No Reino Unido, tudo é desculpa para apostas. Em se tratando de política — sempre um prato cheio para especulações de toda a natureza— motivos para se fazer um fezinha não faltam. E os frequentadores das milhares de casas especializadas pelo país indicam que Liz Truss, atual secretária de relações exteriores, tem 94% de chances de ser ungida a nova líder do partido conservador e primeira-ministra britânica. Pesquisas internas do partido também indicam a sua vitória.
Cerca de 57% dos integrantes da legenda teriam manifestado apoio à Truss, segundo dados compilados pelo site Politico com as sondagens mais recentes. Mas, como na política tudo é possível, o resultado final só será conhecido na segunda-feira, quando o parlamento britânico volta do recesso.
O nome escolhido nesta sexta-feira será fruto de votação interna do Partido Conservador. Cerca de 160 mil filiados da legenda estão aptos a votar. Este processo foi desencadeado depois que Boris Johnson renunciou ao cargo, após uma sucessão de escândalos políticos em seu governo.
Na primeira rodada desta eleição intrapartidária em que votavam apenas os deputados conservadores com assentos no parlamento, venceu o atual xerife do Tesouro, Rishi Sunak, que é visto como um candidato mais pé no chão, quando se trata de conduzir as contas públicas. Mas Truss tem mais apelo com as fileiras ampliadas do partido. Ela, no entanto, ainda precisa explicar em detalhes seus planos para aliviar o bolso do cidadão, o que está longe de estar claro. Aliás, esperava-se que fosse fazê-lo em entrevista à BBC, que acabou desmarcando de última hora.
Economia no foco dos candidatos
No 12° e último debate, realizado na noite de quarta-feira, a economia dominou a pauta. Embora já não houvesse muito mais a ser dito, houve uma novidade. Liz Truss fez promessas de campanha que certamente agradarão ao eleitorado, mas que poderão se tornar um fantasma a persegui-la por sua administração, se eleita. Garantiu que não haveria novos impostos e tampouco racionamento de energia, o que Rishi Sunak não descartou.
The Conservative Party/Parsons Media/Flickr
Cerca de 57% dos integrantes da legenda teriam manifestado apoio à Truss, segundo dados compilados pelo site Politico
Foi mais um round acalorado de uma disputa política interna do partido que tratou de expor ainda mais as entranhas da legenda ao público, que quer respostas aos seus problemas imediatos. Truss vai precisar de uma plano muito bem estruturado para apresentá-las.
Na corrida por Downing Street 10, o endereço da residência do premiê, a retórica marcou a campanha dos postulantes nas últimas semanas. Ganhava a simpatia do correligionários quem se mostrasse mais à direita. Mas o desafio principal do futuro primeiro-ministro é como ela ou ele pretende enfrentar a imensa crise do custo de vida no país. A inflação se mantém no seu maior patamar dos últimos 40 anos e a tendência é piorar.
As empresas de energia já avisaram que o aumento da conta no segundo semestre estará em torno de 80%. E é a capacidade de manejar essa situação que deve determinar o resultado da eleição geral prevista para maio de 2024, quando a população britânica vai às urnas escolher o novo parlamento, que é quem elege de fato o primeiro-ministro.
A tarefa é para lá de complicada, sobretudo quando as pressões inflacionárias vêm de todos os lados. Neste momento, o país enfrenta greves simultâneas de diversas categorias, desde trabalhadores de portos e correios, a funcionários das companhias de trens, metrô, advogados criminalistas e coletores de lixo.
Quebra de tradição
Seja quem for o premiê, ela ou ele terá de viajar para na Escócia para se apresentar à rainha Elizabeth II, que, aos 96 anos, e com problemas de mobilidade, vai quebrar mais uma tradição. Pela primeira vez em 70 anos de reinado, o encontro da monarca com seu novo chefe de Governo não se dará no Palácio de Buckingham, em Londres, mas em Balmoral, onde ela passa as férias.
O mesmo acontecerá com a última sessão com o atual premiê, Boris Johnson, que entregará à chefe de Estado a sua carta de renúncia. O novo primeiro-ministro será 15° a se apresentar à Elizabeth II, que este ano completou seu jubileu de platina.