Lucas Mauricio/Opera Mundi
Diferentemente do que ocorreu no Brasil em 2013, muitos idosos têm ido às ruas para protestar na Tailândia
Desde o final de novembro, a Tailândia vive uma onda de protestos pela saída da primeira-ministra, Yingluck Shinawatra. Como reação às manifestações, o governo anunciou a realização de eleições no dia 2 de fevereiro, mas a medida não foi suficiente para acalmar a população, que agora reivindica a renúncia de todo o gabinete e sua substituição por um conselho não eleito que reforme o sistema político, antes de ser convocado um novo pleito.
Os protestos continuaram neste ano e chegaram ao seu ápice no início desta semana. Na segunda-feira, dia 13 de janeiro de 2014 (ano de 2557 segundo o calendário tailandês, o qual adota o começo da Era Budista em 543 AC como marco zero), Bancoc, capital da Tailândia, parou. A maior e mais populosa cidade do país, normalmente enredada por um fluxo delirante de pessoas de todos os tipos, carros, motos, tuk-tuks e barcos, ficou paralisada pelas massas que foram às ruas, realizaram comícios e acamparam em diversos lugares da metrópole. Sete avenidas de grande importância foram bloqueadas. Os estabelecimentos comerciais fecharam as portas e, por largas zonas urbanas, poucas almas eram avistadas.
No entanto, nos pontos em que o levante se desenrolava, milhares de pessoas se aglomeravam para expressar sua indignação e revolta contra os dirigentes políticos. Ao contrário do que se viu no Brasil nas chamadas “Jornadas de Junho”, em 2013, a maioria dos manifestantes em Bancoc não era jovem e/ou estudante. Tratava-se de uma formação heterogênea na qual impressionava a quantidade de manifestantes com mais de 40 anos e até mesmo de idosos. Preponderantemente, mulheres. Famílias com crianças também foram às ruas para protestar.
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Rei da Tailândia, Bhumibol Adulyadej é o monarca que está há mais tempo no poder no mundo
Cartazes clamavam por maior rigor nos crimes de corrupção, respeito às leis e às decisões dos tribunais. Alertavam que a democracia não é um “cheque em branco”, que permite aos governantes agirem conforme seu livre-arbítrio. E ainda: pediam por reformas políticas antes das próximas eleições, previstas para 2 de fevereiro.
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Poucos policiais foram vistos acompanhando as manifestações. Depredação patrimonial e agressões também não foram vistas, ao menos por nós. Tudo correu num clima natural e até mesmo festivo em alguns momentos, como se fosse uma celebração do povo de Bancoc na luta pela melhoria do sistema politico.
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É de se notar, por outro lado, que as críticas não eram dirigidas contra o poder monárquico. Por todos os cantos, nas conversas com participantes das manifestações e nas estampas de suas camisetas, transparecia um profundo e autêntico respeito pela figura do Rei Bhumibol Adulyadej (Rama IX). O monarca tailandês parece inspirar confiança na população. Sua autoridade não é colocada em questão durante a efervescência politica dos últimos 50 dias.
Nos dias seguintes aos protestos de 13 de janeiro, ainda se observa largas zonas e edifícios ocupados pela população de Bancoc por meio de tendas, nas quais pequenos e médios comícios são realizados com palanques improvisados. Aparentemente, o rebuliço politico que se instalou na cidade não dá sinais de refluxo. O que será de Bancoc e da Tailândia daqui para frente ainda é uma incógnita.
Lucas Mauricio/Opera Mundi