Logo antes de desembarcar em Dubai para participar da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima (COP28), principal encontro anual dos líderes mundiais para discutir a emergência climática, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva saudou o potencial de investimentos do Catar “na exploração de petróleo” no Brasil.
Um dos principais desafios do evento será debater um calendário para a queda da produção e o consumo de combustíveis fósseis no mundo, a maior fonte de emissões de gases de efeito estufa que provocam o aquecimento do planeta.
Nesta quinta-feira (30/11), Lula deixou o Catar, onde se reuniu com o emir Tamim bin Hamad Al-Thani. Ao comentar o encontro, antes de embarcar para os Emirados Árabes Unidos, o presidente brasileiro celebrou que a relação comercial entre Catar e Brasil esteja no patamar de US$ 1,6 bilhão.
“[E tem] potencial de muito investimento do Catar, sobretudo na questão de novas pesquisas, a exploração de petróleo, no reflorestamento do país, a manutenção de uma agricultura de baixo carbono”, citou o petista em conversa com jornalistas, cuja gravação a RFI teve acesso. “Tem muito interesse, sobretudo nesse instante em que o Brasil está fazendo uma transição energética muito forte. Eu acho que ainda vai ter muito interesse.”
'Planeta está avisando'
O Catar é o 14° maior produtor mundial de petróleo e o Brasil – que realiza pesquisas de prospecção de novas reservas do óleo na sua margem equatorial – é o nono. Este ano, a Conferência do Clima é sediada em outro grande produtor, os Emirados Árabes Unidos, o que gera ceticismo quanto ao avanço das negociações multilaterais sobre o futuro da exploração de combustíveis fósseis, responsáveis por dois terços das emissões globais de CO2 e outros gases de efeito estufa. A COP28 começa nesta quinta-feira e se estende até o dia 12 de dezembro.
Flickr/Palácio do Planalto
Nesta quinta-feira (30/11), Lula deixou o Catar, onde se reuniu com o emir Tamim bin Hamad Al-Thani
Logo depois de comentar o encontro com o emir do Catar, Lula ressaltou que “é preciso que as lideranças políticas do mundo tomem decisões mais corajosas e mais rápidas” para combater a emergência climática. Ele disse “não acreditar” que os países ricos aumentarão o financiamento de combate às mudanças do clima nos países em desenvolvimento.
“O Acordo de Paris não é cumprido quase em lugar nenhum do mundo”, observou. “Acho que a discussão que vai se dar na COP pode ainda não ser decisiva, mas eu acho que a gente vai ter que mudar o jogo para que as pessoas aprendam que o planeta não está brincando. O planeta está avisando: cuidem de mim, porque senão são vocês que vão perder”, afirmou o presidente brasileiro. “O ser humano não pode continuar sendo irracional, ser o único animal vivo a destruir seu habitar natural.”
Brasileiros em Gaza
Lula também destacou ter aproveitado o encontro com o emir do Catar para agradecê-lo pela ajuda na liberação de brasileiros na Faixa de Gaza. A atuação do país árabe tem sido crucial nas negociações para a libertação de reféns mantidos pelo grupo Hamas e a entrega de ajuda humanitária internacional ao território palestino.
“Ainda tem mais brasileiros lá ainda. [O Catar tem um papel importante] na liberação de um refém que ainda pode ser liberado por esses dias, e eu vim agradecer a ele”, relatou o presidente.
Em Dubai, Lula terá uma intensa agenda de compromissos oficiais a partir desta sexta-feira (01/12), entre a participação na COP28 e reuniões bilaterais. Um dos encontros será com o presidente de Israel, Isaac Herzog.
O brasileiro, que deve fazer um discurso na sessão plenária da conferência à tarde, também terá conversas com o secretário-geral da ONU, António Guterres, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e os chefes de Governo do Reino Unido, Rishi Sunak, e da Espanha, Pedro Sanchez, entre outros.
Os encontros seguem no sábado (02/11), com destaque para a reunião com o G77+ China, grupo que reúne países emergentes e em desenvolvimento, e o almoço com o francês Emmanuel Macron. Lula deixa Dubai na manhã de domingo (03/11), rumo à Alemanha.