A organização humanitária MSF (Médicos Sem Fronteiras) acusou nesta quarta-feira (09/04) a ONU de atuar de maneira “vergonhosa” com os milhares de deslocados que vivem em suas bases no Sudão do Sul. Segundo o órgão, oficiais do alto escalão da UNMISS (Missão das Nações Unidas no Sudão do Sul) se recusaram a melhorar as condições de vida de mais de 21 mil pessoas deslocadas vivendo em uma área inundada, expostas a doenças e potenciais epidemias.
Aurelie Baumel/MSF
Áreas alagadas do campo de Tomping, no Sudão do Sul: temporada de chuvas deve piorar condições sanitárias na base
“A decisão da UNMISS de não melhorar as condições é vergonhosa”, afirma Carolina Lopez, coordenadora de emergência da MSF. “As pessoas estão vivendo em meio a canais de drenagem naturais (…). As chuvas, que vão durar por boa parte dos próximos seis meses, estão ficando mais fortes e, se nada for feito agora, as consequências, que já são terríveis, vão se tornar fatais”, acrescenta.
Em comunicado, a Médicos sem Fronteiras alega que a UNMISS não está tomando providências para melhorar as chances de sobrevivência de quem está no acampamento. “Casos de doenças diarreicas, infecções respiratórias e doenças de pele representam mais de 60% dos atendimentos na clínica de MSF no acampamento”, explica a nota. “Com as deficiências acerca da questão de saneamento, a equipe se mostra muito preocupada com a possibilidade da ocorrência de doenças transmitidas pela água”, completa.
A organização lamentou que, após vários atrasos na abertura de um acampamento alternativo, agora esta opção é “ilusória”. Ela acrescenta que, ao mesmo tempo, a ONU se negou a utilizar temporariamente terrenos disponíveis dentro de sua própria base, que estariam mais adaptados para os deslocados. Além disso, ainda alega que muitos dos residentes do campo afirmam não estarem dispostos a ser transferidos em outra base da UNMISS, porque temem se sentir menos seguros.
“Pedimos à liderança da ONU que se lembre de que proteção é mais do que apenas reunir as pessoas em um complexo seguro. Condições de vida apropriadas são essenciais e demandam ação urgente e pragmática. As pessoas precisam estar livres de doenças bem como seguras da violência”, disse Jerome Oberreit, secretário-geral de MSF.
Aurelie Baumel/MSF
Casos de doenças diarreicas, infecções respiratórias e doenças de pele representam mais de 60% dos atendimentos na clínica de MSF
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Resposta das Nações Unidas
Em comunicado divulgado em seu site oficial, a missão da UNMISS reafirmou nesta quarta o compromisso de proteger os civis no Sudão do Sul em suas bases. “A ONU continua a defender com as autoridades locais soluções políticas e de segurança que permitirão que os deslocados voltem para suas casas ou procurem residências em outra parte do país”.
A UNMISS disse que, desde que as hostilidades que eclodiram entre as forças do governo e da oposição em dezembro passado, uma média de 75 mil civis encontraram refúgio da violência em bases da ONU em todo o país. O órgão ressalta que, atualmente, 67 mil pessoas deslocadas estão buscando proteção em 8 de seus campos.
Aurelie Baumel/MSF
Deslocados internos vivem em área de Proteção aos Civis no complexo da UNMISS
Contudo, a Missão observa que nenhum desses campos foi projetado para acolher um número tão grande de deslocados. Além disso, a entidade da ONU acrescenta que ela e seus parceiros estão trabalhando para melhorar a situação da água e do saneamento, com o intuito de mitigar os riscos para a saúde pública decorrentes da superlotação e altas temperaturas.
No comunicado, a Missão também reforçou que negociou com as autoridades sul- sudanesas para ter acesso a mais terras para acomodar os novos deslocados, mas que tais medidas foram atrasadas devido à insegurança permanente no país e a disponibilidade limitada dos serviços de engenharia locais.
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Crianças lavam roupas em espaço entre abrigos: UNMISS reforçou que negociou acesso a mais terras para acomodar novos deslocados