A Argélia anunciou nesta quinta-feira (23/09) o fechamento de seu espaço aéreo com seu vizinho Marrocos, acusando o país de de “provocações e práticas hostis”, sem dar mais informações.
A medida pode agravar a tensão entre os países. De acordo com um comunicado, a presidência argelina decretou na quarta-feira (22/09) o fechamento “imediato” do espaço aéreo argelino “a todas as aeronaves civis e militares marroquinas e às aeronaves com matrícula marroquina”.
O anúncio surgiu depois de a Argélia decidir, em 24 de agosto, romper suas relações com o Marrocos. A decisão foi tomada durante uma reunião do Alto Conselho de Segurança, presidido pelo chefe de Estado, Abdelmadjid Tebboune, que também é ministro da Defesa.
O ministro das Relações Exteriores argelino, Ramtane Lamamra, criticou na época o governo marroquino por “nunca ter deixado de cometer ações hostis contra a Argélia”. “Os serviços de segurança e a propaganda marroquinas travam uma guerra desprezível contra a Argélia, o seu povo e seus dirigentes”, afirmou Lamamra.
Em 17 de março deste ano, a Argélia fechou sua fronteira aérea por conta da pandemia da covid-19. Elas foram reabertas em 1º de junho, parcialmente, para sete países. O Marrocos não estava nesta lista. A decisão de Argel afetará, sobretudo, os aviões marroquinos que sobrevoam o território argelino para realizar suas rotas.
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Imagem do Aeroporto Internacional Houari Boumedienne da Argélia
Marrocos lamenta ruptura
O Marrocos lamentou, por sua vez, a decisão da Argélia de romper relações, classificando-a de “completamente injustificada”. Tradicionalmente difíceis, estas relações bilaterais se deterioraram, sobretudo, devido à questão do Saara Ocidental. Este vasto território desértico é quase 80% controlado pelo Marrocos.
Nesta ex-colônia espanhola, considerada “território não autônomo” pela ONU na ausência de uma solução definitiva, Marrocos enfrenta há décadas os separatistas da Frente Polisário, que contam com o apoio da Argélia.
Briga antiga
Os independentistas exigem a realização de um referendo de autodeterminação contemplado pela ONU, enquanto o Marrocos, que controla mais de dois terços dessa ex-colônia espanhola no Magrebe, propõe no máximo uma autonomia sob sua soberania.
A normalização das relações diplomáticas entre Marrocos e Israel, em troca do reconhecimento da “soberania” marroquina sobre o território por parte dos Estados Unidos, intensificou as tensões com a Argélia, que apoia a causa palestina. Além disso, o governo argelino denunciou que se tratam de “manobras estrangeiras” para desestabilizar o país.
Os vínculos diplomáticos entre Argélia e Marrocos foram quebrados pela primeira vez em 7 de março de 1976, quando Argel reconheceu a República Árabe Saaraui Democrática (RASD), autoproclamada pelos independentistas da Frente Polisário.