“Par Toutatis! O céu cai sobre nossa cabeça!”: tal foi a reação de milhares de franceses quando descobriram a última campanha publicitária do McDonald’s, o baixinho Astérix, o corpulento Obélix, e os demais integrantes da aldeia gaulesa fazendo seu tradicional banquete em uma lanchonete da rede norte-americana, como se fosse o tradicional jantar sob a estrelas, cena que encerra os quadrinhos.

O anúncio é um de quatro outdoors criados pela agência de publicidade Euro RSCG para a campanha do McDonald’s, que tem como slogan “Venha como estiver”. Os outros usaram o assassino de Scream, Darth Vader, o sombrio personagem da “Guerra das Estrelas” assim como a Cinderela chegando ao “drive” do McDonald’s em uma abóbora.

O quadrinho, que surgiu pela primeira vez em 1959 das mãos de Albert Uderzo e do hoje falecido René Goscinny, continua sendo um dos mais populares na França. Seus livros já venderam cerca de 325 milhões de cópias pelo mundo, traduzidos em 107 idiomas.

Luta contra invasores romanos

Não é a primeira vez que a publicidade usa um personagem de quadrinho, mas Astérix, herói da corajosa luta contra os invasores romanos, é percebido na França como o melhor símbolo da chamada “exceção francesa”, ou seja, do espírito rebelde e contra a globalização.

Sua associação com o hambúrguer e a batata frita causou indignação, já que o Mc Donald’s é frequentamente visto como símbolo da ameaça à gastronomia francesa imposta pela globalização. Em 1999, manifestantes contra a globalização liderados pelo ativista José Bové destruíram um restaurante do McDonald’s na cidade de Millau, no sudoeste da França.

Muitos internautas condenaram Albert Uderzo por ter concordado em ceder os heróis franceses para um anúncio da marca norte-americana de fast food. “Estava precisando de dinheiro?”, pergunta, enfurecido, o autor do blog Veilleurs.info. “Depois de ter resistido aos Romanos, será que os Americanos finalmente acabaram com a invencível Gália?”, acrescentou o jornal conservador Le Figaro.  

Rebeldia
 
A polêmica incentivou os integrantes do Albert René Studio, que tem os direitos autorais do quadrinho, a responder. “Astérix é ainda um rebelde, não trabalha para Mc Donald’s, mas com Mc Donald’s”, defendeu um porta-voz da empresa na televisão francesa TF1. “A gente não quer defender a comida ruim”, acrescentou.

Para provar sua lealdade ao espírito do quadrinho, o porta-voz esclareceu que a empresa tinha recusado no passado uma campanha publicitária na qual o gordo Obélix estaria tomando um Coca light. “Isso não corresponde aos valores do personagem”, justificou.

Esta fúria esconde o grande sucesso que conhece a rede norte-americana na França, após um trabalho para “afrancesar” sua marca. As lanchonetes são mais integradas na arquitetura das cidades, os menus propõem especialidades locais e 80% da carne dos hambúrgueres é originária do país. Apesar de encarnar o sentimento anti-americano, o McDonald’s gera na França lucros que são ultrapassados somente pelos resultados nos Estados Unidos.