Israel violou direitos humanos durante a última ofensiva na Faixa de Gaza, iniciada em dezembro do ano passado, por ter atacado civis e usado uma criança como escudo humano, segundo investigadores da ONU (Organizações das Nações Unidas).
As acusações estão em relatório divulgado ontem (23) e submetido ao Conselho de Direitos Humanos da ONU, que exigem também um fim imediato às restrições israelenses para o abastecimento humanitário de Gaza e uma investigação internacional sobre o conflito.
O documento, elaborado por nove investigadores, inclui denúncias feitas recentemente por membros do Exército de Israel e por especialistas nos direitos à saúde, alimentação, habitação e educação, questões de execuções sumárias e violência contra mulheres.
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Para o cientista político Reginaldo Nasser, pesquisador de conflitos internacionais e de Oriente Médio da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica), as denúncias de militares israelenses dão mais credibilidade e importância às investigações da ONU.
“Um dos objetivos do relatório é colocar em questão a legitimidade do Exército de Israel e suas atitudes. Não é a primeira vez que são acusados de crimes de guerra. Na própria Faixa de Gaza, isso já aconteceu outras vezes”, disse em entrevista ao Opera Mundi.
Nasser afirmou que a acredita que a ONU está tentando exercer sua função, mas ponderou que o relatório não apresenta nenhuma proposta de solução para o conflito e que não haverá punição, pois isso dependeria do Conselho de Segurança, onde os membros permanentes, entre eles os Estados Unidos, aliados de Israel, têm poder de veto.
“A ONU cumpre seu papel na medida do possível”, disse. No entanto, “não é esperada nenhuma punição a Israel pela ONU. Se alguma sanção for votada no Conselho de Segurança, os Estados Unidos vão vetá-la, como fazem desde a década de 1970”.
As denúncias
O general da reserva Tzivka Fogel, que participou da ação militar em Gaza, contou que os esforços israelenses para proteger os soldados dos disparos dos militantes palestinos contribuíram com a morte de civis. Ele descreveu que era comum considerar como potencial guerrilheiro do Hamas qualquer um que desobedecesse às ordens dos militares para deixar a zona de combate.
“Se vocês querem saber se eu acho que ao fazê-lo matamos inocentes, a resposta é inequivocamente sim”, disse o comandante israelense em entrevista à agência Reuters.
O relatório da ONU foi assinado pela advogada Radhika Coomaraswamy, representante especial do secretário-geral para a questão da infância nos conflitos armados. Ela visitou a região no começo de fevereiro e citou alguns incidentes para confirmar as acusações.
A advogada contou que soldados israelenses alvejaram um pai de família após ordenarem que ele saísse da casa, e em seguida dispararam contra o cômodo onde o resto da família se abrigava, matando um filho e ferindo a mãe e três irmãos.
Outra violação ocorreu quando soldados israelenses forçaram um menino de 11 anos a andar durante várias horas diante deles pela cidade, mesmo depois de o grupo ser alvejado.
Israel iniciou os bombardeios no dia 27 de dezembro de 2008 e posteriormente invadiu a Faixa de Gaza, numa ofensiva que durou até 17 de janeiro. Autoridades palestinas dizem que 1.434 pessoas morreram em Gaza, sendo 960 civis. O relatório da ONU citou 1.440 mortos, sendo 431 crianças e 114 mulheres.
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