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Opinião

As Damas de Branco e as sanções contra Cuba

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Berta Soler, representante das "Damas de Branco”, defende manutenção do embargo contra Cuba

Salim Lamrani

2013-05-06T17:20:00.000Z

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Durante sua turnê pelos Estados Unidos em abril de 2013, a dissidente Berta Soler, que dirige o grupo Damas de Branco, se pronunciou publicamente a favor da manutenção das sanções econômicas contra Cuba. Durante sua fala no Congresso, ela fez conhecer sua oposição a uma mudança da política de Washington: “Respeito as opiniões de todo o mundo, mas a minha, a das Damas de Branco, é que não se tire o embargo”.

As sanções, vigentes desde 1960, afetam as categorias mais vulneráveis da sociedade, isto é, as mulheres, os idosos e as crianças, sem afetar os dirigentes da nação. Por isso, a imensa maioria da comunidade internacional se opõe ao que considera um anacronismo da Guerra Fria, ao mesmo tempo cruel e ineficaz. Em 2012, pela vigésima primeira vez consecutiva, 188 nações das 192 da Assembleia Geral das Nações Unidas condenaram o estado de sítio contra a população cubana.

Wikimedia Commons

Manifestação das Damas de Branco na Igreja de Santa Rita, em Havana

Para justificar sua posição, Soler explicou que compartilha da política de hostilidade dos Estados Unidos em relação a Cuba, agregando que é indispensável para derrubar o governo cubano. “Nosso objetivo é asfixiar o governo cubano”, precisou.  Também sublinhou que para ela “o embargo [é] um pretexto” e culpou as autoridades da ilha pelas dificuldades econômicas.

O grupo “Damas de Branco” foi criado em 2003 depois da prisão de 75 dissidentes, acusados de serem financiados pelo governo estadunidense, os quais a justiça cubana condenou severamente. É composto por membros das famílias de opositores, todos os quais foram libertados depois de um acordo assinado entre a Igreja Católica, Espanha e Havana em 2010.

Soler não negou em estar em contato com a diplomacia estadunidense presente em Cuba e inclusive admitiu receber apoio da SINA (sigla em espanhol de Seção de Interesses Norte-americanos em Havana). Questionada a respeito, reconheceu que a organização foi criada sob a égide de James Cason, chefe da SINA em 2003, a quem não vacilou em chamar de “o padrinho das Damas de Braco”, agradecendo “a ajuda contínua da SINA”. A representante das Damas de Branco reivindica abertamente a ajuda dos Estados Unidos: “O mais importante é que temos sim apoio dos funcionários [da SINA]. Sempre tivemos as portas abertas”.

Max Lesnik, diretor da Rádio Miami e partidário de uma normalização das relações entre Cuba e Estados Unidos, expressou seu desacordo com Berta Soler: “Sua posição coincide com a da extrema direita cubana, herdeira da ditadura de Batista, dirigida pelo antigo congressista Lincoln Díaz-Balart, cujo pai era vice-ministro de Interior de Batista. Vai contra os interesses do povo cubano e reflete o desarranjo moral da oposição cubana.

Advogar pela manutenção das sanções econômicas enquanto elas afetam gravemente o bem-estar do povo cubano é eticamente inaceitável. Ninguém em Cuba está a favor da manutenção do embargo, nem mesmo os setores mais insatisfeitos da sociedade. Da mesma maneira, é inevitável apontar uma contradição: por um lado Soler exige aqui, nos Estados Unidos, ajuda para um grupo, e por outro, reclama mais sofrimento para seu próprio povo, pedindo a imposição de um bloqueio total, com a supressão das viagens familiares e das remessas”.
 


Mais surpreendentemente ainda, Soler também exigiu a liberação de “todos os presos políticos”. Veja bem, segundo a Anistia Internacional, atualmente não há nenhum preso político em Cuba. A agência de notícias espanhola Efe recordou que “Cuba libertou todos os presos que a Anistia Internacional qualificou como presos de consciência”.

A BBC de Londres confirma: “Foram libertados todos os presos no ano passado [2010] em virtude de um acordo conseguido pela Igreja Católica Romana, e alguns deles se exilaram na Espanha. Mas as Damas de Branco seguiram se manifestando a favor de outros 50 presos condenados por crimes violentos, tais como sequestros, que elas consideram políticos”.

Por sua vez, a agência estadunidense Associated Press observa que estes “normalmente não deveriam ser considerados presos políticos […]. Um estudo minucioso permite ver a presença de terroristas, sequestradores e agentes estrangeiros”, na lista. Sublinha que “foram condenados por terrorismo, sequestros e outros crimes violentos, e quatro deles são antigos militares ou agentes dos serviços de inteligência condenados por espionagem ou por revelar segredos de Estado”.  Alguns realizaram incursões armadas em Cuba e pelo menos dois deles, Humberto Eladio Real Suárez e Ernesto Cruz León, são responsáveis pela morte de vários civis, respectivamente em 1994 e 1997.

