Um ataque aéreo atingiu nesta quarta-feira (23/06) um mercado em Tigré, região no norte da Etiópia, deixando dezenas de mortos e feridos.
O atentado ocorreu na noite de terça-feira (22/06) em Togoga, a 25km da capital da região, Macalle, local que há oito meses é palco de um conflito com o governo central de Addis Abeba.
Segundo uma testemunha ouvida pela agência de notícias AFP, o número de mortos não pode ser especificado porque o acesso à área está bloqueado pelo Exército etíope, que desde novembro conduz uma operação militar no Tigré contra as forças das autoridades regionais anteriores.
No entanto, de acordo com oficiais de saúde locais, citados pelo jornal britânico The Guardian, ao menos 64 pessoas morreram e 180 ficaram feridas.
O Exército nega ter como alvo civis, alegando realizar os ataques para neutralizar supostos grupos terroristas. “Não aceitamos que esta operação tenha como alvo civis”, disse o Coronel Getnet Adane à AFP, afirmando que os feridos ou mortos eram combatentes “em roupas civis”.
“A Força Aérea da Etiópia usa tecnologia de ponta, por isso conduziu um ataque de precisão que foi bem-sucedido”, disse ele.
Segundo Birhan Gebrehiwet, etíope que mora perto do mercado atingido por um avião, “eram muitos feridos e mortos, caminhávamos sobre seus corpos e em seu sangue”.
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De acordo com oficiais de saúde locais, ao menos 64 pessoas morreram e 180 ficaram feridas após ataque em Togoga
Eleições na Etiópia, mas sem Tigré
O ataque ocorre após a Etiópia realizar, na segunda-feira (21/06) eleições nacionais para eleger parlamentares e os governos regionais. No momento, a contagem dos votos ainda está em andamento.
A eleição que deveria ter ocorrido em agosto de 2020 foi adiada duas vezes por conta da pandemia de covid-19 e por problemas de logística e segurança.
Além da guerra na região de Tigré, diversas são as áreas em que os partidos de oposição se retiraram da disputa por conta de “excesso de poder” do governo do premiê Abiy Ahmed, que estaria interferindo nas campanhas eleitorais.
Esse é o primeiro teste eleitoral para Ahmed desde a sua chegada ao poder, em 2018. O líder prometeu fazer com que o país vivesse em um “espírito democrático”, recebendo inclusive o Nobel da Paz de 2019 após libertar milhares de opositores presos e encorajar o retorno do exílio de diversos representantes. Também foi reconhecido o esforço para acabar com o conflito com a Eritreia.
O Partido da Prosperidade, do primeiro-ministro, tem a maior quantidade de candidatos para o Parlamento e é o favorito para vencer novamente.
Um dos principais problemas, porém, permanece. A região de Tigré, que está vivendo um conflito bélico de grandes proporções, não teve a data das eleições marcadas ainda.
O conflito étnico com o governo se intensificou e, além das milhares de mortes, a Organização das Nações Unidas (ONU) estima que há cerca de 350 mil deslocados internos e que vivem em situação de extrema pobreza.
(*) Com Ansa.