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Opinião

O massacre de Odessa: como a grande mídia camufla a situação na Ucrânia

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73 anos depois, cidade é o cenário de outro terrível crime de guerra liderado por fascistas contra civis inocentes. Este texto foi publicado em 7 de maio de 2014.

Eric Draitser/Global Research

2014-05-07T16:35:00.000Z

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Este texto foi publicado em 7 de maio de 2014. Para notícias atualizadas sobre a guerra na Ucrânia após a invasão de tropas russas, clique aqui.



Cidades orientais e ao sul da Ucrânia tornaram-se campos de batalha enquanto a junta em Kiev enviou assassinos militares e paramilitares para essas regiões.

 Ao mesmo tempo, a mídia, com seu papel crítico de moldar a opinião pública, também se tornou um dos principais teatros desse conflito, sendo a propaganda do Ocidente uma das armas mais potentes.


Setenta e três anos atrás, em outubro, o infame “Massacre de Odessa” de 1941, que matou mais de 30 mil judeus na cidade portuária ucraniana e nas cercanias, foi encabeçado por tropas fascistas romenas em colaboração com seus aliados e patrocinadores nazistas. O massacre, apenas mais um contra judeus e outras minorias na Ucrânia, é um marco histórico fundamental para as pessoas de Odessa (e para todos aqueles da antiga União Soviética que lutaram contra o fascismo durante a guerra) quanto à depravação, à desumanidade e à barbárie por parte dos nazistas e de seus colaboradores.

Wikicommons
E agora, 73 anos depois, Odessa é o cenário de outro terrível crime de guerra liderado por fascistas contra civis inocentes.

[Nota do jornal The New York Times sobre o Massacre de Odessa]

O fogo e o massacre no prédio do sindicato, que matou dezenas de ativistas antifascistas e trabalhadores do prédio, servirá como um doloroso testemunho para a luta em andamento entre a junta em Kiev e os soldados paramilitares neonazistas.

Esse evidente crime de guerra, bem como inúmeros outros cometidos pelo Right Sector e outras milícias ultranacionalistas (leia-se “fascistas”), deveria ser, sem dúvidas, o assunto estampado pelas manchetes em todo o mundo.

No entanto, parece que, de alguma fora, a matança de inocentes, e a questão da responsabilidade pelos crimes entre quem ordenou e realizou o massacre, tem sido completa e sistematicamente distorcida e/ou omitida da narrativa ocidental.

Em vez disso, a grande mídia tentou deliberadamente ocultar a verdadeira natureza dos eventos daquele dia, bem como dos que foram conduzidos posteriormente, a fim de atenuar o impacto da evidente, e totalmente condenatória, criminalidade das milícias fascistas e de seus líderes e financiadores.

Ao usar uma linguagem sutil e codificada, que deliberadamente minimiza a barbárie desses eventos e transfere a culpa de Kiev para Moscou, a grande mídia ocidental mais uma vez atua como um servo obediente do establishment norte-americano e europeu.

O que eles estão dizendo (e não dizendo)

Ao examinar a forma como foram reportados os eventos em Odessa, além de outros que ocorreram em outras regiões desde o dia 1º de maio, observam-se algumas características em comum. Em primeiro lugar, e mais importante, está a linguagem usada para descrever os grupos antifascistas, que compõem a maioria das vítimas em Odessa.

Em um miseravelmente desonesto e tendencioso artigo publicado pela Reuters, intitulado “Ucrânia envia forças policiais especiais para controlar Odessa”, os autores usam termos críticos, como “separatistas pró-Rússia” e “militantes” – na realidade, usa-os de forma intercambiável, de maneira a “rotular” os ativistas como qualquer coisa, menos ucranianos pacifistas lutando por seus direitos.

Naturalmente, a frase “separatistas pró-Rússia” é totalmente tendenciosa, por vários motivos. Primeiro, os ativistas antifascistas e anti-junta militar (que é como eles deveriam ser corretamente caracterizados) não são separatistas no real sentido da palavra.

