O presidente Lula cedeu uma entrevista exclusiva a Christiane Amanpour, repórter da CNN, antes de se encontrar com o mandatário dos Estados Unidos Joe Biden nesta sexta-feira (10/02).
Entre os tópicos abordados na entrevista, estiveram a polarização na política brasileira e mundial, o resgate da democracia no Brasil, Jair Bolsonaro e o conflito entre Rússia e Ucrânia.
Amanpour logo afirmou que “metade do povo o amava, metade o desprezava”, e questionou qual seria o caminho do Brasil após os quatro anos de mandato de Lula. O mandatário afirmou que é necessário observar o que ocorrerá dentro das próximas eleições nos Estados Unidos, que carrega divergência semelhante, afirmando que “os democratas e os republicanos estão muito divididos”.
Logo depois desta frase, o atual presidente brasileiro resgatou o slogan da época do milagre econômico da ditadura civil-militar “Ame-o ou deixe-o!”, já utilizado por Bolsonaro e células bolsonaristas para simbolizar a cisão de opiniões.
“Nós vamos ver como que a coisa vai acontecer nos Estados Unidos, porque aqui tem uma divisão muito marcada, igual tem o Brasil”, disse o mandatário. Lula destacou, no entanto, que o Brasil é “um país mais pacificado”, e afirmou que, em sua índole, o brasileiro “gosta de ser feliz”, e “não é um povo que tem a cultura de odiar”.
Ao abordar o resultado acirrado das eleições brasileiras, o presidente lembrou de outros cenários internacionais, frisando que “uma eleição sempre será dividida quando tem dois candidatos. Sempre foi dividida na Alemanha, na França. Você viu a eleição do [Emmanuel] Macron, também uma divisão aqui”.
Ele ainda disse que está convencido que “nem todo mundo que votou no Bolsonaro é bolsonarista”, e que “Bolsonaro não tem nenhuma chance de voltar a [ser] presidente da república”.
O petista também afirmou que Bolsonaro seria uma “cópia fiel” de Donald Trump, ex-mandatário dos Estados Unidos, eleito em 2016, apenas dois anos antes do ex-presidente brasileiro Bolsonaro, afirmando que ambos não gostam de sindicatos, empresários, trabalhadores, mulheres e negros.
Analisando brevemente o cenário norte-americano, o mandatário brasileiro afirmou que a “única coisa estranha” que aconteceu lá foi a invasão ao Capitólio: “jamais a gente imaginava que no país que simbolizava a democracia alguém pudesse invadir o Capitólio”, disse Lula a Amanpour.
Ricardo Stuckert
Lula foi entrevistado por Christiane Amanpour, repórter da CNN, nesta sexta-feira (10/02)
Guerra na Ucrânia
Quando perguntado se a Ucrânia deveria ter direito de se defender, Lula prontamente respondeu:
“Lógico que ela [Ucrânia] tem direito de se defender, até porque a invasão foi um equívoco da Rússia, ela não poderia ter feito isso, afinal de contas ela faz parte do Conselho de Segurança [das Nações Unidas], e isso não foi discutido no Conselho de Segurança”.
O presidente continuou, afirmando que “o que tinha que ser feito de errado já foi feito, agora é preciso encontrar pessoas para ajudar a consertar”.
Lula ainda destacou que, apesar do Brasil não possuir “muita importância no cenário mundial nessa lógica perversa dos conflitos do mundo”, ele irá se dedicar “para ver se encontro um caminho para alguém falar em paz”.
Em determinado ponto da entrevista, o mandatário começa a contar sobre seu encontro com Olaf Scholz, chanceler alemão, que visitou o Brasil no final de janeiro, até ser interrompido por Amanpour.
A entrevistadora diz que Scholz queria que Lula cedesse seus tanques Leopards. O presidente brasileiro então corrigiu a repórter, dizendo que o encontro tratou do envio de munições para estes tanques. “Era para enviar munição, e eu não quis mandar. E eu falei se eu mandar eu entrei na guerra”.
Lula termina este ponto da entrevista dizendo que ele quer “acabar com a guerra”, e que este seria o seu “dilema” e “compromisso”.
O brasileiro ainda diz que o “Brasil aos poucos vai se encontrando, e aos poucos a democracia vai prevalecer”, e que espera que daqui quatro anos possa ser entrevistado por Amanpour novamente, em um Brasil já “democrático”.