Se você quiser transformar a economia, terá de reduzir Wall Street ao devido tamanho. Uma maneira de fazer isso é taxar as atividades especulativas de curto prazo que dominam e distorcem os mercados financeiros.
Para os investidores comuns, os custos seriam irrisórios, como uma minúscula taxa de seguro para protegê-los contra quebras causadas pela especulação. No entanto, para os grandes especuladores, os maiores responsáveis pela crise financeira, o imposto poderia elevar o custo da negociação de derivativos altamente alavancados e o flipping de ações a ponto de desencorajar os comportamentos mais perigosos.
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Lembram-se do “flash crash” de 6 de maio de 2010, quando o índice Dow Jones mergulhou quase 1.000 pontos? Se um imposto de apenas 0,25% sobre cada transação estivesse em vigor só nos vinte minutos mais frenéticos daquele dia, os negociadores teriam encarado US$ 142 milhões em taxas.
E lembram-se dos swaps de calote de crédito da AIG? Um imposto sobre a especulação financeira poderia não ter detido aqueles tolos gananciosos, mas pelo menos o Tio Sam teria arrecadado cerca de US$ 1,1 bilhão com as negociações.
O Centro de Pesquisa Econômica e Política prevê que um imposto sobre a negociação de ações, derivativos e outros instrumentos financeiros desencorajaria a especulação excessiva e renderia cerca de US$ 150 bilhões por ano. Isto seria suficiente, por exemplo, para preencher os vazios da Seguridade Social, e ainda sobraria dinheiro para atender a outras necessidades domésticas e internacionais.
Assim, os políticos dos EUA devem estar agarrando a ideia como uma solução para os problemas de déficit do país, certo? Não exatamente. Por mais de um ano, um variado conjunto de organizações trabalhistas, de consumidores, ambientais, de saúde global e outros grupos progressistas defenderam a ideia, como parte de uma campanha internacional mais ampla. Mas, embora os congressistas tenham apresentado 11 projetos de lei para criar várias formas de impostos sobre a especulação, nenhum ganhou verdadeiro impulso.
Em 2009, segundo um telegrama divulgado pelo Wikileaks, o ex-primeiro-ministro britânico Gordon Brown tentou o equivalente diplomático de um maul do rúgbi para convencer o secretário do Tesouro Timothy Geithner a aceitar um acordo do G-2- sobre impostos sobre a especulação financeira. Tal coordenação internacional, embora não seja necessária, ajudaria a tratar de temores sobre a potencial evasão fiscal.
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Mas Brown também acabou de mãos vazias. A explicação de Geithner: “Não vi uma versão disso que eu acredite que funciona.” Talvez ele estivesse ocupado demais socorrendo Wall Street para estudar a questão. Ao redor do mundo, mais de uma dúzia de países já recolhem alguma forma de imposto sobre transações financeiras. Uma taxa britânica sobre negociações com ações arrecada, sozinha, entre US$ 5 bilhões e US$ 6 bilhões por ano.
Se mais países começarem a arrecadar receitas consideráveis com impostos sobre a especulação, os políticos dos EUA poderão enxergar a luz. E as perspectivas de avanço em outros lugares são fortes. Em março, o Parlamento Europeu defendeu um imposto sobre transações válido para toda a União Europeia, baseado em um relatório que previa quase 200 bilhões de euros por ano com uma taxa de 0,01% a 0,05% sobre cada negociação.
O presidente francês, Nicolas Sarkozy, anunciou planos para lançar uma “coalizão de pioneiros” com a chanceler alemã, Angela Merkel, e outros na reunião de novembro dos líderes do G-20. Seria uma primeira oportunidade para o presidente Obama juntar-se a eles e prometer fazer o que é certo para a crise fiscal de curto prazo do país e para a saúde e a estabilidade de longo prazo do mundo. Esperemos que ele não veja este momento como uma boa chance para ir ao banheiro.
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*Artigo publicado originalmente no site The Nation.
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