O presidente de Belarus, Alexander Lukashenko, afirmou nesta terça-feira (13/06) que seu país já começou a receber as armas nucleares táticas da Rússia. Em uma entrevista a uma emissora estatal de televisão russa, Lukashenko disse ainda que não hesitará em usar o armamento em caso de ato de agressão.
A colocação em Belarus é a primeira movimentação das ogivas para fora do território russo desde a queda da União Soviética. As armas nucleares táticas se destinam a destruir as tropas inimigas em campo de batalha. Elas possuem um alcance relativamente curto e um rendimento muito menor do que o das ogivas instaladas em mísseis balísticos intercontinentais capazes de destruir cidades inteiras.
“Temos mísseis e bombas que recebemos da Rússia. Essas bombas são três vezes mais poderosas do que aquelas de Hiroshima e Nagasaki”, afirmou Lukashenko. “Deus não permita que eu tenha que tomar a decisão de usar essas armas. Mas não hesitarei se formos atacados.”
Lukashenko considerou ser “pouco provável que alguém queira declarar guerra a um país que possui armas” nucleares. “São as armas das superpotências”, acrescentou.
A declaração sobre a chegada das armas é contraditória. Nesta terça-feira antes da entrevista, Lukashenko tinha dito que seu país deveria receber dentro de “alguns dias” as armas russas. No entanto, à emissora russa, ele afirmou que Belarus já tinha recebido algumas delas.
Os comentários contradizem também declarações recentes feitas pelo presidente russo, Vladimir Putin, de que a implantação de armas nucleares táticas no território da vizinha Belarus começaria a partir de 8 de julho. Putin também ressaltou que as armas nucleares russas estacionadas em Belarus continuariam sob o controle de Moscou. A Rússia não comentou as declarações de Lukashenko na entrevista.
Suposta exigência de Lukashenko
Na entrevista, Lukashenko disse ainda que seu país tem numerosas instalações da era soviética reformadas e prontas para receber as armas. Além de Belarus, a Ucrânia e o Cazaquistão abrigaram uma parte significativa do arsenal nuclear soviético. Após a queda da União Soviética em 1991, esse armamento foi transferido para a Rússia por meio de um acordo intermediado pelos Estados Unidos.
Lukashenko também minimizou a ideia de que o controle russo seria um impedimento para o uso delas, alegando que poderia ligar para Putin a qualquer momento se necessário.
Lukashenko, que governa Belarus desde 1994 e é considerado o último ditador da Europa, alegou ainda que foi ele quem “exigiu” de Putin as armas. “Sempre fomos alvos. O Ocidente quer nos despedaçar desde 2020. Ninguém luta contra um país nuclear, um país que tem armas nucleares.”
Depois de Lukashenko ganhar as eleições de 2020, que foram classificadas como fraudulentas pela oposição e pela comunidade internacional, Belarus foi tomada por grandes protestos. O líder belarusso acusa o Ocidente de tentar derrubá-lo com as manifestações.
Vladimir Astapkovich/Kremlin/SPUTNIK/REUTERS
No mesmo dia, antes da entrevista, Lukashenko disse que receberia armas em alguns dias
Putin disse que transferência começaria em julho
No início deste ano, Putin anunciou que iria transferir o armamento nuclear para Belarus, principal aliado de Moscou. A manobra foi vista como um aviso para o Ocidente, que intensificou o apoio militar à Ucrânia. Em março, Minsk e Moscou fecharam o acordo para a implementação das armas.
Na semana passada, após uma reunião com Lukashenko em Sochi, Putin afirmou que a transferência começaria após a conclusão das instalações para o armazenamento das armas. A Rússia não disse quantas armas nucleares táticas seriam enviadas para Belarus. Os Estados Unidos calculam que Moscou possua cerca de 2.000 armas desse tipo em seu arsenal.
Os ministros da Defesa da Rússia, Serguei Choigu, e de Belarus, Viktor Jrenin, assinaram há três semanas em Minsk os documentos que regulam o armazenamento de armas nucleares “não estratégicas” no território da ex-república soviética.
Moscou destacou que o sistema de mísseis tático-operacionais Iskander-M, capaz de usar mísseis não apenas em armas convencionais, mas também em armas nucleares, já foi entregue a Belarus, que o vê como “uma resposta eficaz à política agressiva dos países hostis”.
“Alguns dos aviões bielorussos foram convertidos para o possível uso de armas nucleares. Os militares receberam treinamento adequado”, destacou Choigu. O ministro russo enfatizou que, embora a Rússia implante armas nucleares não estratégicas no território de Belarus, Moscou manterá o controle sobre elas e a decisão sobre seu eventual uso.
“A Rússia não transfere armas nucleares para a República de Belarus: o controle sobre elas e a decisão de usá-las permanece com o lado russo”, enfatizou Choigu na ocasião.
A movimentação russa tem sido observada de perto pelos Estados Unidos e seus aliados, bem como pela China, que tem advertido com frequência contra o uso de armas nucleares na guerra na Ucrânia. Belarus faz fronteira com três países da Otan: Lituânia, Letônia e Polônia.