O embaixador da Arábia Saudita no Iêmen, Mohammmed al-Jaber, iniciou neste domingo (09/04) uma série de reuniões com o líder do Conselho Político Supremo dos Houthis, Mahdi al-Mashat, com o objetivo de buscar um acordo de paz que coloque fim à guerra civil no Iêmen.
As conversações acontecerão em Saná, antiga capital do Iêmen, e terá a mediação de uma delegação de diplomatas de Omã, vizinho de ambos os países envolvidos no conflito.
A iniciativa de buscar uma solução negociada com os houthis é mais uma surpreendente mudança de postura por parte de Riad nas últimas semanas.
Outra coincidência importante dessas novas atitudes sauditas é o fato de que elas começaram a acontecer depois que a família real se aproximou da China e do presidente Xi Jinping, em meados de março.
Dias atrás, o chanceler chinês Qin Gang mediou o primeiro encontro entre os seus homólogos da Arábia Saudita, Farhan al-Saud, e do Irã, Amir Abdolahian, no que foi considerada uma das grandes vitórias da diplomacia chinesa este ano.
A reaproximação com o Irã depois de muitos anos [os dois países mantêm um conflito diplomático de décadas, e tinham rompido completamente as relações desde 2018] pode ter sido um dos principais elementos que levou Riad a aceitar o diálogo com os houthis, que têm em Teerã o seu principal aliado na região.
Twitter / Mohammed al-Buklaiti
Líder do Conselho Político Supremo dos Houthis, Mahdi al-Mashat, saúda o embajador saudita no Iêmen, Mohammed al-Jaber
Em seguida, também na primeira semana de abril, Riad oficializou seu ingresso na Organização de Cooperação de Xangai, bloco de países da Eurásia promovido pela China para aumentar sua influência na região.
Guerra Civil
A guerra civil no Iêmen teve início em 2014, quando os houthis [grupo ligado ao movimento político-religioso Ansar Allah, de orientação xiita zaidita] passaram a desconhecer o regime do então presidente Rabbuh Mansur Hadi.
Organizados por al-Mashat, os houthis tomaram o poder na região sul do país, que passou a ser controlada pelo Conselho Político Supremo dos Houthis, reconhecido pelo Irã, Síria, Iraque e Rússia [entre outros países], enquanto o outro governo iemenita [liderado por Hadi até 2022, e hoje encabeçado por Rashad al-Alimi] é apoiado pela Arábia Saudita, país que defende o islamismo sunita e condena o xiita, tanto em seu país como na região do Oriente Médio.
Em 2017, a cidade de Saná passou a ser dominada pelos houthis, assim como grande parte do país.
Desde então, o Conselho Político Supremo dos Houthis passou a ser o verdadeiro governo no Sul do país, enquanto as autoridades iemenitas reconhecidas pelo resto do mundo vivem em Riad e exercem controle sobre uma porção minoritária de território, através de forças militares fieis ao governo sunita.
As tentativas de retomada das regiões controladas pelos houthis vem sendo promovidas pela Arábia Saudita, através de diversos bombardeios que produziram milhares de mortes, mas que poucos serviram para avanços das forças leais aos sunitas sobre os territórios do Sul do país.
Apesar de não haver uma estatística oficial de mortos, calcula-se que a guerra civil no Iêmen é uma das mais sangrentas, ou talvez a mais sangrenta da atualidade.
Um informe da Organização das Nações Unidas (ONU) publicado em 2015 afirma que o conflito produziu quase 6 mil vítimas [3,9 combatentes de diferentes forças, mais 1,8 civis aproximadamente] somente nos seus primeiros dois anos.
Por sua parte, a Comissão Europeia publicou um informe em 2018 afirmando que já se contabilizava cerca de 60 mil mortes no Iêmen desde o início da guerra civil até aquele então.