A Guatemala realiza neste domingo (20/08) o segundo turno das suas eleições presidenciais, que finalizam um processo marcado por uma série de conflitos nos tribunais de Justiça do país.
O resultado do primeiro turno, realizado em 25 de junho, produziu um cenário insólito para um país historicamente dominado por setores políticos de direita: duas candidaturas de centro-esquerda se impuseram como as mais votadas e se qualificaram para a disputa decisiva deste domingo.
A vencedora do primeiro turno foi Sandra Torres, do partido Unidade Nacional pela Esperança (UNE), considerado como um setor mais tradicional da centro-esquerda social-democrata da Guatemala. Ela obteve 21,1% de votos naquela jornada.
Em segundo lugar ficou Bernardo Arévalo, do Movimento Semente, de discurso mais ligado ao desenvolvimento sustentável e ao ambientalismo, que ficou com 15,5%. Sua votação surpreendeu os analistas políticos locais, já que nenhuma pesquisa o apontava com mais de 10% das intenções de voto.
O resultado do Movimento Semente foi alvo de uma série de recursos judiciais apresentados por diferentes partidos de direita que ficaram de fora do segundo turno e que tentaram reverter a situação tanto no Tribunal Supremo Eleitoral da Guatemala (TSE) quanto na Justiça comum – seja na Corte Constitucional ou na Corte Suprema de Justiça (CSJ), máxima instância do Poder Judiciário guatemalteco.
Batalhas na Justiça
Na primeira semana de julho, atendendo a uma decisão da Corte Constitucional, o TSE iniciou uma recontagem das urnas do primeiro turno, que terminou com o mesmo resultado da primeira apuração, ratificando as vantagens de Torres e Arévalo como os dois mais votados.
Dias depois, a CSJ rejeitou um novo recurso solicitando uma nova recontagem dos votos.
Ambos os pedidos foram realizados pelo partido Vamos, o mesmo do atual presidente, Alejandro Giammattei. O candidato governista nesta eleição foi Manuel Conde, que obteve 10,7% dos votos, ficando com a terceira posição. Caso a recontagem mostrasse uma inconsistência nos votos de Arévalo, ele herdaria a segunda vaga para a disputa eleitoral decisiva.
Porém, ainda em julho, quando o TSE estava prestes a oficializar o resultado da recontagem das urnas, o Ministério Público entrou com uma liminar pedindo a suspensão do registro do partido Movimento Semente, pela suposta inscrição irregular de um militante em maio de 2022.
O caso abria novamente a possibilidade de exclusão da candidatura de Arévalo e sua substituição por Conde no segundo turno. O Movimento Semente acusou tentativa de lawfare contra o partido, afirmando que o promotor responsável pela liminar, Rafael Curruchiche, tinha ligações com o partido governista.
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Bernardo Arévalo e Sandra Torres se enfrentam neste segundo turno para saber quem será o próximo presidente da Guatemala
O recurso terminou sendo derrubado pela Corte Constitucional, o que permitiu que Arévalo pudesse continuar sua campanha.
Apesar do processo de contestação eleitoral na Justiça ter durado três semanas, o TSE decidiu manter o cronograma eleitoral, sem alterar a data do segundo turno, marcada previamente para este 20 de agosto.
Favoritismo nas pesquisas
Segundo as pesquisas publicadas na última semana antes do primeiro turno, Arévalo pode vencer este segundo turno com certa tranquilidade.
A última sondagem, publicada nesta quinta-feira (17/08) pelo diário Prensa Libre, mostra que o candidato do Movimento Semente tem 64,9% das intenções de voto (considerando os votos válidos), contra 35,1% de Torres, do UNE.
Em outra pesquisa, publicada nesta segunda-feira (14/08) pelo instituto Gallup, Arévalo aparece com 50% das intenções de voto, contra 32% de Torres. Diferente do estudo do Prensa Libre, o do Gallup revelou as intenções de voto totais, sem descontar os 3% de votos brancos e nulos e 15% de indecisos.
É importante destacar, porém, que tanto Torres quanto Arévalo são ligados a setores de esquerda moderada.
A candidata do UNE é empresária do setor têxtil e seu discurso está focado em fomentar a industrialização do país – e em promover o crescimento da economia e do emprego a partir disso.
Por sua parte, o representante do Movimento Semente propõe um projeto de desenvolvimento baseado na “economia verde” e defende uma maior aproximação do país com setores progressistas dos Estados Unidos e da União Europeia – postura similar à do presidente chileno Gabriel Boric.
Também é importante lembrar que Torres disputa o segundo turno das eleições pela terceira vez. Em 2015, ela perdeu contra Jimmy Morales (65,4% contra 34,6% a favor do candidato liberal, que se elegeu presidente).
Em 2019, na disputa contra o conservador Giammattei, Torres teve outra derrota, por menor diferença de votos (57,9% contra 42,1% a favor do atual mandatário).