anos na Nova Caledônia. Ali cria o jornal Petites Affiches e edita lendas e canções. Contrariamente a certos ‘communards’, assume a defesa dos autóctones por ocasião de sua revolta em 1878. No ano seguinte obtém permissão de exercer sua profissão de professora, dando aulas inicialmente aos filhos dos argelinos deportados.
Wikimedia Commons
De volta a Paris em 9 de novembro de 1880, é calorosamente acolhida pela multidão. Retoma sua atividade de militante proferindo incontáveis palestras e intervindo em reuniões políticas. Publica sua obra Miséria em forma de folhetim, com enorme sucesso.
Em 9 de março de 1883, durante manifestação nos em nome dos “sem trabalho”, é presa e condenada a 6 anos de prisão, mais 10 de liberdade vigiada. Em janeiro de 1886, o presidente Jules Grévy concede-lhe graça. No entanto, em agosto é novamente presa por quatro meses devido a um discurso em favor dos mineiros de Decazeville. A prisão é relaxada em novembro em seguida a uma remissão da pena.
Em 22 de janeiro de 1888, após pronunciar um discurso no Teatro de la Gaité do Havre, é atacada por Pierre Lucas, que lhe desfere dois tiros. Ferida na cabeça, é levada ao hospital. A bala que se alojou no cérebro, lá ficou até sua morte, 17 anos mais tarde.
Em abril de 1890, é presa em seguida a um discurso incendiário em Viena, que provocou violentas manifestações.
Foi libertada com 60 anos, deixa Viena e parte para Paris em 4 de junho. Em julho, refugia-se em Londres, onde por alguns anos dirige uma escola libertária. Em seu retorno em 13 de novembro de 1895, é acolhida com manifestação de simpatia na gare Saint-Lazare.
Durante os derradeiros dez anos de sua vida, Louise Michel torna-se uma reconhecida figura revolucionária e anarquista. Multiplica suas conferências pela Europa.
Em 1895, funda o jornal Le Libertaire em companhia de Sebastien Faure. Em 27 de julho assiste em Londres ao Congresso Internacional Socialista dos Trabalhadores. Muito vigiada pela polícia, é presa várias vezes. Condenada a seis anos de cárcere, é libertada ao cabo de três por intervenção do premiê Clemenceau, a fim de rever sua mãe no leito de morte.
Alguns meses antes de morrer, de outubro e dezembro de 1904, já com 74 anos, viaja em companhia de Ernest Girault pela Argélia para uma turnê de conferências.
Após uma série de palestras dada nos Alpes, vê agravada a bronquite crônica que a acompanhou por muito tempo. Os médicos julgam seu estado de saúde alarmante e concluem que está acometida de pneumonia. Morre em Marselha na casa de uma amiga. Permanece até os nossos dias como personalidade emblemática do anarquismo.
Também nesta data:
1768: Primeiro circo moderno é encenado em Londres
1873 – Morre Luis Napoleão Bonaparte, conhecido como Napoleão III
1889 – Financista Alexandre Stavisky é encontrado morto em Chamonix