Quarta-feira, 14 de maio de 2025
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Em 26 de novembro de 1918, depois de encerrada a Primeira Guerra Mundial, a Assembleia Nacional de Montenegro aprovou uma moção para unificar o pequeno principado balcânico ao vizinho maior, o Reino da Sérvia. Nasceu naquele momento a semente da união de nações eslavas dos Bálcãs que viria a ser a Iugoslávia

Processo de unificação Montenegro e Sérvia

Montenegro foi um dos menores estados independentes no Leste Europeu e um dos mais antigos, atravessando séculos como nação soberana, desde a Idade Média. Nasceu da Dúclia, uma antiga província greco-romana que recebeu independência do Império Bizantino em 1042. 

O principado montanhoso – cujo nome faz referência aos picos ricos em minérios, como carvão – resistiu aos turcos e, mesmo anexado ao Império Otomano, manteve certa autonomia na condição de Estado vassalo. Recuperou a plena independência no mesmo ano que a Sérvia, em 1878. 

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O país sempre esteve estreitamente ligado à Sérvia. Em verdade, o próprio povo de Montenegro é sérvio (não existindo algo como “etnia montenegrina”), o idioma é sérvio (ou servo-croata) e a religião é o cristianismo ortodoxo da Igreja Ortodoxa Sérvia. 

Assim, a unificação com a vizinha maior, proposta dentro do movimento pan-eslavista da Belle Époque, parecia natural. A dinastia reinante, da Casa de Petrović, era composta por uma curiosa linhagem de príncipes-bispos (no termo local, “vladika”) ao mesmo tempo seculares e clericais. 

O último rei, Nicolau I, casou sua filha Zorka com o rei Pedro I da Sérvia, selando assim a união entre as famílias reais. Seu filho e herdeiro, Danilo, não lhe deu netos. A sucessão, desta forma, levaria inevitavelmente à união das duas monarquias. 

Durante a Primeira Guerra, que começou justamente com o ataque da Áustria-Hungria à Sérvia, Montenegro foi aliado de primeira hora do reino vizinho, e chegou a ser invadido e devastado pelos austríacos. 

Com o final do conflito, o país tinha poucas condições de se sustentar economicamente. Por outro lado, a Sérvia precisava de uma saída para o mar, o que Montenegro poderia proporcionar. 

Além disso, ganhava força a ideia de unificação das nações eslavas, o que soou particularmente interessante para os aliados vencedores como forma de punir os impérios centrais derrotados, Áustria-Hungria e Otomano. 

Assembleia Nacional de Montenegro aprovou a unificação logo após o fim da ´Primeira Guerra Mundial; países já tinham estreita relação, já que o povo de Montengero é sérvio

Wikicommons

Assembleia Nacional de Montenegro aprovou a unificação logo após o fim da ´Primeira Guerra Mundial

Assim, ao redesenharem o mapa europeu no Tratado de Versalhes, criaram um país-tampão entre os dois impérios, unificando os povos eslavos antes separados.

Nasceria ali a “terra dos eslavos do sul”, ou Iugoslávia (do radical ‘iug’, que significa “sul” nas línguas eslavas). A unificação no novo país, sob a coroa do rei da Sérvia, foi aprovada democraticamente em cada região. 

Em Montenegro, os parlamentares se reuniram em 26 de novembro de 1918 na assembleia de Podgorica, a capital, e aprovaram por aclamação a anexação ao governo de Belgrado

Aos poucos, à união de Montenegro com a Sérvia, foram-se juntando a Croácia, a Eslovênia, a Dalmácia, a Voivodina e a mais diversificada das regiões balcânicas: a Bósnia. Montenegro ficou como província no Reino da Iugoslávia, considerada uma extensão do território etnicamente sérvio. 

Apenas ganhou um contorno e uma identidade nacional específica com o fim da Segunda Guerra, quando o regime socialista de Josip Broz Tito redividiu a Iugoslávia internamente e transformou cada nação em uma república federada. 

Montenegro passou a existir internamente em pé de igualdade com os demais entes federados. Como símbolo dessa gratidão, o nome de Podgorica foi alterado para Titogrado

Quando a Iugoslávia começou a se dissolver, em 1991, Montenegro foi a única das repúblicas onde a separação não foi nem cogitada. O longo e violento processo de desintegração federal durou toda a década de 1990, até 1999, quando a Iugoslávia foi bombardeada pela Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e perdeu o controle sobre o Kosovo (província sérvia de maioria étnica albanesa). 

Em 2003, uma solução patrocinada pelo então secretário-geral da Otan, Javier Solana, alterou o estatuto federal da Iugoslávia para uma confederação efêmera entre as duas repúblicas restantes: Sérvia e Montenegro. 

Em maio de 2006, após resistir incólume às sangrentas guerras civis que assolaram a Iugoslávia, Montenegro votou num plebiscito para deixar a confederação e voltar a ser independente, após quase 90 anos. Um dos países mais antigos da Europa passava então a ser o mais jovem.