Perante o genocídio em Gaza, prestar solidariedade de forma concreta ao povo palestino se dá através do boicote a Israel. Nosso coletivo apoia o movimento de Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS), uma forma de resistência não violenta lançada pela sociedade civil palestina em 2006, como um apelo à comunidade internacional para pressionar Israel a respeitar o direito internacional. Suas reivindicações são: o fim da ocupação israelense nos territórios invadidos desde 1967; garantia do direito de retorno aos refugiados expulsos de suas casas desde a criação do Estado e cidadania plena com direitos iguais a todos os habitantes do território. Esses três pontos reivindicados pelo movimento não definem de antemão estruturas políticas específicas, havendo espaço para a negociação de como serão implementados.
Ao convocar o rompimento de relações diplomáticas, comerciais, militares, acadêmicas e esportivas com governo, empresas e insituições dentro e fora de Israel que contribuem com a ocupação e o massacre do povo palestino, o BDS se coloca como um apelo geral à não cooperação com um estado de apartheid, inspirado nas estratégias não violentas de luta do povo negro na África do Sul. Para que fosse alcançada a dissolução de um estado constitucionalmente racista na ocasião, a pressão da comunidade internacional foi fundamental, e por isso acreditamos ser de vital importância que o governo brasileiro rompa essas relações, em especial os acordos firmados nos últimos anos pelas gestões dos presidentes Temer e Bolsonaro, e aprovados pela Câmara dos Deputados no dia 18 de Outubro deste ano, enquanto assistíamos ao vivo o maior massacre contra o povo palestino já perpetrado na história.
Os acordos aprofundam não só a cumplicidade do Brasil com os crimes contra a humanidade perpetrados por Israel, como dão aval para que o genocídio e o apartheid continuem. Além disso, a importação brasileira de tecnologias militares e de controle de populações agravam as violações de direitos humanos, o racismo e a militarização em nosso país, conforme alertam os movimentos negros e de favelas. É fundamental não só para a libertação Palestina, como para a garantia da vida das populações negras, periféricas e indígenas no Brasil, que essas relações iniciadas há mais de vinte anos, e ampliadas no governo Bolsonaro, sejam rompidas. Não é suficiente que o atual governo admita que há um genocídio em curso, mas que mantenha esse tipo de cooperação com seus perpetradores.
IDF / Wikicommons
Caças israelenses sobrevoam o território de Israel durante aniversário do Dia da Independência, em 2023
Importante também ressaltar que o boicote se dirige a instituições e não a indivíduos, sendo uma estratégia de defesa e um recurso de pressão política desvinculado de quaisquer discursos de ódio de caráter discriminatório contra judeus.
É urgente que o mundo se mobilize perante o Estado israelense, que constantemente ignora dezenas de leis internacionais e embarca tranquilamente em crimes de guerra. A segurança, seja para os palestinos, israelenses ou brasileiros, não é garantida com armas, postos de controle, muros e militarização. É preciso lutar por uma definição que seja construída através da solidariedade e justiça.
(*) O coletivo Vozes Judaicas por Libertação é uma organização formada por ativistas judeus pela libertação da Palestina e por um judaísmo além do sionismo.