A investigação alternativa realizada por peritos contratados pela família do promotor argentino Alberto Nisman, morto em janeiro, e a oficial apresentam contradições com relação a pontos essenciais para que seja solucionado o caso. Diante deste cenário, a promotora responsável pelo tema, Viviana Fein, anunciou que será convocada uma “junta médica” à qual serão incorporados especialistas estrangeiros.
De acordo com o jornal argentino La Nación, o grupo de especialistas deverá ser integrado também por representantes da acusação e do Corpo Médico Forense. Quanto à participação estrangeira, a procuradoria tem convênios com Itália, Chile, Guatemala, Costa Rica e Uruguai, de onde deverão vir os peritos, de acordo com informações do Ministério Público.
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Na última semana, família divulgou resultado da perícia que indica assassinato do promotor
Fein pensa ainda em incorporar um cardiologista e um neurologista para se pronunciar sobre o controverso tema da agonia de Nisman — se a vítima faleceu de imediato, ou se o óbito aconteceu após transcorrido um tempo depois do tiro fatal. Além disso, o único investigado até o momento, o técnico em informática Diego Lagomarsino, também estuda contratar um especialista individual.
Controvérsias
A agonia é um dos principais pontos de discórdia entre as duas versões apresentadas. Para a denúncia, ou seja, os investigadores contratados pela família, ele foi assassinado e houve agonia. A conclusão é baseada na quantidade de sangue perdida por Nisman. Se não tivesse agonizado, o coração não seguiria bombeando o sangue. Os peritos oficiais discordam e defendem que ele se suicidou.
A presença ou não de espasmo cadavérico também é controversa. Para a família, ele não existiu, o que indica que ele não disparou a arma e, portanto, anula a hipótese de suicídio. Além disso, sustentam ainda que o corpo foi movido depois de morto. A versão oficial não contempla esses pontos.
Outra questão chave da investigação diz respeito ao horário em que o promotor morreu. Os peritos acreditavam que a morte teria ocorrido entre as 14h e 17h de domingo, 18 de janeiro. Mas os especialistas contratados pela família indicam que ele teria morrido 16 horas antes: no sábado por volta das 20h.
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Morte gerou protestos e desatou uma crise política no país, uma vez que promotor morreu antes de indiciar a presidente no caso Amia
O novo horário apresentado pelos peritos coincide com a visita que Lagomarsino fez ao apartamento de Nisman, com base em declarações que ele mesmo forneceu à investigação. O técnico em informática foi à casa do promotor para entregar a arma com a qual ele apareceu morto tempo depois.
Diante do novo rumo nas investigações, a defesa de Lagomarsino, o técnico em informática, afirmou que se trata de uma “canalhada” da acusação.
Computadores
Além disso, o fato de o computador pessoal de Nisman ter sido acessado nas supostas últimas horas de vida do promotor para verificar a edição digital de jornais argentinos e acesso a seu email pessoal também está gerando controvérsias.
Até agora a investigação apontava que o último acesso teria ocorrido na manhã do domingo, 18 de janeiro, às 8h, aproximadamente. No entanto, para os peritos contratados pela família, ele já estaria morto neste horário. A ex-esposa de Nisman e juíza Sandra Arroyo Salgado sugeriu, a partir disso, que o acesso poderia ter ocorrido remotamente, o que poderia complicar o técnico Lagomarsino. Foi a partir desta hipótese que a casa dele foi investigada.
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A juíza responsável pela causa, Fabiana Palmaghini, no entanto, corrigiu a informação que havia sido divulgada e informou que o último acesso teria ocorrido na segunda-feira, 19 de janeiro, às 7h36. De acordo com Palmaghini, a informação constava na ata assinada pelo perito da família, Gustavo Presman. Arroyo nega.
Relações
Diante das evidências, Arroyo pediu a Fein que investigue se Lagomarsino tinha as chaves do apartamento de Nisman. A casa do técnico em informática também foi investigada, mas só 50 dias depois da morte do promotor.
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Lagomarsino foi a última pessoa que esteve com Nisman antes da morte
Arroyo Salgado também sugeriu que a relação entre Nisman e o técnico era mais próxima do que foi admitido até o momento. Ela sugeriu ainda que eles poderiam ter interesses econômicos em comum. Em pronunciamento à nação, a presidente Cristina Kirchner sugeriu que a relação entre ambos poderia ser mais do que profissional, deixando a entender que Nisman e Lagomarsino pudessem ter laços afetivos — ou uma “relação íntima”, nas palavras da presidente.
“Se a presidenta se referiu a uma relação homossexual, digo que não”, disse o técnico, repercutindo as especulações de Cristina Kirchner.
Além disso, declarações da modelo Florencia Cocucci e da secretária Yamila De Priete, que prestaram depoimento ontem, também suscitaram questões em torno dos relacionamentos do promotor.
Isto, porque a empregada doméstica de Nisman declarou a Fein que Nisman pediu para ela ir trabalhar sábado porque sua “namorada”, que era modelo, iria visitá-lo. “Ele me dizia que tinha uma namorada. Teria tido um jantar e me pediu para que eu fosse lavar as coisas. No sábado, 27 de dezembro, eu estive lá”, disse Gladys Gallardo.
A modelo Cocucci negou, em depoimento, ser namorada dele, embora tenham viajado junto para Cancún. Segundo ela, tratou-se de uma relação “superficial”. Da mesma forma, Yamila, que também viajou com ele para o México, negou ser “a noiva” citada por Gladys. O tema segue em aberto.