O calor é insuportável no pátio do Aeroporto Internacional Antônio Carlos Jobim, o Galeão. Os militares se mobilizam. Em alguns minutos, vão providenciar uma demonstração das atividades do novo armazém humanitário do governo brasileiro, inaugurado no início do mês.
Uma empilhadeira espera a ordem do major brigadeiro Marco Aurélio Gonçalves Mendes, que chefia o terceiro comando aéreo regional. O motorista vai encaminhar a carga para um Hercules C-130 da Força Aérea Brasileira. São toneladas de comida para atender emergências.
“O avião tem capacidade para operar no mundo inteiro, desde que haja uma pista com comprimento mínimo de mil metros”, explica Gonçalves. Se faltar a pista, as ajudas podem ser lançadas por meio de pára-quedas. “Fizemos isso em missões na Antártica”.
Mas em geral, não é a falta de pista ou problemas do gênero que atrapalham as missões, atrasando a chegada da ajuda humanitária. São os obstáculos burocráticos. “Antes de poder despachar caixas de comida, é necessário passar por um longo processo”, explica Cleber Magalhães, inspetor-chefe da alfândega no Galeão. “As caixas tinham que chegar aqui, ser desembaraçadas, autorizadas pela Receita Federal e empacotadas de novo para ser expedidas”.
Assista ao vídeo feito pela nossa reportagem.
A situação deve mudar com a inauguração de um armazém permanente no aeroporto, que manterá um estoque de 14 toneladas de alimentos, repostas pela Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) quando necessário. “A carga já esta pronta para ser embarcada. Em seis horas, o avião tem condição de sair voando”, diz o major Gonçalves.
Bolsa Família
O Brasil passou a ter o segundo armazém humanitário de América Latina – o outro fica no Panamá. É a última etapa de uma política lançada há três anos, com a ideia de fazer do Brasil uma potência humanitária. Na década passada, o governo brasileiro já enviou ajudas pontuais para responder às demandas da comunidade internacional. Mas só em 2006, quando foi organizada a evacuação de brasileiros do Líbano durante o bombardeio israelense, as medidas começaram a ser pensadas de maneira estrutural.
“O presidente Lula decidiu que a gente precisava ter uma coordenação melhor para ter uma resposta mais rápida”, explica Milton Rondó Filho, coordenador-geral de ações internacionais de combate à fome do governo federal. Foi criado o Grupo de Trabalho Interministerial de Assistência Humanitária Internacional (GTI-AHI), integrado por 15 ministérios* e coordenado pelo Itamaraty.
Rondó ressalta a importância da experiência do programa Bolsa Família e, de maneira mais geral, do conjunto de ações chamado Fome Zero. “A transversalidade que o programa Fome Zero estabeleceu no país nos ajudou imensamente. Nos já nos conhecíamos, já sabíamos o que cada um é capaz de fazer, assim ficou mais fácil executar as operações”.
Entre as ações humanitárias recentes, o Itamaraty destaca as operações na Bolívia (fevereiro e abril 2008), quando o Brasil mandou militares em missão de busca e resgate durante a tragédia das enchentes, assim como 50 toneladas de comida e 14 de medicamentos. Em novembro 2008, o país enviou 1.500 toneladas de alimentos a Cuba, Haiti, Honduras e Jamaica, devastados por furacões. A última missão foi dedicada à Palestina: em janeiro deste ano, um avião militar levou seis toneladas de medicamentos e oito de alimentos para os refugiados da Faixa de Gaza, atacada por Israel no início do ano.
“A ação humanitária tem sido cada vez mais um instrumento da política externa brasileira”, afirma Ruy Nogueira, subsecretário de Cooperação e de Promoção Comercial do Ministério das Relações Exteriores. Junto com o trabalho dos capacetes azuis brasileiros, que comandam a missão de paz no Haiti, esta medida tem como objetivo fortalecer a reivindicação brasileira por um lugar permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas.
Em maio próximo, vai ser realizada em Santa Catarina a 2ª Conferência Latino-Americana de Ajuda Humanitária, com a participação de John Holmes, chefe da assistência humanitária da ONU.
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* Qualquer pessoa pode acessar o site do grupo para saber mais sobre a assistência humanitária internacional.
Veja mais imagens do armazém.
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