A Coreia do Norte lançou o foguete de longo alcance que deu tanto o que falar nas últimas semanas. Os radares japoneses, sul-coreanos e russos confirmaram que o projétil foi lançado da base norte-coreana de Musudan-ri, no litoral nordeste do país, seguindo a trajetória prevista, e atravessou o Japão sem ser interceptado e sem causar danos. A Rússia e a Coreia do Sul afirmaram que o míssil tinha um satélite, como tinha anunciado a Coreia do Norte.
Segundo a agência norte-coreana KCNA, o lançamento ocorreu às 11h20 (23h20 de ontem em Brasília) – Japão e Coreia do Sul dizem que foi dez minutos depois – e durou 9 minutos e dois segundos, até que o foguete conseguiu colocar em órbita o satélite de comunicações Kwangmyongsong-2. Seul não confirmou se o satélite chegou à órbita.
O presidente sul-coreano, Lee Myung-bak, reuniu-se com o Conselho de Segurança Nacional para responder à “provocação” norte-coreana, criticada por ser mais um passo no desenvolvimento de seu programa de mísseis de longo alcance.
A Coreia do Norte, em comunicado oficial, afirmou que conta com o apoio de aliados para desenvolver seu programa espacial com fins pacíficos, e que é uma importante conquista científica para o país, quatro dias antes de o presidente Kim Jong-il assumir o terceiro mandato.
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O Japão, que estava em alerta desde ontem, quando começou a margem de cinco dias programada por Pyongyang para lançar o foguete, não interceptou o projétil, como tinha advertido. Segundo Tóquio, o foguete cruzou o país após ter se desacoplado de sua primeira fase no Mar do Japão e foi detectado pela última vez no Oceano Pacífico, a 2,1 mil quilômetros do litoral japonês, onde caiu a segunda fase.
A Coreia do Sul reconheceu que tratava-se de um “veículo espacial”, e não de um míssil militar. No entanto, a imprensa sul-coreana afirma que o desenvolvimento de foguetes da Coreia do Norte obteve um grande progresso, já que conseguiu superar o alcance de tentativas anteriores.
A Coreia do Sul não cancelará os projetos de cooperação intercoreana previstos anteriormente, mas colocou todos os efetivos militares em alerta máximo, especialmente perto da fronteira com a Coreia do Norte.
Nações Unidas
Estados Unidos, Japão e Coreia do Sul criticaram o lançamento, por supostamente ajudar o regime comunista no desenvolvimento de mísseis de longo alcance e, portanto, representar uma violação da resolução 1.718 do Conselho de Segurança das Nações Unidas – que foi aprovada após teste nuclear realizado
pela Coreia do Norte em outubro de 2006 e prevê a suspensão das
atividades norte-coreanas relacionadas a seu programa de mísseis.
Os três países se mostraram de acordo em convocar de maneira urgente o Conselho de Segurança da ONU, a pedido do Japão, para impor sanções. Os três aliados também concordaram em qualificar de “provocação” o ato da Coreia do Norte, enquanto a China, principal aliada de Pyongyang, pediu “calma” na reação a este lançamento.
Segundo a agência de notícias japonesa Kyodo, o governo do Japão qualificou o lançamento de “lamentável” e confirmou que o foguete passou por cima do seu território, mas “não foi necessário interceptá-lo”, como tinha ameaçado anteriormente.
O Conselho de Segurança se reuniu hoje mesmo, sem
chegar a um consenso sobre qual ação será tomada. O presidente rotativo do órgão, o embaixador do México perante
a ONU, Claude Heller, indicou que as
consultas entre os países “seguirão e o Conselho voltará a se reunir
no momento adequado”.
Apesar de a maioria dos membros ter concordado em
considerar o lançamento do foguete como uma ameaça à estabilidade
regional, os países não chegaram a um acordo.
Obama
Numa declaração escrita divulgada em Praga, República Tcheca, onde se encontra para uma reunião com os líderes da União Europeia, o presidente Barack Obama classificou o lançamento como “provocação” e “uma violação de resoluções das Nações Unidas”.
Numa conversa telefônica desde Washington com jornalistas, o porta-voz do Departamento de Estado, Fred Lash, acrescentou: “O lançamento é visto pelos Estados Unidos como uma provocação. Nos próximos dias, vamos tomar ações para mostrar à Coreia do Norte que não pode ameaçar outros países na região”.
Nas últimas semanas, Japão e Estados Unidos tentaram convencer a Coreia do Norte a não lançar o foguete, alegando que poderia representar o início da construção de um arsenal de mísseis, capazes de transportar armas atômicas e assim alterar o equilíbrio nuclear da região. Os dois países realizaram inclusive uma mobilização militar na região.
A Coreia do Norte sempre argumentou que o objetivo era lançar um satélite, e não testar um míssil com capacidade nuclear e de longo alcance. Mas tanto os Estados Unidos como o Japão sempre se opuseram porque consideram que, no caso norte-coreano, não há diferença entre um e outro, porque o foguete de lançamento é o mesmo, ou seja, o Taepodong-2.
No início da era espacial, no princípio dos anos 60 do século passado, tanto os Estados Unidos quanto a União Soviética usaram como plataformas de lançamento de ogivas nucleares foguetes desenhados inicialmente para colocar satélites civis no espaço.
(Com informações do correspondente nos EUA, Rui Ferreira; reportagem atualizada às 21h40)
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