O Partido Conservador britânico inicia nesta sexta-feira (21/10) uma campanha para definir o sucessor da primeira-ministra demissionária Liz Truss, que anunciou sua renúncia nesta quinta-feira (20/10). Mas, para Aurélien Antoine, especialista em instituições britânicas, os tories deveriam convocar, rapidamente, novas eleições legislativas, que provavelmente resultariam no retorno do Partido Trabalhista ao poder.
Liz Truss passou apenas 44 dias no cargo e admitiu que não pôde “cumprir o mandato” após abandonar seu polêmico pacote fiscal, que previa cortes de impostos e gerou revolta entre os deputados conservadores. Ela sucedeu Boris Johnson em 6 de setembro, após uma campanha de várias semanas contra o ex-ministro das Finanças, Rishi Sunak, e prometeu reformas para diminuir o custo de vida no país.
Sunak havia alertado para as consequências do plano fiscal de Truss e agora passou a ser considerado um dos favoritos para assumir o cargo de chefe de Governo. O retorno de Boris Johnson também não foi descartado, apesar dos escândalos que marcaram seu mandato e de sua baixa popularidade.
Para Aurélien Antoine, professor de Direito Público na universidade Jean Monnet, em Saint Étienne, no sudeste da França, o desgaste do Partido Conservador mostra que é hora de aceitar uma provável derrota nas urnas, caso haja novas eleições e o provável retorno dos Trabalhistas ao poder.
“Há uma sucessão de ministros das Finanças e de premiês desde o Brexit, em 2016. Eu me questiono como o Partido Conservador vai se manter no poder até as próximas eleições legislativas”, disse em entrevista à RFI. “Alguém honesto e corajoso diria: vamos perguntar aos eleitores. É provável que sejamos derrotados nas eleições, mas temos que admitir que falhamos e não temos mais capacidade de governar e é preciso aceitar a alternância”, completa. “Mas se alguém faz isso, pode ser considerado ou um grande personagem político por alguns, ou um “suicida” para outros,” observa. Em 15 anos, o país teve cinco primeiros-ministros – apenas Gordon Brown (2007 – 2010) pertencia ao Partido Trabalhista.
Twitter/Liz Truss
Liz Truss, primeira-ministra do Reino Unido, que anunciou sua renúncia nesta quinta-feira (20/10)
“Reino Unido não pode ser cobaia dos conservadores”
Segundo ele, é difícil imaginar que a situação atual, instável, possa durar até a data das próximas eleições legislativas, previstas para janeiro de 2025, sem consequências “trágicas”, do ponto de vista econômico e político. Isso enfraqueceria ainda mais o Parlamento. “Se os conservadores querem preservar as instituições deveriam aceitar o veredito das urnas”, diz o especialista francês.
O Partido Trabalhista e outras formações da oposição afirmam que os conservadores estão menosprezando o eleitorado. O líder trabalhista, Keir Starmer, pediu eleições gerais antecipadas, dois anos antes do previsto, e afirmou que o “Reino Unido “não pode ser cobaia dos conservadores”. “Esta não é apenas uma novela do partido ‘tory’. Está provocando um enorme dano ao nosso país e no bolso das pessoas”, disse. O país registra, atualmente, uma inflação de mais de 10%.
Os conservadores, entretanto, não parecem dispostos a convocar novas eleições e devem anunciar o sucessor de Truss em 28 de outubro. A imprensa britânica não descarta um possível duelo entre Boris Johnson e Sunak. O novo ministro das Finanças, Jeremy Hunt, descartou uma candidatura e o ex-ministro Tim Loughton, pediu a Sunak, Mordaunt, Hunt e Wallace um acordo para uma candidatura de unidade para que o partido “volte a um certo nível de normalidade”.
Duas votações
Outras candidaturas podem incluir representantes da ala mais à direita do partido, como Suella Braverman, cuja renúncia como ministra do Interior, na quarta-feira, precipitou a queda de Truss. Os candidatos precisam obter o apoio de pelo menos 100 parlamentares conservadores até 14H00 (10H00 de Brasília) de segunda-feira, o que limita a disputa ao máximo de três nomes, já que a Câmara dos Comuns tem apenas 357 conservadores.
Os representantes definirão o líder conservador em duas votações: a primeira reduzirá a disputa a duas candidaturas e a segunda servirá como “indicação” aos membros do partido sobre a opção preferida dos deputados. Então, exceto se os parlamentares apoiarem apenas um nome, serão os filiados do Partido Conservador que definirão a questão em uma votação virtual na próxima semana.