Eles não defendem uma separação total, mas têm protestado há semanas por uma Ucrânia federalizada, na qual os direitos dos russófonos e de outras minorias seriam respeitados e constitucionalmente garantidos.

Eles estavam reivindicando que seus laços históricos, familiares e econômicos com a Rússia não deveriam ser cortados à força por um governo ilegal em Kiev e suas tropas de choque paramilitares. Longe de serem “separatistas”, esses ativistas – muitos dos quais já foram mortos, feridos e/ou presos – estão protestando por uma Ucrânia justa e pacífica, em vez de um governo intimidatório da junta.

É igualmente importante observar o uso da palavra “militantes” para descrever os ativistas contrários à junta. A implicação de usar tal designação tem a ver com colocar a culpa dos sérios crimes que foram cometidos.

Em essência, ao se referir às vítimas dos crimes como “militantes”, isso justifica a ação do Right Sector e de outros fascistas ao retratá-la como necessária e justa na luga contra os “militantes pró-Rússia”. Além disso, chamar os ativistas de militantes é uma tentativa de separar o governo ilegal de Kiev das óbvias acusações de crimes de guerra que eles enfrentariam se os porta-vozes da propaganda midiática realmente reportassem os fatos tais como ocorreram. E, ao usar tal termo, a mídia está, de fato, dando cobertura política a um regime criminoso apoiado pelo Ocidente. Evidentemente, isso era de se esperar.

O mesmo artigo da Reuters foca amplamente na ação do Ministro do Interior da junta, Arsen Avakov, de criar uma nova “unidade de força especial” para substituir a polícia de Odessa que, de acordo com Avakov, cometeu um erro “grotesco” ao libertar dezenas de sobreviventes que estavam sob custódia e foram considerados prisioneiros sem receber cuidado médico adequado. O texto discute a afirmação de Avakov sobre a criação da “Kiev-1”, uma unidade especial feita de “'ativistas civis' que queriam ajudar a cidade do Mar Negro 'nesses dias difíceis'”.

Naturalmente, não há menção direta a quem, exatamente, fará parte dessa nova força especial, mas apenas uma referência ao fato de que “as unidades as quais Avakov surgiram parcialmente da revolta contra Yanukovich no início deste ano”. Esta é, sem dúvida, uma referência velada ao Right Sector e a outras forças paramilitares fascistas que, ao contrário da polícia regular e do exército ucraniano, podem ser utilizadas por Kiev para cometer crimes de guerra e outras atrocidades contra quem quer que se pareça com “Moskals” (um termo pejorativo para designar russos e russófonos).

Efe

Familiares velam corpo de uma das pessoas mortas em incêndio em Odessa, Ucrânia. Episódio foi mal reportado pela imprensa

Outra característica crucial do artigo que serve como propaganda da agenda do Ocidente é a descrição de eventos que levaram a polícia de Odessa a libertar dezenas de sobreviventes-que-se-tornaram-prisioneiros. Os autores do texto descrevem a demonstração pacífica em torno da sede da polícia reivindicando a libertação de amigos e familiares de maneira totalmente desonesta. O artigo diz: “A raiva de Kiev na segunda-feira era por conta da decisão da polícia de Odessa de libertar 67 militantes pró-Rússia depois que apoiadores cercaram e atacaram uma sede da polícia [dando ênfase] no domingo”.

Ao descrever o protesto pacífico como um ato em que “se cercou e atacou”, o leitor tem a impressão de que “separatistas” (também identificados como “terroristas” e “rebeldes” pelo regime criminoso de Kiev e por seus financiadores no Ocidente) realmente iniciaram a violência e o conflito. Naturalmente, embora o oposto seja verdadeiro, a semente é plantada na consciência pública. Assim os ativistas são rotulados, como um produto de consumo comum ou uma campanha de relações públicas.

