Atualizada em 21/09, às 10h46
A 77ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), que reúne líderes mundiais na cidade norte-americana de Nova York, foi inaugurada nesta terça-feira (20/09).
A abertura, como acontece desde 1955, foi realizada pelo presidente brasileiro Jair Bolsonaro, mas outros líderes latino-americanos também discursaram, como Gustavo Petro, da Colômbia, e Gabriel Boric, do Chile.
Em seu primeiro discurso como presidente colombiano na Assembleia das Nações Unidas, Petro convocou a “América Latina ferida” lutar pelo fim da guerra às drogas e “salvar a floresta” amazônica, que segundo ele, integra os “recursos que podem destinar-se mundialmente à vida”. “Nada mais hipócrita que o discurso para salvar a floresta. Senhores, a floresta é queimada enquanto vocês fazem guerras. A floresta, o pilar climático do mundo, desaparece com toda sua vida”, alertou.
M discurso completo ante las Naciones Unidas.https://t.co/RRhSSzL6P9
— Gustavo Petro (@petrogustavo) September 20, 2022
Petro realizou uma fala exigindo que o capitalismo “pare de matar a vida no planeta”, enquanto criticava a criminalização do consumo de drogas, uma pauta que defende desde a campanha eleitoral. O líder colombiano classificou a guerra contra as drogas e a luta contra a crise climática como “fracassadas” e que, seguindo com as políticas já implementadas, a democracia “também falhará”.
“Proponho a vocês, como presidente de um dos países mais belos do mundo e um dos mais sangrentos e violentos, acabar com a guerra contra as drogas e, assim, permitir que nosso povo viva em paz. Convoco vocês a salvar a selva amazônica integralmente com os recursos que podem destinar-se mundialmente à vida. Não podemos fazer nós, se vocês do norte não quiserem também”, disse.
'Voz unida na América Latina'
O presidente chileno Boric também discursou na Assembleia nesta terça-feira, no qual apontou as perspectivas de uma integração regional latino-americana, quando defendeu a necessidade uma “voz unida” na América Latina.
Segundo o líder do Chile, seu país está “disposto” a colaborar na luta por mais democracia na região, quando, de acordo com ele, ” os cidadãos estão exigindo direitos e segurança”. “Esse mundo de maior bem-estar só pode ser alcançado com maior democracia. Esse é o chamado que devemos atender. Do Chile, estamos disponíveis para colaborar nisto”, disse.
Boric também relembrou a ida de Salvador Allende à ONU, recordando que o ex-presidente, que sofreu um golpe de Estado, “falou a partir deste mesmo pódio e deu conta das importantes mudanças sociais e políticas que nosso país estava passando”.
“É inegável que o modelo de desenvolvimento que adotamos no Chile manteve uma alta concentração de riqueza, tornando-nos um dos países mais desiguais do mundo. Infelizmente, o que aconteceu no meu país não foi por acaso, mas a consequência de inúmeras histórias de dor e atraso, e mesmo não esperado, pode acontecer também em seus países”, assegurou Boric.
Intervención del Presidente @gabrielboric en la Sesión Plenaria de la Asamblea General de la @ONU_es #UNGA https://t.co/LUTA89wXoh
— Presidencia de Chile (@Presidencia_cl) September 20, 2022
O chefe de Estado do Chile também fez alusão ao recente plebiscito para reformar a Constituição chilena implantada durante a ditadura de Augusto Pinochet, que foi rejeitado pelos eleitores chilenos no começo de setembro. Para Boric, “alguns queriam ver os resultados do plebiscito como uma derrota para o governo”, no entanto, o presidente afirmou que um governo “nunca pode se sentir derrotado quando o povo se manifesta”.
Twitter/Presidencia Chile
77ª Assembleia Geral da ONU foi inaugurada nesta terça-feira e ainda aguarda discursos de presidentes da Bolívia, Peru e Argentina
Ainda durante o discurso, o presidente do país vizinho falou sobre o contexto internacional, mencionando o impacto da guerra na Ucrânia na economia mundial e o conflito econômico entre Estados Unidos e China, finalizando sua fala convidando todos os países a trabalharem para “fortalecer a democracia”, exigindo uma ONU “modernizada” em que todos tenham os mesmos objetivos.
'Discussão séria sobre multipolaridade'
Como a primeira mulher a representar Honduras nas Nações Unidas, a presidente Xiomara Castro destacou a necessidade de se falar “seriamente sobre a multipolaridade no mundo”.
“É hora de começar a discutir seriamente a multipolaridade do mundo. Esta ordem mundial arbitrária em que existem países de terceira e quarta categoria é inaceitável para nós, enquanto aqueles que pensam que são civilizados começam guerras, especulações financeiras e nos crucificam com sua inflação repetidamente”, disse a líder após se referir à fraude eleitoral que mergulhou seu país em uma ditadura que durou mais de uma década, e aos contínuos ataques contra países soberanos, como Cuba e Venezuela.
Castro também destacou que “países pobres não aguentam mais sofrer golpes de Estado”, lembrando múltiplas tentativas contra seu governo democraticamente eleito de impedir mudanças em favor do cumprimento da vontade do povo.
Rechaço à ingerências
Pela Bolívia, o presidente Luis Arce realizou um discurso contra o sistema capitalista, defendendo que a crise do capital coloca “em risco a humanidade e o planeta”.
Segundo ele, é necessário que seja identificado a origem de um sistema que somente exclui as “grandes maiorias” e que “prioriza a reprodução do capital, antes da reprodução da vida”.
“Nosso país possui a maior reserva de lítio do mundo e assumimos isso com muita responsabilidade, garantido que seu uso beneficie a maioria da sociedade. Ratificamos a soberania sobre nossos recursos naturais e apropriação soberana do excedente econômico para ser distribuído para o povo. Rechaçamos qualquer tentativa de ingerência”, disse.
Assim como a mandatária hondurenha, Arce também defendeu o fim dos bloqueio econômico contra Cuba, afirmando ser “inaceitável que ainda se apliquem medidas coercitivas unilaterais para tentar derrubar governos democraticamente eleitos”.
Condenação à violência política
Por parte da Argentina, Fernández abriu sua fala recordando o atentado que a vice-presidente do país, Cristina Kirchner, sofreu no começo de setembro.
Ao citar o período de redemocratização e o final da ditadura militar no país, Fernández condenou a violência política e o terrorismo de Estado, afirmando que a “violência fascista que se disfarça de republicanismo não conseguirá mudar esse amplo consenso que tem a adesão da sociedade argentina”.
O mandatário argentino também se solidarizou com Cuba e Venezuela, pedindo o fim do bloqueio e apontando que “as únicas sanções legítimas são aquelas impostas pelo Conselho de Segurança da ONU em matéria da manutenção da paz e da segurança”.
Por fim, Fernández falou sobre a soberania do país em relação às Ilhas Malvinas, defendendo que o Reino Unido “persiste em sua atitude de não escutar o chamado para restaurar as negociações sobre a disputa territorial”.
(*) Com Telesur.