Nos antigos impérios, quando o imperador se mostrava incapaz de permanecer no cargo, fosse por excesso de ambição, fosse por insanidade, procurava-se um jeito de retirá-lo. Seus próprios cortesãos tomavam a inciativa, às vezes de assassiná-lo, às vezes de afastá-lo de maneira menos radical.
Nos tempos mais amenos de hoje, imagino que a segunda alternativa deve bastar.
Mas cadê os nossos Brutus?
Desde os primeiros momentos do governo, ficou claro que a permanência de Bolsonaro no governo era um desastre certo, não só para o Brasil, mas para a humanidade. O descaso absoluto com a questão ambiental já era suficiente. Agora, com a pandemia de coronavírus, as consequências da manutenção de um mentecapto irresponsável na Presidência se tornam ainda mais evidentes – e a necessidade de removê-lo de lá, ainda mais urgente.
QUEREMOS CONHECER VOCÊ MELHOR, LEITOR E ESPECTADOR DE OPERA MUNDI. CLIQUE AQUI
Não seria necessário um refugiado haitiano para nos dizer isso.
Pois eu leio no jornal de hoje que há um movimento “ainda restrito” de redução do apoio a Bolsonaro entre os conservadores brasileiros. Um dos entrevistados, um professor do qual eu nunca tinha ouvido falar mas que a reportagem diz ser uma sumidade dentro do conservadorismo tupiniquim, afirma estar arrependido de não ter votado nulo em 2018.
Votado nulo???
Quase um ano e meio do desgoverno mais absurdo da história do país, quiçá da humanidade, com o presidente da República fazendo o que pode para transformar uma crise sanitária já grave por si mesma numa hecatombe com potencial para matar dezenas de milhares de pessoas, e o conservador faz mea culpa para dizer que devia ter anulado o voto? Que a opção de ser governado pelo professor Fernando Haddad, a quem pode faltar muita coisa – pro meu gosto, uma boa dose de radicalidade – mas certamente não faltam preparo e bom senso, é a seu ver igual a ficar nas mãos desses apóstolos da irracionalidade e da estupidez?
Planalto
Desde os primeiros momentos, ficou claro que a permanência de Bolsonaro no governo era um desastre certo
Estamos vivendo um momento dramático. Está ameaçado o pouco que resta da nossa democracia. Está ameaçado o que resta do nosso Estado. Estão ameaçadas a saúde de todos nós e a vida de centenas de milhares. A possibilidade de instauração do caos é palpável, está na nossa frente.
Nesse momento, diante de um governo que é mais do que inoperante, um governo que trabalha ativamente para promover o pior, as forças políticas deveriam se unir para uma intervenção emergencial, que garanta uma resposta básica à crise sanitária e social.
Cabe à direita brasileira decidir o que ela julga mais importante salvar: sua vitória histórica face à classe trabalhadora, às mulheres, aos pobres, obtida em 2016 e 2018, ou o Brasil e seu povo.
*Publicado originalmente no Facebook do autor