A Concertação chilena, bloco político que reúne os partidos governistas, enfrentou até hoje quatro eleições presidenciais seguidas e ganhou todas. Foram eleitos dois presidentes cristão-democratas e dois socialistas. No entanto, às vésperas da quinta disputa, o quadro se complica.
Até agora as eleições sempre têm sido representadas por duas principais forças: a direita e a Concertação, somadas a uma alternativa figura da esquerda que não tem representação alguma no Parlamento chileno.
Mas diante de um déficit de representação, o ex-presidente do Chile e candidato oficialista, Eduardo Frei e dirigentes da esquerda extraparlamentar, conhecida também como Pacto Juntos Podemos – cuja coluna vertebral é o Partido Comunista (PC) e o Esquerda Cristã (IC) –, fecharam um acordo histórico contra a exclusão.
A negociação entre a Concertação e a esquerda extraparlamentar pretende consolidar dois princípios. O primeiro, é o de assegurar a chegada de representantes do PC ao Congresso, inédita desde a recuperação da democracia no Chile. O segundo também busca manter as duas representações que o oficialismo conquistou nas últimas eleições.
Eduardo Frei qualificou esse pacto como um acordo “histórico”, enquanto o candidato da esquerda, Jorge Arrate, ressaltou que, apesar das diferenças que existem entre ambas as candidaturas presidenciais, há uma convergência em torno de um objetivo único, que é favorecer o Chile.
Leia também:
Jovem candidato sobe nas pesquisas no Chile prometendo renovação
Crise mundial e corrupção esquentam a campanha eleitoral chilena
Aliado de Pinochet gera polêmica no comando do Senado chileno
Reação da oposição
Segundo representantes da campanha presidencial de Sebastián Piñera – candidato da coligação de direita (UDI-RN) –, o único objetivo deste pacto é fazer com que Frei chegue ao segundo turno.
“Nunca o país havia sido testemunha de uma situação em que a Concertação tivesse que recorrer aos votos do PC, não apenas para ganhar a eleição, mas para conseguir chegar ao segundo turno, em uma tentativa desesperada de fornecer respiração artificial a uma candidatura que está espirrando água para todos os lados”, disse o advogado Rodrigo Hinzpeter, assessor da campanha de Piñera.
Efeitos do acordo
O acordo não trouxe todos os resultados esperados. O Partido Humanista decidiu retirar-se das negociações, incomodado com a demora no distrito de onde tentava levar um candidato, embora a Concertação e o Juntos Podemos tivessem dado um sinal para deixar as portas abertas.
O deputado ex-PS e candidato presidencial, Marco Enríquez-Ominami, sustenta que este acordo inclui uns e exclui outros, em uma clara referência à marginalização do Partido Humanista das negociações parlamentares.
O cientista político Manuel Antonio Garretón, afirma que “não haverá um impacto negativo” por conta do pacto que assinaram a Concertação e o Partido Comunista para as próximas eleições parlamentares.
“Os que votam pela aliança de governo vão continuar fazendo como antes. E o farão porque querem estar em uma maioria. Ou seja, entenderão que o objetivo é aumentar a votação de outros setores democráticos. É uma eleição anti-direitista por natureza”, afirmou Garretón.
Segundo o analista Guillermo Holzman, com a negociação “ganha mais a esquerda extraparlamentar chilena, especialmente o PC, que consegue atingir um objetivo estratégico prioritário. Não é o mesmo para a Concertação, que consegue um bom negócio eleitoral, mas que pode ter problemas políticos”.
Mas além do pacto, a ideia do oficialismo é contar com o apoio da esquerda extraparlamentar para um eventual segundo turno, dado a pequena ascensão que tem tido a figura de Frei.
NULL
NULL
NULL