Agência Efe
Depois de anos de paralisação, as negociações do Irã sobre seu programa nuclear com representantes da diplomacia europeia, além de EUA, Rússia e China, foram retomadas durante dois dias desta semana e, apesar de não terem gerado acordos, marcaram um claro ponto de “virada”. A Alta Representante da UE (União Europeia) para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança, Catherine Ashton as descreveu como “as conversas mais detalhadas da história” nesta quarta-feira (16/10).
[Ashton durante a entrevista coletiva após as conversas com o Irã]
Catherine Ashton e o ministro das Relações Exteriores do Irã, Javad Zarif, divulgaram uma declaração conjunta na qual chamam as negociações de “substanciais e progressistas”. Segundo a declaração, o governo iraniano apresentou as bases de um plano que está sendo “cuidadosamente considerado pelo E3+3 [grupo que inclui Rússia, China, EUA, Inglaterra, França e Alemanha, também chamado de P5+1] como uma contribuição importante”.
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“Os participantes também lembraram que os especialistas nucleares, científicos e de sanções do E3+3 e do Irã se encontrarão antes da próxima reunião para abordar as diferenças e desenvolver medidas práticas”, o comunicado continua. A próxima roda de negociações entre o Irã e o P5+1 deve ocorrer nos dias 07 e 08 de novembro.
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Em entrevista coletiva após o fim das conversas, Zarif afirmou esperar que as negociações levassem ao “início de uma nova fase em nossas relações” e ajudassem a resolver “uma crise desnecessária”. As partes concordaram em não divulgar o conteúdo das discussões, que ocorreram em Genebra, na Suíça.
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Reações
Os Estados Unidos descreveram as conversas como as mais sérias e sinceras até hoje. Uma autoridade que não quis se identificar disse à Reuters: “Estou fazendo isso há dois anos e nunca tinha visto negociações com o Irã tão intensas, detalhadas, francas e sinceras”.
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O porta-voz da Casa Branca, Jay Carney, confirmou as declarações, dizendo que a proposta apresentada pelo Irã mostrou “um nível de seriedade e substância que nunca tínhamos visto antes”. Ainda assim, ele afirmou que “ninguém deveria esperar um grande avanço da noite para o dia”.
O ministro das Relações Exteriores do Reino Unido, William Hague, comemorou o fato de que “diplomatas, pela primeira vez, começaram conversas mais substanciais com o Irã”. Ele disse ainda que o país “vai precisar dar os primeiros passos necessários em seu programa [nuclear] e estamos prontos para tomar medidas proporcionais em troca”.
Nem todas as reações foram tão positivas, entretanto. A França se mostrou mais cautelosa ao falar das negociações e de suas potenciais consequências. “Estamos esperando por mudanças significativas”, afirmou o chanceler Laurent Fabius. “É cedo demais para chegar a conclusões. A França não vai misturar aparências com a realidade”.
A Rússia apresentou respostas heterogêneas. Segundo a agência de notícias russa Interfax, o vice-ministro de Relações Exteriores, Sergei Ryabkov, disse que “não há razão para aplaudir; as coisas podiam ter funcionado melhor”. Já o titular do cargo, Alexander Lukashevich, declarou que “não subestimaria a importância dessa rodada de conversas”.
“Na nossa visão, ainda que tenha sido difícil, foi bastante promissor”, acrescentou Lukashevich, segundo a Reuters. As propostas do Irã “poderiam mover o processo de negociação para frente e são evidências da intenção iraniana de… Resolver as questões que são a preocupação dos seis países”.
A China, por sua vez, adotou uma postura diplomática baseada no diálogo. Hoje, a porta-voz do Ministério de Relações Exteriores, Hua Chunying, disse que seu país espera “que todas as partes possam ter uma atitude flexível e pragmática para acomodar os interesses de cada um e ter negociações substanciais a fim de alcançar o progresso em uma data próxima”.
Ela afirmou ainda que Pequim “sempre sustentou que uma solução baseada no diálogo e na negociação é do interesse de todas as partes. A nova rodada de conversas com o Irã criou novas oportunidades a esse respeito”.
Muito da tentativa do Irã de reestabelecer relações com os países do Ocidente, em especial os Estados Unidos, vem sido atribuído ao novo presidente, Hassan Rouhani, sucessor de Mahmoud Ahmadinejad. Rouhani assegurou diversas vezes que seu país não tem pretensão de produzir armas nucleares, o que seria, inclusive, contra a lei islâmica e, no último mês, conversou por telefone com o presidente dos EUA, Barack Obama. Foi a primeira vez em 30 anos que líderes dos dois países se falavam diretamente.