Duas semanas após o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, prometer que interviria para Manuel Zelaya voltar à presidência de Honduras, o Departamento de Estado pede que o presidente deposto tenha paciência e dê ao governo golpista de Roberto Micheletti uma oportunidade de diálogo.
Um porta-voz do Departamento de Estado pediu ontem (15) que todos os atores sociais e políticos de Honduras busquem “uma solução pacífica” para a crise, em resposta ao pedido de Zelaya para que a população se mobilize contra a situação no país.
Afinal, depois de apoiar e financiar tantos golpes na América Latina em décadas passadas, qual a postura da Casa Branca perante esta crise em Honduras, a primeira vez neste século em que militares tomam o poder à força num país da região?
A crise político-institucional em Honduras teve início no dia 28 de junho, quando as Forças Armadas do país, com um decreto emitido pelo Congresso, destituíram Manuel Zelaya e o levaram para a Costa Rica. O então presidente do Congresso, Roberto Micheletti, foi nomeado presidente.
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A decisão de Obama de condenar o golpe poucas horas após a ação e defender o governo eleito democraticamente representa uma mudança de postura dos Estados Unidos em relação à América Central, de acordo com o sociólogo Emir Sader, secretário-geral do Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais (Clacso).
A nova conduta de proximidade com a América Latina, diferente daquela que caracterizava a política de George W. Bush, foi adotada porque “Obama trata de limpar a imagem dos Estados Unidos. E se comprometer com um golpe logo no início sujaria essa nova imagem”, afirmou em entrevista ao Opera Mundi.
A porta-voz da embaixada dos Estados Unidos em Tegucigalpa, Chantal Dalton, negou que o país esteja exercendo pressões sobre as autoridades que assumiram o país após o golpe de Estado, acrescentando que Washington não mantém contato com um governo que não reconhece.
Emir Sader avalia o não reconhecimento do governo interino e a suspensão de auxílio militar como uma medida de desaprovação ao golpe, que coincidiu com a opinião da América Latina, representando uma aproximação inédita no continente.
No dia 1º de julho, as atividades militares conjuntas com as forças de segurança de Honduras foram suspensas pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos. O Exército do país realiza operações de segurança e antidrogas para a zona da América Central a partir da Base Aérea Soto Cano em Honduras e fornece ajuda cívica e humanitária.
Já o professor de Relações Internacionais da Unesp Hector Saint-Pierre acredita que as medidas adotas pelos Estados Unidos para reprovar o golpe não são rígidas o suficiente. “Embora tenham ameaçado, não cortaram exatamente o apoio econômico a Honduras. Cerca de 80% do comércio hondurenho é com os Estados Unidos. Se eles quisessem acabar com o golpe, já teriam conseguido”.
A América Central tem uma relação próxima histórica com os Estados Unidos, principalmente desde a metade do século 19, quando começaram a ser selados acordos econômicos. Com Honduras, a influência sempre foi maior pois, além da maior dependência comercial, há uma base militar norte-americana instalada no país.
Emir Sader afirma que há um grau de conflito no país entre Obama, que reprova o golpe, e setores do Estado, tanto republicanos quanto democratas, que buscam legitimá-lo. Essa divergência dificulta um comportamento mais rígido da Casa Branca, na opinião dele.
“Balão de ensaio”
Hector Saint-Pierre diz que com a postura pouco rígida, o golpe se torna um “balão de ensaio” para os “golpistas de sempre” do continente. “Eles estão vendo a capacidade de resposta internacional, a capacidade de mobilização internacional, o alcance das medidas anti-golpistas para eventualmente articular outros golpes. Eles viram que a comunidade internacional e os países têm dado uma resposta muito rápida, mas agora as elites do poder estão apoiando o golpe”.
A OEA (Organização dos Estados Americanos) estabeleceu no dia 1º de julho o prazo de 72 horas para que o presidente eleito fosse restituído. O governo golpista anunciou a saída da OEA um pouco antes de o prazo ser encerrado e não permitiu que o avião que transportava Zelaya pousasse em Tegucigalpa. Além da organização e dos Estados Unidos, outros países reprovaram o golpe de Estado, retirando os embaixadores de Tegucigalpa e não reconhecendo o novo governo.
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