14 de Julho, data da festa nacional da França, mas a imprensa francesa não está em clima de comemoração. Os jornais aproveitam a ocasião para fazer uma análise do fim do prazo dos 100 dias estabelecido em abril pelo presidente francês, Emmanuel Macron, para colocar o país de volta nos trilhos após a revolta com a promulgação da controversa reforma da Previdência, sem a votação final do Parlamento.
“Os cem dias de Macron terminam na indefinição” é manchete no jornal Le Figaro. O diário afirma que a promessa de “calma, união, ambições e ações a serviço da França” foi atropelada por uma tragédia que degradou ainda mais o clima social no país, a morte do adolescente Nahel por um policial.
Uma pesquisa do instituto Odoxa-Backbone Consulting, para o jornal Le Figaro, aponta que 78% dos franceses acreditam que o presidente não atingiu os objetivos fixados por ele: de colocar ordem e justiça no país, além de avançar em questões de trabalho e de bem-estar social. 81% dos entrevistados se mostram particularmente preocupados com a ordem e a justiça na França.
Pior ainda – reitera o diário – Macron não discursou neste 14 de julho, desrespeitando uma tradição dos chefes de Estado da França no dia da festa nacional e descumprindo uma promessa que fez há poucos meses.
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Macron não discursou neste 14 de julho, desrespeitando uma tradição dos chefes de Estado da França
“Ele estabeleceu aos franceses um compromisso neste 14 de julho”, afirma o site do jornal Le Monde, que também não deixa passar em branco a atitude do presidente. O diário enumera o plano apresentado pela primeira-ministra Élisabeth Borne em 26 de abril, quando determinou os setores aos quais o governo traria “soluções concretas” e “ações para mudar a vida dos franceses”, como na área da saúde, trabalho, economia, meio ambiente e imigração.
A matéria lembra que todos os pontos citados pela premiê já faziam parte dos objetivos do governo, alguns deles eram inclusive promessas de campanha de Macron e não têm nada de novo.
Reforma ministerial
Le Monde também destaca que o Palácio do Eliseu, sede da presidência francesa, garante que Macron se pronunciará em breve sobre o fim do prazo dos 100 dias. Toda a imprensa francesa aposta que se nesse prometido discurso o chefe de Estado anunciará uma reforma ministerial.
O suspense deixa os nervos dos ministros à flor da pele, avalia o jornal Le Parisien. “O que Macron tem na cabeça?”, questiona o diário, tentando desvendar seus próximos passos, até o momento imprevisíveis mesmo para a alta cúpula do governo. Sob anonimato, diversas fontes do governo divergem nas previsões: alguns garantem que o suspense é uma forma do presidente avaliar como seus ministros resistem ao estresse, outros dizem que, com a demora, ele quer “mostrar quem manda”.
O único grande consenso entre os jornais franceses é que Élisabeth Borne será substituída.