Após dois dias de reuniões entre os ministros da Defesa dos 12 países da Unasul (União das Nações Sul-Americanas), foi constituído hoje (10), em Santiago do Chile, o organismo que pretende coordenar atividades de segurança na região: o Conselho de Defesa Sul-Americano.
Embora não haja nenhum conflito propriamente dito para ser administrado, o órgão surge em meio a algumas tensões e provocações, causadas por temas conturbados como a antiga disputa territorial entre Peru e Chile e a recente invasão colombiana no Equador, que acabou envolvendo a Venezuela.
O conselho surgiu a partir de uma proposta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em maio de 2008, com o intuito de evitar que situações como o ataque militar da Colômbia a um acampamento das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) em território equatoriano se repetissem.
Na ocasião, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, ordenou a mobilização de suas tropas ao longo da fronteira com a Colômbia, declarando apoio ao Equador num eventual conflito.
De acordo com o vice-ministro argentino da Defesa, Germán Montenegro, a medida, “positiva”, estabelecerá uma confiança mútua entre os países da região. “Ela era necessária, sobretudo, para o estabelecimento de uma instância que molde todos os processos de segurança em andamento, que crie uma identidade latino-americana de defesa”, afirmou ao Opera Mundi.
Gastos militares
Segundo os ministros da Defesa, o conselho não será uma aliança militar clássica, como a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), nem organizará um Exército próprio ou se intrometerá nas decisões sobre aquisição de armamento.
No entanto, prevê adotar um método padronizado para medir as compras de armas, coordenar seus efetivos militares em missões de paz e de ajuda humanitária e potencializar a capacidade regional de produção de sistemas de defesa e tecnologia militar.
Conforme explicou o cientista político da Flacso (Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais) no Equador, Simón Pachano, a possibilidade de haver um conflito armado entre nações sul-americanas é baixíssima e por isso, o motivo da criação do conselho se foca primordialmente no conceito de integração regional.
“Outras tentativas nesse sentido existiram no passado, mas a falta de comprometimento e vontade as condenaram ao fracasso. Acredito que agora existe a real intenção de desenvolver um projeto de defesa único”, afirmou.
Tensões atuais
Um dia antes do encontro em Santiago, o ministro da Defesa da Colômbia, Juan Manuel Santos, defendeu o direito de invadir o território de outros países para a captura de membros das Farc. Equador e Venezuela rechaçam essa posição.
Já o Peru alertou o governo chileno de que não é obrigado a informar seus gastos militares a Santiago, após o ministro da Defesa do Chile, José Goñi, afirmar que tomava conhecimento das movimentações militares peruanas somente “por meio da imprensa”.
Os países voltaram a se envolver numa disputa territorial em janeiro de 2008, quando o Peru apresentou requerimento junto à Corte de Haia pela redefinição dos limites marítimos. As divergências remontam ao fim do século XIX, quando o Peru perdeu a Guerra do Pacífico e, também, parte de seu território.
Alguns degraus abaixo na escala de tensão estão Uruguai e Argentina. Ainda está pendente a nomeação do secretário-geral do Conselho de Defesa e o nome de Nestor Kirchner, ex-presidente argentino, foi colocada na mesa. O governo uruguaio é contra, por causa da resistência argentina à construção de fábricas de celulose na margem do Rio Uruguai, que separa os países, alegando impactos ambientais. Por conta da resistência uruguaia, a Argentina estaria obstruindo o financiamento de um projeto de interconexão energética no âmbito do Mercosul.
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“Os ânimos andam quentes na América do Sul e uma iniciativa como o conselho, se permanecer livre de ideologias, possibilitará um apaziguamento benvindo para todos”, concluiu Pachano.
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