As imagens da França que correram o mundo nos últimos meses não foram das mais positivas, com repetidas greves em diversos setores, quebradeira nas ruas e tensão social. Mas aos olhos das empresas estrangeiras, as vantagens de investir no país ainda permanecem superiores aos contratempos: pelo quarto ano consecutivo, a França foi o país que mais atraiu investimentos estrangeiros na Europa.
Conforme um relatório da consultoria EY divulgado em maio, 1259 projetos foram implementados em território francês em 2022, à frente do Reino Unido, com 929, e da Alemanha, com 832. O Brexit favoreceu a França como polo atrativo empresarial na Europa, mas está longe de ser a única explicação para o fenômeno, segundo o economista Eric Heyer, diretor do departamento de Análises e Previsões do Observatório Francês da Conjuntura Econômica (OFCE). Ele elenca ainda a posição geográfica central no mercado europeu, as infraestruturas impecáveis, o nível elevado de produtividade e as políticas para beneficiar a oferta – ou seja, as empresas.
“Quando o investidor chega, ele pode pagar mais caro pela mão de obra, afinal a carga tributária do trabalho é alta, mas você também terá trabalhadores produtivos. E desde 2013, há também uma verdadeira virada do discurso político na França a favor dos negócios, com a adoção de políticas públicas para baixar o custo do trabalho, flexibilizar o mercado de trabalho e promover a formação ao longo da carreira”, explica.
“Para empregados com salários baixos, em torno do mínimo, eles podem ser subsidiados pelo Estado. A empresa não paga os encargos sociais nestes casos. Fica muito vantajoso para a empresa”, complementa o professor-associado da Neoma School of Business Gabriel Gimenez-Roche. “Outro ponto é o crédit recherche (crédito de pesquisa): se a empresa investe em pesquisa e desenvolvimento, ela tem descontos por meio de créditos fiscais, o que faz com que a França tenha muito desenvolvimento de pesquisas. Entretanto, os produtos acabam não sendo finalizados na França, porque em geral há melhores condições para fazê-los em outro país”, pondera.
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La Defense, maior centro financeiro de Paris, na França
Gimenez-Roche ressalta que o país abriga algumas das escolas superiores de engenharia e comércio mais respeitadas do mundo, que têm se transformado em polos de atração de negócios. Mas os investimentos não ocorrem nas áreas de decisão – se concentram na produção, e não na abertura de sedes ou filiais estratégicas, o que pode simbolizar o receio da instabilidade social no país.
Pouco impacto no emprego
O professor lembra que, desde que assumiu, em 2017, o governo do presidente Emmanuel Macron adotou vantagens fiscais para a abertura de start ups e promoção do retorno das empresas francesas ao país, após um intenso processo de transferência da produção para lugares mais baratos, a partir dos anos 2000.
“Macron baixou o imposto de base para as empresas, que era de 33%, e visa chegar a no máximo 28%, sendo que 25% seria o ideal, para ficar na média da União Europeia e da OCDE. Ele começou a acabar com impostos que eram excepcionais daqui, como o imposto sobre a produção, não ligados à receita da empresa”, salienta. “Isso fazia com que pouco importasse se a empresa tinha prejuízos, ela tinha que pagar certos impostos.”
Eric Heyer destaca ainda que, se por um lado, os números do relatório da EY confirmam o maior dinamismo da economia na França, eles não se refletem em aumento significativo de empregos para os franceses: cada projeto criou em média 33 vagas no país, contra 58 ou 59 no Reino Unido ou na Alemanha.
“Se olharmos os ganhos para os franceses, podemos pensar que estar nessa posição vai criar muitos empregos, mas não é o caso. Percebemos que a maioria dos projetos são pequenos, mas são os grandes que abrem vagas de empregos”, aponta. “Agora, a transição ecológica poderá, talvez, atrair grandes projetos para a França, de perfil mais industrial”, sinaliza.