“Hoje, devolvemos os Bronzes do Benim ao lugar ao qual eles pertencem; ao povo da Nigéria”, afirmou a ministra alemã do Exterior, Annalena Baerbock, durante a cerimônia oficial de entrega em Abuja, nesta terça-feira (20/12). “Estamos corrigindo um erro.”
Os 22 artefatos de bronze repatriados são parte de uma coleção de milhares de peças datadas a partir do século 16 que estavam no palácio real da cidade do Benim quando foram saqueadas por forças britânicas, em 1897. Hoje, estão espalhadas por museus na Europa e nos Estados Unidos.
A ministra alemã da Cultura, Claudia Roth, disse se tratar de um dia histórico. “Queremos devolver algo que nunca pertenceu a nós”, afirmou, durante a cerimônia na capital nigeriana.
“Esse ato de restituição significa o reconhecimento da injustiça de um passado colonial, quando tesouros roubados eram apropriados”, afirmou Roth à DW. Segundo a ministra, a devolução dos bronzes também é uma tentativa de “devolver a identidade cultural que roubamos”.
Os tesouros são uma pequena parcela dos 1.130 artefatos roubados que estão em diversos museus na Alemanha. Os objetos em bronze, marfim e metais preciosos estão entre os trabalhos artísticos mais importantes da história do continente africano.
“Há 20 anos, até mesmo há dez anos, ninguém poderia imaginar que esses bronzes retornariam à Nigéria, uma vez que os obstáculos para conseguir a repatriação pareciam insuperáveis”, disse o ministro nigeriano da Informação, Alhaji Lai Mohammed. “Hoje, no entanto, com esse gesto pioneiro de uma nação amiga, a Alemanha, essa história foi mudada.”
A Nigéria planeja comemorar o retorno dos artefatos com uma grande exposição no início de 2023. A mostra permitirá à população conhecer os objetos devolvidos, comemorou o diretor-geral da Comissão Nacional de Museus e Documentos da Nigéria. “Parte de nossa história, de nossa identidade, está retornando.”
“Uma parte de vocês”
“A arte vive na história, e a história vive na arte”, afirmou Baerbock em seu discurso em Abuja, citando uma frase da escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie.
“A arte nos diz quem somos. A arte dá forma à nossa percepção sobre nós mesmos e sobre o mundo”, acrescentou. “É por isso que não estamos devolvendo simples objetos a vocês, povo nigeriano, no dia de hoje. Aprendemos com vocês: o que estamos devolvendo é uma parte de sua história, um parte de quem vocês são.”
Wikicommons
Tesouros são pequena parcela dos 1.130 artefatos roubados que estão em diversos museus na Alemanha
Os artefatos repatriados estavam em museus em Berlim, Colônia, Dresden, Hamburgo, Leipzig e Stuttgart. Em junho, os museus transferiram os direitos de propriedade dos Bronzes do Benim. No entanto, alguns itens possuem acordos de empréstimo, para que possam ser futuramente exibidos na Alemanha após a devolução.
Na semana passada, a cidade alemã de Colônia devolveu simbolicamente 92 itens a Abba Isa Tijani e ao embaixador nigeriano na Alemanha, Yusuf Maitama Tuggar. Ambos iniciaram uma viagem pelo país para coletar a primeira leva dos Bronzes do Benim.
Lidar com o passado colonial
Baerbock reiterou que a Alemanha precisa confrontar seu papel nos saques de arte colonial e seu fracasso em devolver esses objetos nas décadas anteriores.
“Autoridades de meu país chegaram a comprar os bronzes, sabendo que eles haviam sido roubados”, afirmou. “Depois disso, ignoramos por muito tempo os apelos da Nigéria para que os devolvêssemos. Foi errado tomá-los e também mantê-los”.
“Essa é a história do colonialismo europeu”, acrescentou. “É uma história na qual o nosso país desempenhou um papel sombrio, causando enorme sofrimento em diferentes partes da África”.
A Nigéria planeja construir um museu moderno exclusivamente para expor e armazenar os Bronzes do Benim.
A ministra Roth diz que a restituição também é um “pré-requisito para o fato de que falamos, aqui e agora, de arte moderna, de cooperação entre museus e da criação de planos em comum, para que possamos ajudar na construção de um novo campus e promover o trabalho arqueológico”.
A Alemanha se comprometeu a enviar ajuda financeira para o novo museu, além de promover a cooperação e escavações arqueológicas conjuntas entre especialistas dos dois países.