A Polícia Federal brasileira deve apurar as imagens das câmeras de segurança da Embaixada da Hungria em Brasília que registraram Jair Bolsonaro durante dois dias no local, após a Operação Tempus Veritatis autorizada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) na qual o passaporte do ex-presidente foi confiscado.
A informação foi revelada pelo jornal norte-americano The New York Times nesta segunda-feira (25/03), que divulgou circuitos do ex-presidente brasileiro entrando e saindo da representação diplomática europeia entre 12 e 14 de fevereiro.
Trata-se de exatos quatro dias após a PF, além de ter apreendido o documento de Bolsonaro, prendido dois de seus ex-assessores no âmbito da operação deflagrada em 8 de fevereiro. Os mandados expedidos pelo ministro do STF, Alexandre Moraes, na ocasião, acusavam os alvos de terem orquestrado um golpe de Estado após a derrota do ultradireitista nas eleições presidenciais de 2022, contra Luiz Inácio Lula da Silva.
As imagens sugerem, de acordo com o NYT, que o ex-mandatário permaneceu dois dias na embaixada, acompanhado por dois seguranças e recebido pelo embaixador húngaro no Brasil, Zoltán Szentgyorgyi.
Alvo de várias investigações criminais no Brasil, ao ser acolhido por uma embaixada estrangeira, em tese, Bolsonaro não pode ser preso uma vez que tais órgãos estão legalmente fora dos limites das autoridades nacionais.
Além da Operação Tempus Veritatis, tem ainda outras duas linhas de investigação que atingem diretamente Bolsonaro e seus aliados, envolvendo a fraude no cartão de vacinação durante a crise pandêmica e sobre desvio de dinheiro de presentes recebidos de chefes de Estado de outros países quando era presidente.
Ainda segundo o jornal, a permanência na embaixada indica que o “ex-presidente buscava alavancar sua amizade com um líder de extrema direita, o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, em uma tentativa de fugir da Justiça brasileira”.
O premiê húngaro esteve presente no Brasil em janeiro de 2019 para celebrar a posse de Bolsonaro. O ex-presidente brasileiro, por sua vez, também viajou para a Hungria em 2022, quando Orbán venceu as eleições de seu país.
Questionado pelo portal Metrópoles, Bolsonaro admitiu que esteve na embaixada da Hungria:
“Não vou negar que estive na embaixada sim. Não vou falar onde mais estive. Mantenho um círculo de amizade com alguns chefes de estado pelo mundo. Estão preocupados. Eu converso com eles assuntos do interesse do nosso país. E ponto final. O resto é especulação”, respondeu.
Segundo a NYT, uma fonte que falou em condição de anonimato, confirmou que a Embaixada da Hungria tinha o plano de abrigar Bolsonaro e poderia conceder “asilo político”.
Após a repercussão da reportagem na imprensa brasileira, os advogados do ex-presidente divulgaram uma nota admitindo que ele esteve na embaixada a convite para “manter contatos com autoridades do país amigo”.
Leia a íntegra da nota abaixo:
“O ex-Presidente da República, Jair Bolsonaro, passou dois dias hospedado na embaixada da Hungria em Brasília para manter contatos com autoridades do país amigo.
Como é do conhecimento público, o ex-mandatário do país mantém um bom relacionamento com o premier húngaro, com quem se encontrou recentemente na posse do presidente Javier Milei, em Buenos Aires. Nos dias em que esteve hospedado na embaixada magiar, a convite, o ex-presidente brasileiro conversou com inúmeras autoridades do país amigo atualizando os cenários políticos das duas nações.
Quaisquer outras interpretações que extrapolem as informações aqui repassadas se constituem em evidente obra ficcional, sem relação com a realidade dos fatos e são, na prática, mais um rol de fake news.”
São Paulo, 25 de março de 2024.
Atualizado às 16h02 do dia 25/03″
(*) Com Ansa e Brasil de Fato