Os 33 mineiros do Atacama lembraram na última sexta-feira (04/08) o primeiro aniversário do acidente que deixou o grupo preso debaixo da terra por 70 dias em dois atos que, longe do clima de unidade que envolveu o resgate, foram marcados pelos protestos contra o presidente Sebastián Piñera.
O presidente, acompanhado de sua mulher, Cecilia Morel, participou da cerimônia ecumênica celebrada ao ar livre no Santuário de Nossa Senhora da Candelária de Copiapó, no norte do Chile, que contou com a presença de 27 dos mineiros e seus familiares.
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No total, seis mineiros não compareceram às cerimônias. Quatro deles – Mario Sepúlveda, Carlos Barrios, José Henríquez e Jorge Galleguillos – ficaram presos em Miami por problemas de conexão aérea, enquanto Edison Peña e Víctor Zamora decidiram não participar por motivos pessoais.
Quem esteve no local foi o ex-ministro de Mineração e atual titular de Obras Públicas, Laurence Golborne. Desde sua participação no resgate, Golborne goza de grande popularidade e é o ministro mais bem avaliado do gabinete de Sebastián Piñera.
O presidente, que durante o resgate alcançou também seus melhores níveis de popularidade, chegou na celebração com a aprovação mais baixa de um líder em 21 anos de democracia e prejudicado pelas crescentes mobilizações sociais, especialmente de estudantes.
Os jovens, que começaram no início de maio a exigir maior qualidade e a gratuidade na educação pública, desafiaram na última quinta-feira (03) uma proibição governamental de manifestar-se no centro de Santiago e organizaram protestos que deixaram 874 detidos em todo o país.
Esses protestos invadiram também o ato ecumênico desta sexta-feira, quando uma mulher que disse ser professora gritou palavras de ordem a favor da educação pública. Além disso, um homem, aparentemente jornalista, protestou contra a instalação na região de uma termelétrica, por considerá-la altamente poluente.
No fim da cerimônia, dezenas de pessoas repreenderam Piñera enquanto manifestantes e policiais entraram em conflito, envolvendo inclusive um deputado, o opositor Alberto Robles. Cinco pessoas foram detidas.
Contudo, o início da cerimônia foi tranquilo, marcado pela entrada dos mineiros em procissão levando uma imagem da Candelária, patrona dos trabalhadores, que deixaram na plataforma realizada para a ocasião na esplanada ao lado da igreja.
Durante o ato, o mineiro Luis Urzúa, chefe de turno no momento do acidente, lembrou os primeiros momentos após o desastre que deixou o grupo preso a 700 metros de profundidade na jazida San José.
“Choramos e gritamos. (…) Foram 17 dias de longas amarguras mas também de alegrias”, contou Urzúa em relação do tempo que ficaram presos sem comunicação com a superfície. Ao lembrar das longas jornadas, o mineiro admitiu: “A esperança não tinha morrido, mas tínhamos dúvidas”.
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Por essa busca incansável e pelo resgate que em 13 de outubro conseguiu resgatá-los à superfície, Urzúa demonstrou nesta sexta-feira seu agradecimento. “Hoje graças a vocês não há 33 cruzes no deserto”, assinalou, visivelmente emocionado.
“Sei que estamos passando por momentos difíceis, mas a união, a esperança e o futuro é de todos os chilenos”, disse o mineiro, que foi o único dos 33 que tomou o microfone durante a cerimônia.
O presidente Piñera, que não se pronunciou na primeira parte da programação, só tomou o microfone no Museu Regional de Copiapó. Lá, entregou o papel, redigido por José Ojeda, no qual os mineiros anunciaram, em 22 de agosto de 2010, que estavam “bem no refúgio”, assim como a cápsula Fênix 2, que em outubro os retirou da terra: dois objetos que farão parte do patrimônio nacional.
Em um pequeno pátio do museu, com apenas cem pessoas, Piñera incentivou os cidadãos a “reviver o espírito” de unidade que envolveu o resgate dos mineiros e pediu aos estudantes para que parem com os protestos, que tomaram força no início de maio.
Enquanto o presidente falava, entretanto, era possível escutar os gritos de dezenas de estudantes que, na rua divisória, enfrentaram os policiais, em incidentes que terminaram com sete pessoas detidas.
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