Auschwitz grita por socorro. Mas desta vez, o apelo é pela “saúde” do Memorial e Museu Auschwitz-Birkenau, que corre o risco de desaparecer dentro de alguns anos. Criado em 1947 pelo governo polonês para ser “um documento histórico”, uma prova dos crimes cometidos pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial, o local precisa de reformas urgentes, mas não tem dinheiro.
Um estudo feito por especialistas revela que o museu necessita de 60 milhões de euros para que todas as reformas e serviços de conservação sejam feitos nos próximos 20 anos. E mais 60 milhões para os 20 anos seguintes. Para isso, em janeiro deste ano, o Conselho Internacional de Auschwitz criou a Fundação Auschwitz-Birkenau, para arrecadar esse valor nos próximos anos.
Em entrevista ao Opera Mundi, Jacek Kastelianec, responsável pela arrecadação, contou que atualmente o museu, que não cobra entrada dos visitantes, sobrevive com seis milhões de euros ao ano. Mas esse dinheiro é gasto praticamente todo em pagamento de pessoal, contas de luz, água etc. “Todos os anos, nós recebemos aproximadamente três milhões de euros do Ministério da Cultura da Polônia e outros três milhões são arrecadados pelo próprio museu, através da livraria, do guia de áudio, da ajuda de visitantes ou de pessoas que fazem doações pelo nosso site. Mas apenas 3 a 5% dos ingressos vêm de ajuda internacional”.
Por este motivo, no mês passado, o primeiro-ministro da Polônia, Donald Tusk, enviou cartas com pedido de ajuda financeira a chefes de Estado de diversos países, europeus ou não. A primeira resposta positiva chegou da Alemanha. O Ministério de Relações Exteriores vai doar um milhão de euros neste ano e já garantiu outra doação em 2010.
O problema é que essa doação não é suficiente, afirmou Kastelianec. “Nós precisamos conseguir 120 milhões de euros para que, a cada ano, apliquemos de quatro a cinco milhões em trabalhos de conservação. Temos de preservar 155 edifícios, 300 ruínas (de estruturas como câmaras de gás e crematórios, queimadas pelos alemães dias antes da invasão soviética, em 1945), além de 200 hectares de terreno. E essas construções não foram feitas para durar muito”.
Além dos edifícios, os artigos do acervo também devem ser conservados para que permaneçam exatamente como foram encontrados. Há uma infinidade de documentos da SS (Schutzstaffel, grupo paramilitar de elite nazista), como livros onde cada morte era registrada. Entre os objetos pessoais, há mais de 80 mil sapatos, 3.800 malas, 40 quilos de óculos e duas toneladas de cabelos, cortados assim que os prisioneiros chegavam e transformados em tapetes, mantas, tecidos etc.
Recentemente, dois projetos do museu receberam um prêmio de quatro milhões de euros da União Europeia, na categoria “Infra-Estrutura e Meio Ambiente”. Mas o trabalho de manutenção custa tão caro que este dinheiro será suficiente apenas para a reforma de dois edifícios em Auschwitz I e de cinco barracões de madeira de Birkenau, também conhecido como Auschwitz II.
Energia carregada
Criado em 1940 nos arredores de Oświęcim (Auschwitz), cidade polonesa anexada pela Alemanha durante o Terceiro Reich, o campo de Auschwitz deveria abrigar presos poloneses, uma vez que as prisões urbanas já não eram suficientes. Mas em menos de dois anos, o local transformou-se no maior campo de extermínio do mundo, construído para facilitar a execução de judeus, comunistas, homossexuais, ciganos, Testemunhas de Jeová e outros grupos considerados inimigos da filosofia nazi. Entre 1942 e 1944, ali foram torturados e executados mais de 1,2 milhão de cidadãos, a maioria judeus.
“Eu não acreditava que o ser humano era capaz de produzir uma máquina de morte daquele tamanho. O lugar tem uma energia muito pesada, muito carregada, conta Marcelo Marcusso, brasileiro que visitou o memorial recentemente.
Igor Rocha, outro brasileiro que visitou o museu no início deste ano, conta a primeira sensação que teve. “Quando cheguei ao memorial e vi aquela placa que diz “O trabalho liberta”, me dei conta de que tudo o que eu tinha aprendido era real. Até então, eu tinha lido livros, visto filmes, mas só quando você pisa ali, entende de fato a barbaridade que aconteceu. É muito impressionante”.
Ambos lamentam que o memorial esteja correndo perigo e temem pelas próximas gerações, que podem perder a oportunidade de conhecer um local que faz parte da história e, por este motivo, é considerado Patrimônio da Humanidade.
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