Por sua vez, a Anistia Internacional afirma que não pode considerar essas pessoas “presos de consciência” já que se trata de “gente julgada por terrorismo, espionagem, assim como aqueles que tentaram e inclusive conseguiram explodir hotéis. É claro que não vamos pedir sua liberdade e não os qualificaremos como presos de consciência”.

Ricardo Alarcón, antigo presidente do Parlamento cubano, foi mais preciso. A respeito das exigências das Damas de Branco, perguntou o seguinte: “Por que não dizem que estão pedindo a liberdade daquele que assassinou a Fabio di Celmo”, um jovem turista italiano assassinado em 1997 depois de um atentado a bomba?

Por estas razões, a oposição cubana se encontra ilhada em Cuba e não dispõe de  nenhum apoio popular. É a constatação lúcida de Jonathan D. Farrar, antigo chefe da SINA, em uma carta ao Departamento de Estado. Segundo ele, os dissidentes “não têm influência na sociedade cubana e não oferecem alternativa política ao governo de Cuba”.   E os que exigem mais sofrimento para o povo cubano, ainda menos.

(*) Doutor em Estudos Ibéricos e Latino-americanos da Universidade Paris Sorbonne-Paris IV, Salim Lamrani é professor-titular da Universidade de la Reunión e jornalista, especialista nas relações entre Cuba e Estados Unidos. Seu útlimo livro se chama The Economic War Against Cuba. A Historical and Legal Perspective on the U.S. Blockade), New York, Monthly Review Press, 2013, com prólogo de Wayne S. Smith e prefácio de Paul Estrade.
http://monthlyreview.org/press/books/pb3409/

Contato: lamranisalim@yahoo.fr ; http://monthlyreview.org/press/books/pb3409/ Salim.Lamrani@univ-reunion.fr
Página Facebook: https://www.facebook.com/SalimLamraniOfficiel 

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Política e Economia

Após receber carta de Bolsonaro, EUA pedem que Brasil adote “medidas imediatas” contra desmatamento

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Principal representante da Casa Branca saudou as promessas de luta contra o desmatamento ilegal no Brasil; cacique Raoni disse que são mentirosas

Redação

RFI RFI

Paris (França)
2021-04-16T22:40:00.000Z

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O governo dos Estados Unidos respondeu nesta sexta-feira (16/04) à carta enviada na véspera pelo presidente brasileiro, Jair Bolsonaro. O principal representante da Casa Branca sobre questões ambientais saudou as promessas de luta contra o desmatamento ilegal da Amazônia até 2030, mas pediu que iniciativas com resultados concretos sejam implementadas imediatamente.

"O fato de o presidente Bolsonaro ter confirmado o compromisso de eliminar o desmatamento ilegal é importante", disse o enviado especial de Joe Biden para a diplomacia climática, John Kerry. “Esperamos medidas imediatas e um diálogo com as populações indígenas e a sociedade civil para fazer com que esse anúncio se traduza em resultados concretos”, insistiu o representante de Washington em uma postagem nas redes sociais.

Na quinta-feira (15/04), a Presidência brasileira divulgou uma carta de sete páginas, antes da cúpula dos Chefes de Estado sobre a mudança climática que acontecerá em 22 de abril, na qual Bolsonaro diz estar disposto a trabalhar para cumprir as metas ambientais do país no Acordo de Paris e, para isso, pede recursos da comunidade internacional. "Queremos reafirmar nesse ato (...) o nosso inequívoco compromisso em eliminar o desmatamento ilegal no Brasil até 2030", dizia a texto.

O cacique Raoni, internacionalmente conhecido pela sua luta em defesa da preservação da Amazônia, chegou a reagir publicamente à carta de Brasília pediu ao presidente dos Estados Unidos para ignorar a promessa de Bolsonaro.

"Ele tem dito muitas mentiras", disse o líder indígena no vídeo divulgado pelo Instituto Raoni nesta sexta-feira. "Se este presidente ruim falar alguma coisa para o senhor, ignore-o (...). Ele [Bolsonaro] está querendo liberar o desmatamento nas nossas florestas, incentivando invasões nas nossas terras", acrescentou.

U.S. Department of State
Governo dos Estados Unidos respondeu nesta sexta-feira à carta enviada na véspera pelo presidente brasileiro

Biden cogitou sanções econômicas antes de ser eleito

A política ambiental do governo Bolsonaro é frequentemente criticada pelos ecologistas, mas também por vários líderes internacionais. O Brasil já foi alvo de medidas de retaliação no exterior, na tentativa de chamar a atenção para a situação na Amazônia.

Do lado dos líderes mundiais, o presidente francês Emmanuel Macron já criticou abertamente a posição de Brasília sobre a preservação do meio ambiente desde que Bolsonaro chegou ao poder. Em setembro passado, antes de ser eleito, Biden também cogitou a imposição de sanções econômicas contra o Brasil se não houvesse uma desaceleração do desmatamento.  

Muito mais próximo dos ex-presidente norte-americano Donald Trump que do atual governo democrata dos Estados Unidos, Bolsonaro informou que pretende participar da cúpula virtual sobre o clima organizada por Biden na semana que vem. Cerca de 40 liderem mundiais devem marcar presença no evento.

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