O acordo de livre comércio entre a União Europeia e o Mercosul (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai) estaria “longe de ser assinado”, de acordo com uma fonte do Ministério das Relações Exteriores, nesta sexta-feira (02/06), que concedeu uma entrevista antes de uma viagem ao Brasil de Olivier Becht, ministro-delegado francês encarregado do Comércio Exterior.
A UE e o Mercosul chegaram a um acordo comercial em 2019, após mais de vinte anos de negociações, mas ele não foi ratificado. Um dos motivos foram as preocupações europeias com as políticas ambientais do ex-presidente de extrema-direita do Brasil, Jair Bolsonaro (2019-2022).
“Até o momento, não é um acordo fechado. Há muito trabalho a ser feito com os países do Mercosul sobre o assunto”, disse a mesma fonte diplomática durante uma coletiva online com jornalistas. Em abril, na Espanha, Lula expressou sua esperança de chegar a um acordo ainda este ano.
Olivier Becht viajará ao Brasil na segunda, terça e quarta-feira e “não irá ao país para negociar”, pois as negociações estão sendo conduzidas em nível europeu. “Mas o assunto voltará à tona” durante as discussões bilaterais, admitiu o membro do Ministério. O objetivo da União Europeia não seria renegociar os termos do acordo “mas complementá-los”, em particular para acrescentar mais condições sobre o aspecto ambiental.
Em particular, o ministro se reunirá com Geraldo Alckmin, vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Comércio e Indústria, e Maria Laura da Rocha, secretária-geral do Ministério das Relações Exteriores.
Wikicommons
Olivier Becht, ministro-delegado francês encarregado do Comércio Exterior, virá ao Brasil negociar acordo
França teme reação dos agricultores
A França também teme a reação de seus agricultores se o acordo for finalizado este ano e alguns países, como a Espanha, estavam, no entanto, interessados em avançar na questão.
Os agricultores europeus – especialmente na França – temem que o mercado europeu seja inundado por mais produtos sul-americanos sujeitos a padrões de produção menos rigorosos. Ao contrário da UE, o Brasil não proibiu, por exemplo, o uso de antibióticos como promotores de crescimento na alimentação animal.
Becht estaria indo ao Brasil e ao Chile “com o objetivo de fortalecer” a parceria estratégica com esses dois países. Ele também quer ajudar as pequenas e médias empresas francesas (PMEs) a acessar novos mercados.
“Com o Brasil e o Chile, temos um enorme potencial de crescimento econômico, pois são dois países nos quais estamos muito bem estabelecidos, portanto podemos fortalecer nossa presença”, disse a fonte. “Mas podemos fazer melhor em termos de capacidade de envio mais PMEs para os mercados brasileiro e chileno”.
Olivier Becht será acompanhado por gerentes de empresas da Airbus Helicopters, Dassault System, Engie, Poma, Spare Parts 3D e Thales. Na segunda-feira (05/06), a chefe da diplomacia francesa, Catherine Colonna, se reunirá com o chanceler brasileiro Mauro Vieira.
Ela já havia se encontrado com ele em fevereiro, durante sua visita ao Brasil, em um esforço para reavivar a parceria estratégica entre a França e o Brasil.
As relações diplomáticas entre a França e o Brasil se deterioraram durante a era Bolsonaro (2019-2022), especialmente em 2019, quando, exasperado pelas críticas aos incêndios na Amazônia, o chefe de Estado de extrema direita e dois de seus ministros insultaram o presidente francês Emmanuel Macron e sua esposa Brigitte.
O chefe de Estado francês também planeja visitar o Brasil este ano, mas ainda não foi informada a data.