E assim, o artigo da Reuters é bem-sucedido ao tornar obscura a natureza da nova força, seu real papel, os crimes cometidos, e a natureza da oposição. Ao fazer isso, a Reuters, tal como o New York Times e seus irmãos da grande mídia, disseminam competentemente informações falsas e desinformações a serviço do sistema imperial EUA-UE-OTAN.

Na verdade, o aqui citado New York Times, recusando-se a ficar para trás, publicou o seu próprio altamente tendencioso e propagandístico texto sobre os eventos em Odessa. Intitulado “Controle ucraniano enfraquece e caos se dissemina”, o artigo apresenta Kiev e, especificamente, o primeiro-ministro da junta, Yatsenyuk (escolhido a dedo pelo Ocidente), como vítimas da traição dos russos, retratando-o como uma vítima da agressão e provocação russa. Depois de apresentar a fala inflamatória e cheia de distorções na qual ele culpou as vítimas em Odessa, referindo-se aos eventos como “resultado de uma bem preparada e organizada ação contra pessoas, contra a Ucrânia e contra Odessa”, o repórter do Times continuou com o papagaio de Kiev e com os pontos elencados por Washington sobre o assunto.

O texto relata que “Yatsenyuk disse que a violência mostrou que a Rússia queria reacender a agitação em Odessa, bem como nas cidades a leste da Ucrânia”. Imediatamente após essa citação, que é produto de boatos, e não uma evidência substancial, o artigo continua a discutir as “ambições imperiais” da Rússia, tal como evidenciadas pela Crimeia e pelo conhecido desejo de Putin de reestabelecer a dominação russa sobre a “Novorossiya” (Nova Rússia). Essa é uma tática padrão de desinformação e propaganda: criar uma associação na mente do leitor, de forma que uma relação abstrata (Manifestantes=militantes russos=Putin=imperialismo russo) se torne a rubrica poe meio da qual todos o desenlace é medido e entendido.

Finalmente, o texto do Times tenta ocultar a realidade tanto de Odessa como da região oriental de Donetsk, que tem sido o centro de muitas organizações antifascistas e contrárias à junta, incluindo a declaração da República Popular de Donetsk. O jornalista escreve: “A violência de sexta-feira e a libertação de prisioneiros no domingo evidenciou uma distinção entre Odessa e o oriente: nos dois lugares, a polícia apoiou os rebeldes. Mas aqui, ativistas locais pró-Kiev constantemente encontram gangues de rua prontas para confrontar o grupo Novorossiya, e as consequências foram letais na sexta-feira”. Em essência, o propósito dessa declaração tem quatro lados.

Primeiro, para confirmar a afirmação feita por Yatsenyuk de que as forças policiais são “criminosas” porque se recusaram a fazer parte da repressão e da violência direcionada a seus irmãos e irmãs, primos e vizinhos, desconsiderando por completo o fato de que isso, sem dúvidas, indica que a maioria da população não quer nem saber da tão mencionada operação “antiterror” que está sendo conduzida pelas forças de Kiev.

Segundo, a declaração mostra quão tendencioso é o manejo da opinião pública por parte da grande mídia. O autor desconsidera, sem qualquer explicação, o fato de que, em cada cidade do sul e do leste, as unidades da polícia e do exército passaram a ficar do lado dos manifestantes em vez de obedecer às ordens criminosas vindas de Kiev. Uma reportagem objetiva evidenciaria esse fato ao demonstrar que a junta em Kiev não governa com o consentimento das pessoas e que, de fato, trata-se de uma minoria governando por meio da força, da intimidação e do apoio do Ocidente. Ao enterrar esse aspecto importante da história, o autor e seus editores se engajaram em uma propaganda completamente transparente a serviço do Ocidente.

