A direção nacional do Movimento ao Socialismo (MAS) anunciou que rompeu relações com o presidente Luis Arce, afirmando que estaria “tudo acabado” entre partido e governo.
O anúncio do MAS, na última quarta-feira (16/08), ocorreu após Evo Morales denunciar que um julgamento contra ele, por suposta difamação, teria a intenção de anulá-lo politicamente. Segundo o vice-presidente da legenda, Gerardo García, que chamou de “ameaças” o andamento do processo contra Morales, a situação entre partido e Arce deteriorou.
García disse que é esperado que ambas as partes conversem para “ver como superamos nossas diferenças, (mas) agora estamos (separados), claros como água e óleo, nunca vão se misturar”. “Vamos continuar a pedir, a exigir que assim seja, que sendo presidente ou ministro não se aproveitem do poder para nos querer acusar e processar”, disse ele.
A crise se aprofundou porque Morales acusou que o escritório de advocacia do ministro da Justiça, Iván Lima, defende uma empresa que processa o Estado boliviano em US$ 35 milhões. Por conta disso, o chefe da pasta está indo contra o ex-presidente por difamação, declarando que as palavras do líder do MAS já chegaram “ao limite” e que se excedeu ao apontar que existe um plano para anulá-lo.
Por conta disso, a direção do MAS, que já estava em conflito com Arce por acusar o presidente de querer dividir o partido governista, disse que se o mandatário quiser se candidatar à reeleição deve procurar outra sigla, que será “impossível” acertar uma candidatura de um “traidor”, já que acusam Arce de tentar deixar Morales inelegível para as eleições de 2025.
“Dissemos a Luis Arce, se ele quer ser candidato por outro partido, é seu direito, mas tem que estar ciente de que está traindo o MAS, porque entrou pelo MAS. Por motivos morais, ele mesmo deve renunciar à Presidência, disse ele.
Reprodução / @evoespueblo
Morales acusa que sofre perseguição do governo de Luis Arce
García ainda disse que o partido vai exigir que quem queira ser candidato e esteja no governo deve renunciar para não utilizar os recursos do Estados para fazer campanha política. “Vamos continuar a pedir, a exigir que assim seja, que sendo presidente ou ministro não se aproveitem do poder para nos querer acusar e processar”, afirmou.
Arce ainda não se pronunciou sobre o assunto, mas pediu unidade em seus mais recentes discursos. Vale lembrar que o presidente e seu vice, David Choquehuanca, eram aliados considerados entre os mais leais a Morales durante seu mandato como líder da Bolívia, entre 2006 e 2019. O primeiro foi o ministro da Economia durante quase todo o seu período no Palácio Quemado. O segundo foi chanceler boliviano, também durante mais de 10 anos.
A atual crise interna do governismo boliviano preocupa uma terceira figura que acompanhou todos os mandatos de Morales: o sociólogo e cientista político Álvaro García Linera, que foi vice-presidente do país durante os governos do líder indígena.
Segundo a imprensa local, Linera considera a atual crise do MAS como “um problema que precisa ser solucionado o quanto antes”, e que seria uma “catástrofe eleitoral” para o partido se eles não forem resolvidos até 2025, ano das próximas eleições presidenciais na Bolívia.