A jornalista francesa Ariane Lavrilleux, coautora de reportagens investigativas sobre o envolvimento do exército francês em operações militares secretas no Egito, que estava sob custódia policial há 39 horas, foi solta nesta quarta-feira (20/09), após pressão de organizações de direitos humanos e liberdade de imprensa.
“A nossa jornalista Ariane Lavrilleux acaba de sair da sede da polícia em Marselha, onde foi entrevistada pela DGSI [polícia de inteligência francesa]. Obrigado a todos pela onda de apoio sem precedentes expressada. Mais informações estão por vir”, declarou por meio das redes sociais o veículo de imprensa para qual a repórter trabalha, Disclose.
#JournalismIsNotACrime
je suis libre, merci bp pour votre soutien!
im free, thx for your support !
انا حرة ،شكرا ليكو! pic.twitter.com/kQDMbFvJUM— Ariane Lavrilleux (@AriaLavrilleux) September 20, 2023
Lavrilleux também publicou na rede X [antigo Twitter] uma foto comemorando a liberdade acompanhada de uma legenda: “Eu estou livre, obrigada pelo apoio!”.
A repórter informou que foi retirada da delegacia em Marselha pelas portas de trás para que “propositalmente a comissão de recepção” em seu apoio não conseguisse vê-la.
Lavrilleux ainda afirmou que sua saída não foi avisada ao advogado da Disclose. “Esse é o sinal de que você está atrapalhando: vamos continuar a luta!”, escreveu como mensagem de motivação a todos que a apoiaram.
Organizações que lutavam pelos direitos da jornalista comemoram sua liberdade, como a Repórteres Sem Fronteiras (RSF): “É um grande alívio saber que a jornalista Ariane Lavrilleux está livre, após 39 horas sob custódia policial”.
Egypt Papers
Lavrilleux foi detida em meio a uma investigação nacional que também realizou uma busca em seu domicílio, durante dez horas, após escrever uma série de reportagens investigativas quando a Disclose obteve acesso à centenas de documentos “que revelam a responsabilidade da França nos crimes cometidos pela ditadura de Abdel Fattah al-Sisi no Egito”.
Twitter/Edwy Plenel
Organizações que lutavam pelos direitos da jornalista comemoram sua liberdade
Os documentos apontavam, em especial, para a responsabilidade dos oficias franceses e cumplicidade do governo da França em ataques aéreos contra civis no Egito.
O veículo classificou a ação contra Lavrilleux como um “último episódio de intimidação inaceitável” e “grave ameaça à liberdade de imprensa”, que tinha como “objetivo claro identificar as fontes que ajudaram a revelar a operação militar Sirli no Egito”.
Lavrilleux só teve acesso ao seu advogado após dez horas de custódia policial, o que o veículo francês considerou como um “grave ataque ao seu direito de defesa”.
A repórter investigativa foi acusada de assinar cinco reportagens, publicadas pela Disclose desde 2019, sobre vendas de armas francesas no exterior; investigar a operação Sirli no Egito, juntamente com a venda de 30 aeronaves Rafale para o país africano; investigar armas entregue à Rússia até 2020; a venda de 150.000 projéteis para a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos (EAU); e a transferência ilícita de armas dos Emirados Árabes Unidos para a Líbia.
Em defesa da repórter, o portal de notícias declarou que tais informações confidenciais investigadas são de interesse geral e “esclarecem a realidade das relações da França com ditaduras e lançam luz sobre as armas fabricadas em território francês, mas voltadas contra populações civis”.
Além do respaldo judicial, a Disclose e a associação por representação feminina nas redações jornalísticas Prenons la Une, da qual Lavrilleux é secretária-geral, apoiadas pela RSF, organizaram comícios em toda a França a favor da repórter.
Os encontros, inclusive na Praça da República, na capital Paris, começaram por volta das 18h30 locais (13h30 no horário de Brasília) e duraram até a libertação da jornalista.