Terceiro, a declaração ilustra a precariedade ao apresentar a versão dos fatos alinhada a Washington. Ao usar a frase  “ativistas locais pró-Kiev”, o texto oculta por completo a verdadeira natureza das forças que cometeram a atrocidade. Longe de serem “ativistas”, as tais forças “pró-Kiev” eram, na verdade, grupos nazistas paramilitares, incluindo o Right Sector, que não apenas provavelmente acendeu a primeira chama, mas também documentou em vídeo enquanto batia nos sobreviventes com correntes e cassetetes, negando-lhes cuidado médico de emergência, entre outros. Mas, ao descrever esses criminosos como ativistas, o Times faz seu trabalho de servo para Washington e Kiev, estabelecendo uma estrutura tendenciosa por meio da qual os leitores saberão sobre o conflito.

Finalmente, a forma como o texto coloca os grupos, como “ativistas pró-Kiev” contra o “grupo Novorossiya” é uma manobra transparente de propaganda para, mais uma vez, criar uma falsa dicotomia nas mentes de leitores mal-informados. As turbas de fascistas são apenas “ativistas”, ao passo que os manifestantes anti-Kiev são o “grupo Novorossiya,” o que significa que eles não são assumidamente ucranianos, mas sim agentes do imperialismo russo. O autor nega propositadamente a ação desses manifestantes a fim de legitimar as ações criminosas dos fascistas e deslegitimar os protestos pacíficos da oposição antifascista. “Desonestidade” pode não ser uma palavra forte o suficiente para descrever tais ardilosas táticas jornalísticas.

Os terríveis acontecimentos em Odessa, bem como os ataques mortais em Slovyansk, Kramatorsk e outras cidades orientais, marcam uma virada no conflito da Ucrânia. Mais do que um simples momento importante, essas ações criminosas representam um “ponto a partir do qual não há mais volta”, o momento em que se destruíram quaisquer esperanças de uma resolução pacífica e não sangrenta para a crise. Apesar da propaganda serviçal da grande mídia ocidental, o mundo não pode e não deveria perdoar esses horríveis crimes de guerra. Indo direto ao ponto, eles deveriam servir como lembrança de que a luta pela Ucrânia tem um preço – que não poderia ser quantificado em dólares, euros ou rublos. Mas agora, graças a Kiev, Bruxelas e Washington, o preço será cobrado com sangue.

* Originalmente publicado no Global Research

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Guerra na Ucrânia

Em Davos, Zelensky pede mais sanções contra Rússia

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Atual edição do Fórum Econômico Mundial tem foco nas consequências provocadas pela guerra na Ucrânia

Redação Opera Mundi

São Paulo (Brasil)
2022-05-23T14:33:00.000Z

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O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, discursou nesta segunda-feira (23/05) na sessão de abertura do Fórum Econômico Mundial de Davos e pediu mais sanções contra a Rússia, a quem acusa de ter "interesses sanguinários".

O evento começou depois de dois anos de interrupção por causa da pandemia de covid-19. A atual edição é marcada pela exclusão da Rússia e tem foco nas consequências provocadas pela guerra na Ucrânia, além da desaceleração no crescimento global. O fórum acontecerá ao longo desta semana em Davos, na Suíça.

Zelensky discursou ao público por videoconferência e recebeu muitos aplausos da pessoas presentes no evento.

Zelensky/Twitter
Atual edição do Fórum Econômico Mundial tem foco nas consequências provocadas pela guerra na Ucrânia

O mandatário pediu "sanções máximas" contra o país liderado por Vladimir Putin e defendeu a necessidade de um "completo embargo ao petróleo russo e da exclusão dos bancos de Moscou dos sistemas globais".

"Este é o momento em que se decide se a força bruta governará o mundo. Se isso acontecer, não fará mais sentido organizar comícios como o de Davos", concluiu Zelensky.

Os valores para a reconstrução da Ucrânia também deverão ser debatidos no fórum. O mandatário, por sua vez, afirmou que Kiev necessitará de pelo menos US$ 5 bilhões por mês para conseguir se reconstruir. 

(*) Com Ansa. 

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