O 20º aniversário do massacre da Praça da Paz Celestial se completou hoje (4) em meio a fortes medidas de segurança no local da tragédia, onde a mobilização de policiais à paisana impediu os jornalistas de gravar vídeos ou tirar fotos, enquanto ONGs denunciaram esforços de apagar a lembrança do incidente.
Calcula-se que entre 400 e 2 mil estudantes e outros manifestantes que os apoiavam morreram na noite de 3 para 4 de junho de 1989, quando o Exército de Libertação Popular, por ordem do governo chinês, saiu às ruas de Pequim para acabar com sete semanas de protestos.
O massacre, ordenado pelas facções mais conservadoras do Partido Comunista da China, pontuou o final da Primavera de Pequim, movimento democrático e contra a corrupção governamental reinante que teve apoio de milhões de pessoas em toda a China. O país asiático nunca informou o número exato de mortos.
Fotos, não
Policiais não uniformizados, “armados” com guarda-chuvas, ficaram na frente de cada fotógrafo ou câmera que tentava tirar fotos ou obter vídeos da célebre praça. Não era possível sequer obter imagens do popular retrato de Mao Tsé-tung, que milhares de turistas imortalizam todos os dias.
Policiais fiscalizam máquinas fotográficas de jornalistas, em Pequim – Oliver Weiken/EFE
A praça, fechada ontem aos visitantes, era acessível hoje para o público, mas era necessário passar por controles e análise de qualquer garrafa de bebida. Além disso, os estrangeiros tinham que mostrar o passaporte antes de chegar à praça.
Enquanto isso, o governo chinês manteve o mesmo silêncio oficial dos últimos anos e respondeu hoje, em entrevista coletiva, às perguntas relativas ao aniversário, repetindo o comunicado que utiliza ano após ano.
“Com relação ao incidente político ocorrido no final dos anos 80 do século passado, o partido e o Governo já chegaram a uma conclusão. Ao longo de 30 anos de reforma e abertura, a China foi testemunha de um progresso econômico e social”, disse o porta-voz do Ministério de Assuntos Exteriores chinês, Qin Gang.
Diante das perguntas sobre o aniversário, Qin – visivelmente incomodado – se limitou a afirmar que o governo “já respondeu a essas questões em muitas ocasiões”, e se recusou a entrar em qualquer tipo de detalhes.
Crítica aos EUA
O porta-voz criticou a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, que na véspera pediu, em comunicado, que a China liberte os presos que ainda continuam detidos por ter participado dos protestos de 1989.
Qin respondeu expressando o “forte mal-estar” de Pequim por causa das declarações de Hillary, e acusou a secretária norte-americana de lançar “acusações sem fundamento” contra a China.
ONGs e censura
Enquanto isso, diversas organizações de direitos humanos e civis denunciaram hoje os esforços de Pequim em apagar qualquer lembrança do incidente, incluindo vários abusos contra os ativistas que vivem na China.
A Human Rights in China, com sede em Hong Kong, e um dos participantes tradicionais na vigília anual (no parque Vitória da ex-colônia britânica) pelos mortos na Praça da Paz Celestial, ressaltou hoje a vigilância e a prisão domiciliar contra os dissidentes e peticionários chineses.
A Anistia Internacional denunciou também ter “recebido informações sobre graves acossamentos a ativistas de direitos humanos”, afirmou em comunicado.
Já a Repórteres Sem Fronteiras se referiu ao “blecaute informativo” aplicado “eficientemente (pelo governo) durante 20 anos”, o que levou a que “a maior parte dos jovens chineses não conheça este evento”, um bloqueio que se intensificou nos dias prévios ao aniversário.
A ausência total de menções na imprensa ou na televisão sobre o incidente dominou o dia de hoje, no qual uma anunciada concentração de familiares de vítimas prevista para ontem à noite no local onde estas morreram acabou não acontecendo.
Houve nos últimos dias um aumento da já habitual censura na internet, com bloqueio de páginas como o Twitter e o Hotmail, e um cerco a ativistas e dissidentes, diante do temor das autoridades em relação a protestos ou manifestações que não aconteceram.
Em Hong Kong, onde as leis são diferentes do resto da China, e são permitidas as menções ao incidente de 1989 e as manifestações de apoio às vítimas, ocorreram ontem e hoje atos de apoio, incluindo greves de fome, manifestações e a tradicional vigília.
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